Walfrido Jorge Warde Junior

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Advogado, escritor e empreendedor. Presidente do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE)

Opinião

Reforma da Previdência mostra que Paulo Guedes é keynesiano

Um verdadeiro liberal teria simplesmente acabado com a Previdência Social e deixado cada um a cuidar de sua própria velhice

Reforma da Previdência mostra que Paulo Guedes é keynesiano
Reforma da Previdência mostra que Paulo Guedes é keynesiano
Ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de posse. Gustavo Raniere/MF Ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de posse.
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John Maynard Keynes foi um célebre economista britânico que, dentre outros feitos intelectuais que revolucionaram as políticas públicas mundo afora, contrariou os mantras liberais de não intervenção do Estado nos sistemas econômicos.

O seu pensamento atribui a atuações estatais adequadas a capacidade de corrigir falhas de mercado. É o inimigo direto, ainda que segundo uma frouxa generalização, dos economistas clássicos e liberais.

Pois bem, estou convicto de que o nosso Ministro da Economia, Paulo Guedes, ao contrário do que se pensa e do que se diz, não é um liberal da Universidade de Chicago, sua alma mater e berço do liberalismo econômico contemporâneo.

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Muito ao contrário, ouso afirmar que Guedes é keynesiano. E não o digo apenas porque ele pretende manter e aprofundar o maior programa de distribuição de renda já proposto neste País, o Bolsa Família, para cogitar até mesmo uma espécie de 13º salário para os pobres do Brasil.

A minha proposição tem como argumento de autoridade a Reforma da Previdência.

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A proposta equivale, para os despossuídos trabalhadores brasileiros, algo muito parecido com trabalhar a vida inteira e não ter aposentadoria, ainda que os obrigue a contribuir para um novo modelo previdenciário de capitalização.

Ora, um verdadeiro liberal teria simplesmente acabado com a Previdência Social e deixado cada um a cuidar de sua própria velhice.

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Mas não, o modelo previdenciário de Guedes responde por uma bruta intervenção estatal na economia, cujo principal impacto não é na melhoria de vida dos nossos velhos, tampouco na redução dos gastos do País.

A transição do modelo mutualístico para o de capitalização representará um grande gasto para os cofres públicos, tudo indica, justamente porque os jovens param de contribuir para o pagamento da aposentadoria dos velhos e, nesse caso, caberá ao administrador do regime mutualístico, o Estado brasileiro, cobrir esse rombo.

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Além desse impacto provável, outra consequência da reforma previdenciária é a entrega da poupança do trabalhador, ou seja, uma montanha de dinheiro, a gestores e operadores do mercado financeiro, ricos desde os 25 anos de idade, quando ainda eram imberbes.

A reforma de Guedes é a mão visível, pesada e inquieta, que promete anabolizar a indústria financeira do país e a ela submeter os destinos dos nossos velhos.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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