Opinião
Pacheco e a terceira via
Não admitir a hipótese do rompimento da polarização, no mínimo, expressa uma leitura precipitada acerca das pesquisas e da conjuntura
Ao filiar-se ao PSD, Rodrigo Pacheco entrou no jogo da sucessão presidencial. Entrou com os benfazejos da deusa Fortuna. Ele tem duas possibilidades, ambas boas, nas quais sairá ganhando. Se for candidato a presidente, mesmo que não se eleja, construirá seu nome nacionalmente e projetará liderança futura. Comenta-se que poderia vir a ser o vice de Lula. Ganharia também. Formaria uma chapa quase imbatível e aplanaria sua estrada para uma futura candidatura presidencial.
Deixemos a segunda hipótese de lado neste artigo e analisemos apenas a primeira. Assim, cabe fazer a seguinte pergunta: Rodrigo Pacheco pode viabilizar-se como um candidato competitivo da chamada terceira via e, eventualmente, passar para o segundo turno?
Para responder esta pergunta é preciso fazer outra: existe espaço para uma candidatura de centro-direita romper a polaridade Lula-Bolsonaro, deslocando o presidente para fora do segundo turno? A maioria dos políticos e analistas responde negativamente a esta indagação. No PT são poucos aqueles que emitem alertas no sentido de que esta possibilidade possa ocorrer.
O espaço político disponível é o da antipolarização, da conciliação e do discurso da união nacional
Não admitir a hipótese do rompimento da polarização, no mínimo, expressa uma leitura precipitada acerca das pesquisas e da conjuntura. As eleições não estão postas como um problema imediato de escolha para a maioria dos brasileiros. Além disso, os dois jogadores que estão efetivamente a jogar a disputa eleitoral são Lula e Bolsonaro. Os eleitores os percebem na condição de ex-presidente e de presidente como os candidatos efetivos.
Ciro Gomes faz o antijogo, coloca-se à margem da disputa. Então é natural que o grosso dos votos se distribua entre os dois contendores, que, somados, chegam a 70% das intenções de voto. Esta soma precisa ser relativizada, pois, quando outros candidatos entrarem no jogo efetivamente, ela vai cair.
O espaço eleitoral da terceira via está nos 30% restantes e na intenção de voto inflacionada de Lula e Bolsonaro. Ambos deverão cair para um patamar mais realista, quando a campanha começar. A porcentagem de queda de Bolsonaro deverá ser maior que a de Lula.
O problema da viabilidade de um candidato de centro-direita está no fato de que esse campo político deverá ter uma pulverização de candidatos que disputarão, inicialmente, cerca de um terço do eleitorado. Em sendo assim, o que determinará a viabilidade de um candidato desse campo serão dois fatores principais: a capacidade política de ocupação do espaço eleitoral disponível e o perfil mais adequado a esse espaço político. Claro, existirão outros fatores, como as alianças, o tempo de tevê etc.
O espaço político disponível é o da antipolarização, da conciliação e do discurso da união nacional. O espaço político de Bolsonaro e da extrema-direita é o da polarização, da radicalização, do anticomunismo, da defesa dos valores conservadores, do antipetismo e do antilulismo. Se Lula está praticamente garantido no segundo turno, não pode se negar a ser o anti-Bolsonaro, mas não deve ser apenas isto. Para não correr riscos, terá de assumir aspectos de um discurso de centro.
Diante desse cenário, tomem-se três candidatos do centro – Ciro Gomes, João Doria (provável) e Rodrigo Pacheco – para averiguar o perfil mais adequado para ocupar o espaço político disponível de centro-direita. Um simples olhar para os discursos e as posturas que esses candidatos apresentam parece não deixar dúvidas: é o perfil de Rodrigo Pacheco.
O presidente do Senado apresenta-se como alguém calmo, equilibrado, com retórica fluente, com discurso conciliador, de unidade e com método e atitudes de mediação e negociação. Esses atributos são os mais concernentes à ocupação do espaço político disponível, no qual uma parcela da sociedade indica exaustão com a polarização.
Ciro Gomes perdeu a condição de encarnar esse perfil. Com o atual discurso político, ele assume a polarização, principalmente contra Lula e o PT, adotando um perfil mais de direita, espaço ocupado por Bolsonaro. Se Ciro busca ser quase um anti-Lula, Doria busca ser um anti-Bolsonaro sem deixar de ser anti-Lula e anti-PT. Assim, também desbasta a condição de ser um candidato da conciliação e da união nacional.
Bolsonaro, com tantos passivos, só irá para o segundo turno se as oposições forem muito incompetentes. Para se viabilizar rumo ao segundo turno, não basta que Pacheco tenha um perfil adequado. Terá de dispor de capacidades políticas para ocupar o espaço, tornar-se conhecido, agregar força e empolgar o eleitorado. Se ele for candidato a presidente, esta é uma questão que só a campanha resolverá.
Publicado na edição nº 1181 de CartaCapital, em 28 de outubro de 2021.
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