

Opinião
Racismo secular
O 7 de abril é um marco na história do futebol: nesse dia, cem anos atrás, o Vasco reagiu à exigência de que 12 atletas negros fossem excluídos do time


Embora tendo menos divulgação do que merecia no Rio de Janeiro, o dia 7 de abril é uma data de fundamental importância para o futebol.
Nesse dia, cem anos atrás, o Vasco deu aquela que ficaria conhecida como a “resposta histórica” contra o racismo e o preconceito social no futebol – tema hoje tão em voga.
Para quem não tem conhecimento da “Carta Histórica”, reconto aqui o episódio.
Em 1923, depois de ter sido campeão, o Vasco despertou a ira dos rivais e não demorou para os dirigentes de outros clubes passarem a investigar o Vasco.
Cabe observar que, naquele momento, o futebol fazia a transição entre o lugar de um esporte de elite para aquele de uma atividade que, aos poucos, ia passando também à profissionalização.
Vivia-se, então, o “amadorismo marrom”. O que isso significava?
Que os jogadores eram remunerados, mas sem reconhecimento oficial e muito menos direitos trabalhistas. Os salários para os atletas não estavam previstos na sociedade.
Pois bem. No ano seguinte àquele em que foi campeão, o Vasco foi comunicado de que deveria excluir da sua relação de jogadores os analfabetos e o trabalhadores em funções consideradas “menores”.
Acontece que, de acordo com as regras da Liga Metropolitana, o apelo não tinha sentido. Inconformados com o fracasso de sua tentativa de boicote ao Vasco, os adversários criaram outra entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (Amea).
E a Amea, sob a alegação de que o time era formado por atletas de profissão duvidosa, solicitou que o Vasco excluísse 12 de seus jogadores do torneio – todos eles negros.
Foi nesse momento que José Augusto Prestes escreveu a carta que entrou para a história, recusando-se a adotar a medida proposta. Essa história do Vasco, um clube pioneiro não só no futebol, merece ser do conhecimento de todos – aí incluídos aqueles que não se interessam por futebol – pela abrangência social que representa.
Hoje em dia, por aqui, está fervendo a denúncia do “dono” do Botafogo, John Textor, sobre os supostos subornos nos campeonatos dentro do Brasil.
Vamos ver até onde isso vai chegar.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teve vários altos mandatários substituídos, assim como a própria Federação Internacional do Futebol (Fifa).
No meio disso tudo ainda tivemos de ouvir, semanas atrás, Thairo Arruda, CEO do Botafogo, dizer:
– O John (Textor) gosta muito da escola europeia de treinadores, até para trazer essa mentalidade do futebol bonito europeu, toque de bola, e sair um pouco desse modo brasileiro de jogar, chutões. Ele gosta muito de posse de bola, jogo agressivo. Nacionalidade não é o mais importante. Há treinadores bons em qualquer lugar. É mais o estilo de jogo, e a gente está buscando um treinador com esse perfil.
Esta declaração ajuda a entender o comportamento da equipe do Botafogo.
Pedrinho, tornado presidente do Vasco em janeiro, declarou recentemente não concordar com o contrato entre a SAF 777 e o clube – que, na negociação, manteve-se como detentor de 30% das ações.
Botando a bola no chão, ficou definida a grande maioria dos campeões estaduais, com quase nenhuma surpresa: Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro, Ceará e Vitória foram alguns dos campeões.
No Sul do País, fui surpreendido e corrijo o engano com o hepta gaúcho pelo Grêmio.
Eu disse, na semana passada, que só o Inter do meu primeiro mestre Adãozinho havia sido hexa. E outro gaúcho, parceiro da pelada, me disse depois que o Colorado já foi “octa”.
Uma das notícias que me alegraram esta semana foi a do acesso do Esporte Clube Noroeste, de Bauru, à divisão principal do futebol de São Paulo, ao lado do Velo Clube de Rio Claro.
Ambos vão disputar o primeiro lugar e o título, mas estão garantidos na “primeirona” paulista.
O Norusca, como é apelidado o Noroeste, é muito presente em minha memória pelas tardes inesquecíveis daqueles times de camisa vermelha – o uniforme do Velo Clube também é vermelho – nos domingos de sol passados em Marília, Jaú e Bauru, onde eu ia ver os grandes jogadores daquele tempo, a começar por Pelé.
A semana nos presenteou ainda com jogos preciosos da reta final da Champions League: os empates entre Real Madrid e Manchester City, por 3 a 3, e entre Arsenal e Bayern, por 2 a 2.
Ver partidas como essas é um grande prazer para os amantes do esporte. •
Publicado na edição n° 1306 de CartaCapital, em 17 de abril de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Racismo secular’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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