Erica Malunguinho

Pernambucana, artista e educadora. Mestra em Estética e História da Arte, tornou-se a primeira deputada estadual trans eleita no Brasil, em 2018.

Opinião

Que o Dia Internacional dos Direitos Humanos seja de disrupção dos olhares viciados

O mundo ainda é o local de abrigo do racismo, da violência contra mulher dos trabalhos análogos à escravidão e da homolesbotransfobia

Foto: Nego Junior
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Pensar o comportamento humano ao longo da história pode causar graves crises existenciais. Em dias como os atuais, em que a conjuntura sociopolítica indica tendências de remontada dos valores ultraconservadores, se faz necessário voltar no tempo com um olhar crítico ao passado recente de nossa sociedade.

Um bom ponto de partida para tal jornada se dá na própria instauração do Dia Internacional dos Direitos Humanos pela ONU. Sua consumação, ocorrida em 1950, diante de um cenário pós-guerra mundial e diante de um planeta cercado de marcas coloniais, é um indicador de que pouco havia se percorrido, até então, no terreno das políticas de inclusão e equidade. A referência citada reside há pouco mais de sete décadas, ou seja, o tempo de vida de uma pessoa que acaba de entrar na terceira idade.

De lá pra cá, inegavelmente, muito foi feito pelos grupos historicamente oprimidos. Mas a conta não bate: são milhares de anos em que o ser humano foi regido por supremacias de gênero, raça, sexualidade, religião, entre tantas outras, num legado que teima em se manter por debaixo dos discursos por respeito à diversidade e inclusão.

Portanto, mais que celebração à data, que ela sirva para que seja reforçada a necessidade de luta diária por ações concretas, em todos os âmbitos, para que sejam respeitados os direitos civis, políticos e sociais de todes. Isso deve caminhar lado a lado à libertação de nossos povos quanto aos paradigmas estéticos, de orientação sexual e sobre a forma que a existência individual é traçada. A ciência comprova que que nenhuma dessas rubricas deve ser atrelada a um parâmetro de caráter e respeito ao próximo.

Por fim, num exercício de fuga às bolhas sociais, é imprescindível não se deixar cegar que o mundo ainda é o local de abrigo do racismo, da violência contra mulher (em 2021 houve um grande retrocesso no Brasil, de acordo com dados revelados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública), dos trabalhos análogos à escravidão (tanto no meio rural quanto nos conglomerados urbanos, sob o fundamento obsessivo de performance) e da homolesbotransfobia.

Que o dia 10/12, Dia Internacional dos Direitos Humanos, seja de disrupção dos olhares viciados, estagnados em suas bolhas, e que possamos refletir os avanços da sociedade no trato com o outro!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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