A questionável figura do “descobrimento” ilustra bem o recente destaque dado à política de segurança pública dos governos petistas baianos. Perplexa, a sociedade brasileira descobriu uma Bahia violenta, na contramão da mitologia da “baianidade nagô”. Na fauna política, o campo que se diz progressista e defensor da democracia espelhou o País racista e genocida em sua pior versão. Desfez-se a ilusão da exclusiva responsabilidade da direita pela tragédia da violência policial que aprofunda o racismo e inviabiliza a democracia. O PT da Bahia fez jus ao paradoxo apontado por Gilberto Gil: Que Deus entendeu de dar a primazia/Pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia/Primeira missa, primeiro índio abatido também.
Esta Bahia violenta, que reflete o Brasil atual e projeta um sombrio futuro, é o resultado lapidado de uma política pública implementada ao longo de quase duas décadas. Encoberta pelo monopólio sudestinocêntrico da agenda política, a Bahia vivenciou uma experiência singular de degradação da segurança pública, capitaneada pelas cinco gestões petistas que se sucederam ao conservador carlismo. Os governadores Jaques Wagner, Rui Costa e Jerônimo Rodrigues optaram pela perversa combinação da manutenção da cultura policial autoritária herdada com a adesão incondicional à falácia da “guerra às drogas”. Adotaram a estratégia de confronto e a alta letalidade como critérios de eficiência policial, a pretexto de enfrentar as organizações criminosas, em detrimento da investigação, valorização e qualificação da atividade policial judiciária.
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