Opinião
Qual a razão da polarização?
Talvez porque pessoas fazem fila para comer ossos, como cachorros, mas os militares recebem salários mensais de até 260 mil reais
Feriadão não combina com polarização.
Por que combinaria?
Em um país que deu isenção fiscal de um trilhão para petroleiras estrangeiras, por que polarizar?
Que entregou 75% do pré-sal – uma de nossas maiores riquezas – para as referidas empresas, em prejuízo das brasileiras e brasileiros, por que radicalizar?
Onde pessoas fazem fila para comer ossos, como cachorros, mas os militares recebem salários mensais de até 260 mil reais? Em troca de quais serviços? Guias e palmeirinhas caiadas? Por que a polarização?
Em que “o agro é pop, o agro é tudo”, mais de 50% da população está em situação de insegura alimentar. Por que isso?
Em que crianças indígenas são devoradas por dragas da mineração ilegal em suas próprias terras e em que os mineradores ilegais e assassinos são transportados em aviões da FAB para se encontrarem com o vice-presidente em palácio, qual a razão da polarização?
Em que transexuais são mais assassinados aqui do que em qualquer outra parte do globo, por que denunciar? Os 600 mil mortos do genocida?
Não, não é porque somos o país mais desigual, manipulado e injusto do mundo que vamos nos dividir! Nunca!
Isso só pode ser obra de agentes estrangeiros que querem semear a cizânia no seio da nossa sociedade harmoniosa!
Seriam argentinos, porque lá o combustível custa a metade daqui? Seriam bolivianos, que reverteram o golpe de estado em um ano e prenderam os golpistas? Ou talvez venezuelanos, que, apesar do bloqueio do império, têm 31% da população em situação de insegurança alimentar, quando aqui, no paraíso do neoliberalismo de Bozo, Guedes, Moro e Globo ultrapassam os 43%? Ou seriam nicaraguenses, que, segundo a insuspeita revista “The Economist“, deverão crescer mais de 6% neste ano, confrontados com o pífio 1% daqui, apesar das sanções dos EUA? Não, isso só pode ser obra dos cubanos, sim, sempre eles, que além de pesquisarem e fabricarem as próprias vacinas contra a Covid já vacinaram mais de 67% da população, apesar do patético, ilegítimo e ilegal bloqueio estadunidense.
Por isso e pelo feriado de uma “res” (“coisa”, em Latim) “publica”, que se tornou privada da oligarquia (em ambos os sentidos), hoje vamos tentar uma estória infantil.
Por estar a anos luz de distância do talento de Clarice Lispector e Vinícius de Moraes para criarem-nas, só me resta a paródia.
Para isso e por ser descendente de italianos, escolhi um grande, mítico autor peninsular: Carlo Collodi, criador do arquetípico Pinóquio. “Moróquio” será o nome do nosso boneco. Antes que a leitora ou o leitor deem margem à imaginação, explico a etimologia do nome: “mor” (maior, grande) e “occhio” (“olho”, em italiano). Em interpretação livre: “olho grande” ou “olho gordo”, como dizemos no interior.
Sim, Moróquio tem olho maior do que a cara, como se diz popularmente. Essa é a primeira característica comum com o títere original de Orvieto: ambos têm cara de pau. No caso do brasileiro, porém, a cabeça é oca, perfeita para o recebimento de ideias alheias, que os fantoches não as têm próprias, como todos sabemos.
Tentando-nos à aceitação das teorias de outro cidadão da Bota, Lombroso, as mandíbulas de Moróquio parecem encarnar, literalmente, seu espírito mau, de punição, castigo e dilaceramento que incorpora, a serviço de seu amo e senhor, o Tio Sam. Contra todos e todas que se oponham à exploração do império, Moróquio será o melhor e mais perfeito capitão do mato dos interesses do opressor.
Com efeito, a madeira de Moróquio não vem de nenhuma araucária milenar; ao contrário, foi talhada em lenho de má qualidade: de área devastada por queimadas do latifúndio e da mineração ilegal, vem manchada de sangue indígena.
Em comum, ambos os fantoches têm a mentira como característica definidora, sendo contumazes mentirosos. Tanto mentem, que parafraseando Fernando Pessoa, já não conseguem divisar a verdade da mentira.
Pior, se o peralvilho da Úmbria agia por si só nos engodos, o de Maringá (para dar-lhe uma naturalidade também) atua em bando, o que multiplica falsidades, patranhas e lorotas, em progressão geométrica.
Quanto mal causam os “puppets” (todos são aficionados do idioma inglês, embora nenhum deles tenha lido nenhum dos grandes escritores daquela maravilhosa língua. Só ouvem o pior de sua música, sendo coerentes em também assistir o seu cinema de qualidade inferior).
Um deles, Resperidol (que tem nome de e é xarope) vem a ser seu gatinho amestrado, fazendo todo tipo de perversidade que o autômato lhe dita.
Outro, verdadeiro Sanção de academia, procurou para si próprio 60 imóveis em uma Cidade Maravilhosa, sendo igualmente traiçoeiro e promotor de terror a quem se lhe anteponha aos desígnios maléficos.
Mas (sempre como se diz no idioma de Dante) ainda não tocamos o fundo.
No abismo, está uma delegada por ele, que acusou, prendeu e humilhou um reitor honesto, acusando-o de crime que jamais poderia ter cometido, pois anterior à própria gestão.
Como resultado daquela brutalidade, perpetrada pela, chamemos, Operação Lava Pato, o reitor suicidou-se.
Desmascarado o engodo, o bonifrate, o marreco mor, levou-a consigo para um alto cargo na capital da república, que se tornara privada (sempre em ambos os sentidos), ocultando, dessa maneira, crime e criminosa.
Chegamos ao fim dessa tristíssima história: graças à oligarquia (e seus meios de desinformação) o fantoche, que feliz andava vivendo na metrópole, em recompensa de ter lesado sua pátria e patriotas, reduzindo-os à fome, à pobreza e ao desespero, em favor de outro país e de seus capitalistas teve de voltar o bonifrate ao país que destruíra para disputar as eleições presidenciais que a oligarquia e o império, mais uma vez, tentariam manipular, utilizando-o, pois para isso já servira.
O boneco sabia que o poder estava bem longe, mas então descobriu que a alma dele não lhe pertencia – pior, nunca tivera.
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