Por que a população não defendeu as empresas públicas privatizadas?

Sem participação popular, dificilmente teremos a segurança pública que queremos, a educação que desejamos ou a saúde que almejamos

Foto: Sabesp/Reprodução

Apoie Siga-nos no

“A qualidade de sua vida depende de como administra sua opinião sobre tudo o que muda e se transforma ao seu redor (o modo de ver e de julgar o que lhe acontece)” – Marco Aurélio.

O dicionário Aurélio propõe várias definições para “vagabundo”. São todas muito boas, mas talvez falte a principal: aquele que não quer trabalhar.

Nesse sentido, o administrador que abdica de administrar o que é?

O que é o governador de São Paulo, ao privatizar até um direito humano, no caso, à água?

O do Rio Grande do Sul, ao privatizar a água e a energia?

O de Brasília, que privatizou inclusive o terminal rodoviário urbano?


O prefeito de Porto Alegre, que privatizou a empresa de transporte urbano mais premiada por seus serviços?

Esses não são trabalhadores, isso é certo.

Tampouco são bons gestores, pois, ao invés de bem zelar pelo patrimônio sob sua responsabilidade, abriram mão de bens comuns, públicos, em benefício de uma exígua minoria de milionários, muitos deles estrangeiros.

Em 2024, teremos eleições municipais. Será muito importante diferenciarmos os gestores responsáveis dos vagabundos, que já sabemos quem são, quem apoiarão e quais os resultados de suas desastrosas gestões: água mais cara – quando não falta; energia ainda mais cara – e passível de cortes a cada tempestade; transporte público de pior qualidade – e muito mais caro.

Fica a pergunta: por que a população não defendeu as empresas públicas privatizadas?

Porque tampouco participou de sua gestão. Simples assim.

A mesma razão pela qual ela não impediu o golpe de 2016.

Ao lado disso, persistem as preocupações do cotidiano de um povo tão sofrido: transporte cada dia pior, salários que não acompanham as tarifas privatizadas e violência que não cessa.

Com efeito, o Brasil, em recente atlas mundial, aparece como o país com maior número de homicídios em 2023, ultrapassando os 45 mil mortos, na frente de Índia (muito mais populoso), México e EUA (também mais populoso).

Sem participação popular – nesse e em outros campos da política – dificilmente teremos a segurança pública que queremos, a educação que desejamos ou a saúde que almejamos.

Isso vale para toda e qualquer política pública, incluída a política externa.

Por exemplo: a ausência do presidente Lula na posse de Milei na presidência da Argentina se justificou pelas estúpidas ofensas proferidas pelo candidato argentino contra ele.


Entretanto, não caberia designar o vice-presidente? Como pode o Brasil almejar algum protagonismo internacional sem a Argentina?

Ainda no campo externo, muito tem-se falado sobre o referendo em que a população venezuelana manifestou o entendimento de que o Essequibo é nacional venezuelano.

Sem entrar no mérito da questão, cabe valorizar o legado que nos deixou o Barão do Rio Branco: fronteiras demarcadas com os 10 vizinhos, só perdendo uma das causas: justamente com a Guiana, então colônia inglesa.

O árbitro fora o Rei da Itália, país já então hegemonizado politicamente pelo Reino Unido (o que continua até hoje).

Foi também o único caso em que nosso advogado não fora o próprio Barão do Rio Branco, mas Joaquim Nabuco.

Em todas os demais pleitos, vencemos, pela heroicidade do Barão, que, literalmente, deu a vida pelo Brasil.

Foram dez defesas em seguida, no prazo exíguo de 20 anos, ao final dos quais, faleceu.

No território de Palmas, a Argentina reivindicava todo o planalto catarinense. Em caso de perda, teríamos ficado apenas com a planície litorânea, o que deixaria o Rio Grande do Sul unido ao Brasil apenas por um corredor litorâneo.

A integração do Acre foi igualmente dificílima: o território nunca fora português. Pior, a Bolívia o arrendara para uma “empresa” anglo-estadunidense. Coube ao Barão, por isso, negociar primeiro com os governos de ambas as potências, para, só então, iniciar negociações com a Bolívia.

Idem para a arbitragem sobre o litoral do Amapá, que a França reivindicava para a sua Guiana. Foi ter vencido essa demanda, ilegítima por parte da França, que nos colocou no Caribe, pois o limite sul do Mar do Caribe é a foz do Amazonas.

Como sabemos agora, a plataforma marítima do Amapá tem grande potencial petrolífero e, caso a França tivesse vencido, teríamos a potência colonial controlando a outra margem da foz do Amazonas e, consequentemente, toda a sua navegação.

Uma pena que o episódio do Essequibo não tenha despertado no governo e na sociedade o sentimento de agradecimento profundo por tudo que o Barão do Rio Branco fez pelo País. Perdemos, assim, mais uma oportunidade de a população se inteirar da importância de ser partícipe da política externa e de sua história – heroica, no que toca ao Barão do Rio Branco.


Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.