Jorge Picanço de Figueiredo

Professor do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ e professor efetivo do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFRJ

Opinião

Quão limpas e renováveis são as energias que chamamos de limpas e renováveis?

Muita gente muito bem intencionada é capturada pelas narrativas fortes generalizadas indevidamente

O Brasil vai produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo, projetam os especialistas – Imagem: Complexo do Pecém/GOVCE
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Transição energética tem sido o tema mais discutido na atualidade quando o assunto versa sobre questões ambientais. Transitar de matrizes energéticas não renováveis e poluidoras, ou sujas, para matrizes energéticas renováveis e não poluidoras, ou limpas, é o principal objetivo da pauta ambiental, colocada como condição sine qua non para a “sobrevivência” do planeta Terra pela maioria dos movimentos ambientalistas.

O assunto transição energética por si só merece uma discussão aprofundada, posto que no imaginário coletivo está a falsa ideia alimentada pelo uso incorreto do verbo “transitar” para se referir às mudanças de composição das matrizes energéticas mundiais. Todavia, este artigo não é para discutir o significado da chamada transição energética, mas, para transitar (para se manter no mesmo verbo) da retórica para os dados quando se fala de matrizes energéticas limpas e renováveis.

Vou apresentar alguns dados sobre cinco matrizes energéticas consideradas renováveis e limpas: hidroeletricidade, biocombustíveis, energia eólica, energia solar e hidrogênio. As conclusões ficam a cargo do leitor.

Vamos começar pela matriz energética mais importante para nós brasileiros quando se trata de geração de energia elétrica, qual seja, a hidroeletricidade. Segundo a Agencia Internacional de Energia (IEA), 62% de toda energia elétrica gerada no Brasil vem da matriz energética hídrica. Estes números são de 2020, mas não devem ter mudado desde então, posto que nenhuma nova planta entrou em operação neste período, tampouco nenhuma planta em funcionamento em 2020 deixou de funcionar em 2023. As mudanças neste período são tão somente devido a fatores naturais sazonais.

Este percentual coloca o Brasil em primeiro lugar mundial em geração de energia elétrica a partir da matriz hídrica quando a análise feita é per capita. Este dado é sempre lembrado pelas autoridades para mostrar como exemplo de que o Brasil lidera a produção de energia limpa no mundo. Isso está correto se a referência é tão somente à emissão de gases efeito estufa na atmosfera. Mas, há de se perguntar: a construção de hidrelétricas é mesmo um processo “limpo” no que se refere a questões ambientais? Quem não lembra, muito recentemente, toda polêmica ambiental envolvendo a construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu? O projeto teve que ser refeito várias vezes, mesmo assim não agradou ambientalistas. Além das questões ambientais, há as questões sociais envolvendo as populações afetadas pelas áreas alagadas. Para maiores detalhes sugiro que o/a leitor(a) procure informações no website do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

A maior parte do potencial hidrelétrico brasileiro vem de grandes usinas construídas durante a ditadura ou antes dela, quando as regulamentações ambientais eram “muito frouxas”. Certamente as novas gerações não lembram das cataratas de Sete Quedas, no rio Paraná, consideradas uma das maravilhas naturais do planeta que desapareceu sob o lago da hidrelétrica de Itaipu. O que mais desapareceu junto com ela? Lembro de uma imagem que apareceu em todos os noticiários da época mostrando um resgate de um bicho-preguiça que nadava sem rumo no meio do lago que estava enchendo. À época, isso foi usado como propaganda para mostrar como todo cuidado ambiental estava sendo tomado. Ok, suponhamos que todos os animais vertebrados tenham sido resgatados, mas, e a fauna invertebrada? Insetos, besouros, formigas, etc, etc. Quantas espécies foram extintas? E a flora? Quantos espécimes foram mortos e quantas espécies foram extintas? O conceito de bioma não inclui somente animais vertebrados e árvores. No geral a fauna invertebrada e principalmente seres de outros reinos, como bactérias e fungos, são ignorados pelos não especialistas. Nós, humanos, em geral, temos um viés preferencial por animais vertebrados: é comum termos cachorros e gatos em casa, mas matamos toda barata que aparece na nossa frente.

Ainda sobre hidrelétricas construídas durante a ditadura que hoje são louvadas como produtoras de energia limpa, existe o caso de Balbina, no Amazonas. Este sem dúvida foi o maior de todos os desastres. Um lago 10 vezes maior que o de Tucuruí para gerar apenas 10% do potencial energético desta última. Sugiro a(o) leitor(a) uma pesquisa sobre a história da hidrelétrica de Balbina. Também sugiro uma história sobre Tucuruí e a interrupção de uma via hidrográfica fundamental para as populações do rio Tocantins que acessavam Belém por via fluvial.

Outro fato que passa totalmente despercebido sobre a discussão ecológica a respeito da geração de energia hidrelétrica é a construção da barragem em si. A gigantesca carga de concreto requer gigantesco suplemento de cimento. Cimento é fabricado de uma rocha chamada calcário, cujo mineral formador, a calcita tem a seguinte fórmula CaCO3 (carbonato de cálcio), ou seja, tem carbono e este carbono é liberado na atmosfera no processo de fabricação do cimento. Uma tonelada de rocha calcária usada na fabricação de cimento libera mais carbono na atmosfera que a queima de uma tonelada de petróleo de densidade média (API entre 20 e 30). Em suma, se olharmos com cuidado, veremos que processo de geração de hidroeletricidade não é tão limpo quanto é propagandeado. Pode ser renovável, caso as fontes hídricas se mantenham estáveis, mas não existe estabilidade na natureza, tudo está sempre em constante estado de transformação. Não conseguimos perceber isso no dia a dia tão somente por causa da nossa escala de tempo de observação, quando levamos em conta apenas as observações do senso comum.

Outra matriz energética considerada limpa muito importante para o Brasil são os chamados biocombustíveis. O Brasil tem o programa de biocombustíveis mais antigo e de maior sucesso no mundo, que é a produção de etanol. Esse programa começou em meados da década de 1970, em plena ditadura militar, com o nome de Pró-álcool. Foi uma consequência das crises de produção de petróleo ocorridas naquela década as quais quintuplicaram o preço do barril (saiu do patamar de US$ 20 em 1970 para US$ 110 no final da década). À época, o Brasil importava ¾ do petróleo de que necessitava. O aumento vertiginoso do petróleo teve consequências devastadoras para a economia brasileira, tendo como subproduto o desgaste político da ditadura, posto que sepultou o chamado “milagre brasileiro” do início dos anos 1970.

A ideia por trás do Pró-álcool era “não temos petróleo, mas temos terra, podemos plantar cana-de-açúcar para produzir álcool”. Este talvez tenha sido o pontapé inicial na grande expansão da agroindústria no Brasil. Foi nessa época que surgiu o termo “boia-fria” para se referir a trabalhadores(as) sazonais que eram “empregados(as)” em condições de semiescravidão para a coleta da cana-de-açúcar. Um famoso canal de televisão chegou a retratá-los, de forma bastante romantizada e muito fora da realidade, em uma de suas novelas no final do século passado.

Atualmente, o consumo de etanol no Brasil, diretamente ou adicionado à gasolina (25% de cada litro de gasolina é na verdade de etanol), é cerca de 40% (fonte: ANP). Isso significa que quase a metade do combustível queimado nos carros da categoria passeio é biocombustível. Da mesma forma que a energia hídrica, este também é um recorde mundial quando considerado consumo per capita. Hoje, o etanol não é produzido somente a partir da cana-de-açúcar, mas também a partir do milho, que normalmente é plantado junto com a soja, mas na contrassafra. Também está crescendo bastante a produção do chamado biodiesel a partir de palmeiras oleaginosas, principalmente dendê e babaçu. Quando falamos de dendê normalmente lembramos da Bahia, mas as gigantescas plantações de dendê para a produção de biodiesel estão no sul do Pará, em áreas de florestas derrubadas e queimadas.

É comum na discussão ambiental a narrativa que considera os biocombustíveis uma matriz energética renovável e limpa. Na mesma pauta sobre questões ambientais também é consenso que o agronegócio é uma verdadeira “praga” para a natureza, posto que é o principal responsável pela destruição de biomas e todas as consequências em efeito dominó que isso causa às questões ambientais com fortes reflexos nas questões climáticas. Neste ponto há de se perguntar como podem os mesmos grupos que condenam o agronegócio louvarem os biocombustíveis? Cana-de-açúcar, milho e dendê são plantados em escala industrial para a produção de biocombustíveis pela agroindústria, que destrói biomas para produzir estas culturas. Outra pergunta pode ser feita: isso é ignorância (desconhecimento) ou má-fé?

Aumentar a produção de biocombustíveis significa inexoravelmente expandir as fronteiras da agroindústria e todas as consequências maléficas que esta traz para o meio ambiente. Além disso, onde fica a antiga e tão cara, com tantas vidas ceifadas, bandeira de luta dos movimentos de trabalhadores da terra que sempre clamoaram pela “função social da terra” como primazia para produção de alimentos? A produção de biocombustíveis é totalmente avessa à luta histórica dos trabalhadores da terra.

Sem nenhuma dúvida, uma das ideias mais geniais de marketing, para a qual devemos que tirar o chapéu, veio da agroindústria. A adição do prefixo bio ao substantivo combustível conseguiu enganar milhões de pessoas bem-intencionadas, mas mal informadas, em todo o planeta. O prefixo bio tem um peso semântico muito forte no imaginário coletivo e isso capturou corações e mentes de milhões de pessoas que não percebem o que está por trás do termo biocombustível. Outro fato importante a se saber sobre a produção de biocombustíveis, os quais de bio não têm nada, é que, mesmo que todas as áreas agricultáveis do planeta deixassem de ser usadas para a produção de alimentos e fossem usadas para a produção de combustíveis, ainda assim, estes não seriam capazes de suprir a demanda mundial por combustíveis. Dito isso, podemos até concluir que excluindo-se as variações de sazonalidades naturais os chamados biocombustíveis são renováveis, mas definitivamente não são limpos.

Além das duas matrizes energéticas consideradas limpas mais importantes no Brasil, comentadas acima, tem crescido nas últimas décadas a produção de energia elétrica a partir do vento (principalmente), a partir dos raios solares, e para o futuro há a previsão da implantação de várias plantas de produção do chamado hidrogênio verde no nordeste do Brasil. Também merecem ser comentados os carros híbridos e elétricos. Vamos a eles, porém de forma mais simplificada, pois a matéria já está muito extensa.

Começo perguntando: alguém já colocou uma lâmpada sob uma rajada de vento ou sob a radiação solar intensa e a viu acender? As energias eólicas e solares precisam ser convertidas em energia elétrica, e aí está o problema, qual seja, os recursos usados para a fabricação dos equipamentos necessários para a transformação das energias eólicas e solares em energia elétrica não são nem limpos nem renováveis. Os materiais usados na fabricação de turbinas eólicas são oriundos (cerca de 2/3) da petroquímica (poliéster, epóxi, fibra de vidro, fibra de carbono, aramidas) e (cerca de 1/3) de minerais metálicos (principalmente ferro e alumínio) e cimento. Pode até parecer irônico que sem petróleo e sem cimento (dois vilões da liberação de carbono na atmosfera) não haja produção de energia elétrica a partir do vento, mas não é. Esta é a realidade ocultada por trás da narrativa forte, mas retórica, de energia limpa e renovável.

Recentemente um portal de notícias no Brasil publicou uma matéria sobre o desequilíbrio ecológico causado pela implantação das usinas de geração de energia elétrica a partir do vento no nordeste do Brasil. O foco da matéria, com entrevistas a técnicos do ICMBio, era a mudança causada na vida das onças pardas e pintadas, as quais estão tendo seus acessos a água dificultado pela implantação das usinas. De acordo com os técnicos entrevistados, esses dois animais, já sob risco de extinção, estão com suas existências ainda mais comprometidas por causa das usinas eólicas.

Sobre a energia elétrica gerada a partir dos raios solares também deve-se perguntar: de que são feitas as placas solares? Estas são feitas de vidros considerados puríssimos. Vidros são feitos de minerais que contenham o elemento silício (Si), fundamentalmente o quartzo. O quartzo é o mineral mais comum na crosta terrestre (areias de uma maneira geral são na maior parte compostas por grãos de quartzo). Porém, não é todo quartzo que produz vidro com altíssimo grau de pureza como os necessários para a fabricação das placas solares. Para tanto, é necessária a mineração (toda mineração pressupõe processos invasivos na natureza, portanto, ecologicamente não limpos) de quartzos sem impurezas (uma matéria não renovável). Todavia, não é só isso, as placas solares usam sobre o vidro uma película de um polímero (oriundo da petroquímica, portanto, oriundo do petróleo) para reter o calor. Novamente, sem petróleo, não há geração de energia elétrica a partir da matriz solar.

Tem crescido muito a produção de energia solar para uso doméstico com placas instaladas nos telhados das residências. Eu tenho isso na minha casa, mas tenho a consciência de que a fabricação das placas requereu materiais não renováveis extraído de formas invasivas à natureza. Até quando estes materiais estarão disponíveis, posto que são bastante raros? Um outro ponto que ainda não entrou nas pautas da discussão ambiental, talvez por conveniência, mas que não poderá ser adiado por muito tempo é: os materiais usados para transformar energia eólica e solar em energia elétrica não têm vida eterna e não são biodegradáveis. O que será feito com eles, quando daqui há alguns anos, eles precisarem ser descartados? O mesmo vale para as baterias dos carros elétricos, de que falaremos mais à frente.

Aparte aos biocombustíveis, todas as outras matrizes enérgicas comentadas acima são para a produção de energia elétrica. Porém, o principal problema para a solução da queima de combustíveis fósseis é encontrar uma, ou mais, alternativa para atender aos transportes. Acima já foi comentada a limitação (relacionada à quantidade de terra agricultável) para a produção de biocombustíveis. A solução queridinha é a produção do chamado hidrogênio verde. O que é hidrogênio verde? O verde aí não é uma cor, mas um selo. Da mesma forma que alguns alimentos têm o selo de orgânicos, o hidrogênio recebe o selo de verde, para tanto ele precisa ser produzido a partir de insumos que não liberem carbono para a atmosfera. Na verdade, existe uma tolerância de 10%, ou seja, para ganhar o selo “verde” o hidrogênio tem que ser produzido por produtos e processos que permitam no máximo 10% de liberação de carbono.

A partir de que e como o hidrogênio é produzido? Duas são as fontes para a produção de hidrogênio, água e gás metano. Toda criança do ensino fundamental sabe que a fórmula da água é H2O, ou seja, para cada átomo de oxigênio há dois átomos de hidrogênio. Quando quebramos a molécula da água e capturamos os hidrogênios, liberamos o oxigênio, isso não causa nenhum dano à natureza. O processo para quebrar a molécula de água é conhecido na Química como eletrólise. Isso já é feito em escala de laboratório há décadas. O problema é transpor este processo para a escala industrial, posto que ele é um processo extremamente energívoro e deficitário na produção, ou seja, a energia gerada pelo hidrogênio produzido pelo processo da eletrólise é inferior à energia requerida para a sua produção. O déficit das plantas atuais é em torno de 20%, ou seja, para cada 100 J(Joules) de trabalho executado para a separação de hidrogênio, o trabalho executado pelo hidrogênio separado será de 80 J. Isso é economicamente inviável, porém, o capitalismo tem nuances que dão viabilidade a este processo. Vejamos.

Recentemente viralizou na internet, principalmente nas redes sociais progressistas, o recorte de uma fala da presidenta da União Européia em que ela elogia o Brasil e o governo brasileiro e diz que a União Europeia (leia-se corporações empresariais europeias) irá investir em plantas de produção de hidrogênio verde no Brasil, mas especificamente no Nordeste. Tem um detalhe no final da fala que certamente passou despercebido para a grande maioria das pessoas, mas é o detalhe que explica tudo. Ela diz que o hidrogênio produzido será enviado para a Europa para um porto na Croácia. Bingo! Isso torna os projetos de produção de hidrogênio a partir a água economicamente viáveis. Por quê? Simples, a energia na Europa é a mais cara do mundo. Custa cerca de 3 vezes o preço da energia nos países da periferia capitalista, como o Brasil. A energia na Europa é mesmo mais cara que a energia nos EUA. Sendo a energia na Europa 3 vezes mais cara que no Brasil, não há problema de se acumular um prejuízo de 20% em sua geração no Brasil, uma vez que se garantirá um lucro muito maior na sua venda na Europa, mesmo considerando todas as despesas envolvidas no transporte. Quem lucrará com venda do hidrogênio produzido no Brasil que será feita na Europa? As corporações empresariais europeias que instalarão as plantas no Brasil.

Outro detalhe importante que passou despercebido foi: por que as plantas serão instaladas no Nordeste? Já foi dito que para conseguir o selo “verde”, a produção de hidrogênio precisa ser 90% livre de liberação de carbono. Também já foi dito que a produção do hidrogênio verde (a partir da água) é extremamente energívoro. Como o Nordeste é o principal produtor de energia elétrica a partir do vento, nada melhor que usar esta energia, considerada “limpa”, posto que não há liberação de carbono (não se está levando em consideração que os materiais usados para a produção da energia elétrica a partir do vendo vêm, em grade parte, do petróleo) para a produção de hidrogênio.

Para atender à demanda das plantas de produção de hidrogênio verde no Nordeste, mais plantas de geração de energia elétrica a partir do vento serão necessárias. Quanto isso afetará o equilíbrio ecológico da caatinga ainda não foi dimensionado. No momento tudo é euforia, o Brasil será um dos maiores (senão o maior) produtor de hidrogênio verde do planeta, e o Nordeste terá um grande salto industrial com a possibilidade de geração de empregos e melhoria do nível de vida da população da região. Isso não pode ser subestimado, mas também não pode ser ocultada a realidade de que toda a produção de hidrogênio será para a exportação. É bem verdade que se estuda a possibilidade de algum uso local, mas certamente será residual. A sensação que fica é a história se repetindo como farsa e tragédia ao mesmo tempo. Parece que mais uma vez os europeus estão nos dando apitos e espelhos e levando ouro. Independente da questão econômica, também o hidrogênio verde não pode ser considerado limpo nem renovável, posto que para a sua produção necessita de uma cadeia de produtos que não são limpos nem renováveis.

Por fim, falemos dos carros híbridos e elétricos, ou seja, carros que usam baterias. O problema está exatamente aí, qual seja, bateria. O principal componente das baterias dos carros (como dos celulares) é o lítio. Noventa porcento do lítio do planeta está em apenas 3 países: Bolívia, Argentina e Chile. Não foi à toa que o principal produtor de carros elétricos do planeta, Elon Musk, contribuiu, segundo afirmação do próprio, para o golpe de Estado que aconteceu na Bolívia há poucos anos, dado pela extrema-direita do país. Como todo bem mineral, o lítio não é renovável, é raro e é retirado de um ambiente extremamente sensível (salares). A mineração de lítio é muito predatória ao ambiente dos salares, portanto, carros movidos a baterias de lítio não são limpos, muito menos pode ser considerada renovável. Da mesma forma que o silício retirado de quartzo de alta pureza, não há lítio no mundo para atender a todos os carros que circulam na atualidade. Se, em um passe de mágica, todos os carros do mundo fossem convertidos em carros elétricos neste momento, não haveria lítio para fabricar todas as baterias necessárias. Imagina quando estas precisarem ser renovadas… Adiciona-se a isso o problema do descarte das baterias. Considerando que não são biodegradáveis, onde serão descartadas?

Este artigo ficou muito longo, mas às vezes é necessária uma discussão um pouco mais aprofundada para que possamos sair das narrativas rasas, mas poderosas. Infelizmente, muita gente muito bem intencionada, mas muito mal informada, em todo o planeta, é capturada pelas narrativas fortes, vindas por meio de um discurso que usa pseudoargumentações científicas – ou mesmo verdadeiras argumentações científicas, mas de abrangência muito específica – generalizadas indevidamente. Este longo artigo é uma tentativa de abrir uma discussão aprofundada e abrangente sobre matrizes energéticas. Não podemos esquecer que no final do século XIX o petróleo foi louvado por aqueles que à época tinham alguma preocupação ambiental como a grande solução energética. De fato, só existem baleias nos oceanos por causa do petróleo. Repito, o objetivo da discussão aberta neste artigo é não nos deixar levar por narrativas fortes, mas sem fundamento, que nos levem a outros problemas no futuro, talvez mais sérios do que os que temos hoje.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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