Os jornalistas brasileiros me desculpem, mas há um debate a fazer. Depois da decisão do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas relativa ao processo judicial do ex-presidente Lula não podemos passar por cima do que aconteceu sem trocar umas palavras sobre o assunto. A verdade é que, sem a cumplicidade do jornalismo, retiradas as nobres exceções a que farei referência, o processo não teria existido da forma como existiu e, sobretudo, o embuste não teria sobrevivido tanto tempo.
Deixemos de lado as evidentes motivações políticas e as pulsões de vendetta que as lamentáveis personagens carregam consigo. Ponhamos de lado os nomes dos juízes e procuradores que deram corpo a esta obscena farsa judicial. Tudo isso existiu, é certo, e sem isso qualquer explicação para o que aconteceu será insuficiente. Mas só isso será igualmente redutor. O que desejo pôr em evidência é que todo o plano de ação se deu à volta de um crime, o crime de vazamento ilegal de informações. E isso tem a ver com o jornalismo. Como todos puderam ver ao longo do processo da Lava Jato, o vazamento de informações foi resultado de um negócio, de um comércio, de uma troca de favores entre o jornalista e a autoridade judicial: dá-me informação, ganhas elogios, dá-me audiências, ganhas uma biografia. Eis, em síntese, a entediante história da construção do mito do juiz-herói.
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