Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

O que penso disso tudo

A construção de uma frente que vença a eleição prevista para outubro impõe-se drasticamente em tempo de ameaças

Foto: Ricardo Stuckert
Apoie Siga-nos no

Abrem e fecham as janelas, começam as pré-temporadas mundo afora, saiu a tabela das quartas de final da Copa do Brasil, os jogos ficam melhores, ainda que sofríveis na parte técnica, a Seleção feminina classificada para a Copa do Mundo e Olimpíada, além das vitórias expressivas no atletismo e vôlei.

Flamengo vs. Atlético Mineiro da semana anterior foi um belo espetáculo dos torcedores, como foi a festa do Fluminense na despedida do Fred. Ainda estava atuando o primeiro jogador que, ao ser repatriado, teve um contrato de duração mais longa, como foi a solução encontrada pelos clubes para substituir o “passe”.

Tudo por aqui continuou como se nada houvesse acontecido, o profissionalismo atrasado, os jovens a sair cada vez mais cedo, até dar nos vários formatos de clubes-empresas e agora nas SAFs.

No jogo Flamengo e Atlético, foi de espantar o comportamento do clube mineiro, fora e dentro do campo. Primeiro, a história de valorizar a declaração de Gabigol, o uso equivocado da imagem do “inferno” do jogador para pressionar o adversário, recurso condenável, pois poderia instigar a violência dos torcedores, ao contrário do que apregoava. Na partida em si, foi de espantar a postura do time mineiro, que abdicou do jogo desde o primeiro minuto para defender a vantagem de um gol contra outro “time de massa”, dentro do Maracanã lotado e estimulado pela falsa malandragem do tal protesto, avaliação equivocada dentro e fora do campo.

Outro jogo que chamou atenção de todos foi o duelo de tricolores em São Paulo, que primou pela técnica, ao contrário do que vem sendo praticado e propagado aos quatro ventos. PC Caju, em sua página, chegou a dizer que os treinadores Rogério Ceni, do São Paulo, e Fernando Diniz, do Fluminense, podem salvar o futebol brasileiro, que tanto nos tem atormentado. Ao menos mostram a nossa cara verdadeira, que tem Paulo Henrique Ganso como símbolo.

De ganso para pato. Uma vez que o esporte também depende da política, como tudo até antes de nascer e começar a respirar, tenho o direito de me situar como cidadão nestes dias de mundo tumultuado.

Entre nós, a cada dia, tudo fica mais claro, embora eu não tivesse a menor ilusão desde o início do período que estamos vivendo nem os detentores do poder tivessem sequer disfarçado suas intenções.

Estamos, sim, numa intervenção. Ouvi diretamente num encontro público no Rio de Janeiro há bastante tempo Lula declarar: “Nós não imaginávamos que pudessem dar um golpe sem tanques”. Desde então, tocamos o bonde na base da resistência, como deve ser, preservando as reservas de oxigênio.

Cada vez mais fica explícita a posição assumida pelos reacionários, com todas as implicações que isso significa, partindo de não mudar nada, como fosse possível mesmo que ninguém movesse uma palha por mais absurdo que possa parecer. Um bloqueio na vida?

A situação, partindo do geral, é que no mundo acontece a disputa fundamental: países capitalistas versus socialistas. Estados Unidos e aliados versus China e aliados, num jogo empatado, como demonstra a guerra na Ucrânia.

O Brasil com seu tamanho, localização e potência econômica pode ser o fiel dessa balança, ficar numa posição de grande valor estratégico. Esse é o peso decisivo maior e por isso mais perigoso, pano de fundo do nosso momento.

Pelas mesmas razões é uma oportunidade rara para a valorização do Brasil como fiel dessa balança geopolítica. Não podemos perder a chance de promover a união dos patriotas de verdade, notadamente os militares, como os que foram determinantes na campanha “O Petróleo É Nosso”, quando os “conservadores” de então alardeavam a inexistência do recurso em terras e mares brasileiros.

A chance mostra-se especial quando temos um brasileiro genuíno com talento político e vocação excepcionais demonstrados em sua caminhada de retirante, sindicalista e político com grande experiência adquirida ao longo do tempo. Mais que isso: a capacidade de negociador demonstrada por Lula em sua trajetória atesta o caráter democrático de sua atuação, sempre no interesse da população como um todo, livre de preconceitos de todos os tipos.

A construção de uma frente que vença a eleição prevista para outubro impõe-se drasticamente em tempos de ameaças de elementos comprovadamente irresponsáveis em suas iniciativas, sem compromisso e claramente inconsequentes em suas palavras e atos. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1218 DE CARTACAPITAL, EM 27 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “O que penso disso tudo”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo