Camilo Aggio

Professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, PhD em Comunicação e Cultura Contemporâneas

Opinião

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Quais as chances de Lula e de Jair Bolsonaro no 2º turno

De todos os lados, temos mais exageros do que razões sólidas para tanta animosidade

Foto: EVARISTO SA/AFP
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O que aconteceu nesta disputa presidencial de primeiro turno em 2022?  Trata-se da pergunta que está encucando e angustiando muitos e muitas. De todos os lados, temos mais exageros do que razões sólidas para tanta animosidade. Tentarei explicar. 

Em primeiro lugar, parece-me que houve muito menos erros dos institutos de pesquisa do que uma movimentação de votos não capturados no último dia em que esses institutos foram a campo. É preciso lembrar que as pesquisas com maior credibilidade na praça e anos de estrada percorridos acertaram, dentro da margem de erro, os votos em Lula. Do mesmo jeito que acertaram os votos em Ciro Gomes e Simone Tebet. 

Erraram os votos dados a Jair Bolsonaro porque, ao que tudo indica, segundo os mesmos dados de pesquisas eleitorais disponíveis, o candidato do PDT e a candidata do MDB perderam votos na reta final, junto com uma pequena desidratação de indecisos. Eis o segundo ponto: nós acompanhamos uma onda de manifestações pró-Lula na última semana: as pesquisas mostravam subidas graduais que aumentavam as chances de vitória no primeiro turno, análises de rede mostravam o bolsonarismo isolado e os cluster pró-Lula se adensando, personalidades públicas, celebridades e lideranças de opinião improváveis declararam votos no petista. 

O que pode não ter sido capturado foi a reação à possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno. Em português mais claro, muito provavelmente os votos bolsonaristas que estavam escondidos em Ciro Gomes e Simone Tebet, mas engatilhados com convicção para irem com o candidato do PL no segundo turno, se deslocaram precocemente já na primeira etapa da disputa. A Terceira Lei de Isaac Newton aplicada às eleições: toda ação corresponde a uma reação igual e em sentido contrário. Jair Bolsonaro cresceu por conta da reação ao risco de Lula vencer no primeiro turno. 

Essa é a minha hipótese explicativa, e admitindo que ela esteja certa,  passo para a análise de onde estamos em matéria de disputa presidencial no segundo turno. Façamos algumas contas. 

Lula venceu a disputa no primeiro turno com uma diferença de um pouco mais de 6 milhões de votos. Se as pesquisas estiverem corretas, como eu creio que estão, os votos em Lula são votos profundamente consolidados. O instituto Quaest aponta que cerca de 80% dos eleitores de Lula dizem que não mudarão de voto (Jair Bolsonaro possui média parecida) e não vimos Lula perder nem meio voto para o atual presidente apesar do uso criminoso da máquina pública para tentar reelege-lo. Algo sem precedentes na história do Brasil e que, curiosamente, não ganhou um selo mediático de escândalo. Mais um para o Inimputável da República. 

Se esse cenário desenhado estiver correto, os votos que definirão o certame no segundo turno serão aqueles que estavam alocados em Simone Tebet e Ciro Gomes: quase 8 milhões e meio de votos distribuídos assimetricamente. Simone Tebet teve quase 5 milhões, Ciro Gomes conquistou um pouco mais de 3 milhões e meio. 

A título de ilustração, para conseguir empatar com Lula, Jair Bolsonaro precisa herdar um pouco mais de ¾ (três quartos) de todos os votos que foram depositados na candidata do MDB e no candidato do PDT. Ou seja, uma tarefa hercúlea se posta diante da campanha de Jair Bolsonaro. Mas consideremos que o candidato à reeleição herde a totalidade do, aproximadamente, 1 milhão de votos depositados em Soraya Thronicke e Felipe D’Ávila. A tarefa não fica muito menos complicada. Ele ainda precisaria de 5 milhões de votos dados a Simone Tebet e a Ciro Gomes só para encostar no ex-presidente. 

Do outro lado, para além do histórico de que nunca presenciamos uma derrota de um candidato a presidente que venceu a disputa no primeiro turno, temos o fato de que, muito provavelmente, Simone Tebet e o PDT, partido de Ciro Gomes, entrem na campanha de Lula. 

Não dá para especular com precisão sobre os efeitos desses apoios, mas para se eleger mais uma vez presidente, o candidato do PT só precisa conquistar cerca de 2 milhões de votos dos 8 milhões que estiveram com Simone Tebet e Ciro Gomes. Estamos falando de ¼ (um quarto) desses votos. Jair Bolsonaro precisa de ¾ só para encostar com os votos que Lula já têm. 

Isso levaria Lula a mais de 59 milhões de votos totais e relegaria a Jair Bolsonaro o alcance potencial de cerca de 58 milhões de votos, considerando os 6 milhões de votos que restariam de Tebet e Ciro mais os cerca de 1 milhão que foram depositados em Thronicke e Felipe D’Ávila. Como veem, o desafio é bastante assimétrico para as duas campanhas concorrentes. 

Há muito trabalho pela frente para as duas candidaturas e não há nada definido, mas o cenário é esse. Façam as suas apostas. 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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