Opinião

O bem deverá vencer o mal no Brasil em 2022

A comunidade internacional aguarda com ansiedade a volta do País ao concerto das Nações

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Ricardo Stuckert
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“A bondade é necessária nos relacionamentos humanos. Quem não é bom não está cumprindo sua principal obrigação.”
Leon Tolstoi.

O Natal se aproxima. Todos (ou quase) tentamos ficar melhores. O bem deverá vencer o mal no Brasil em 2022.

A comunidade internacional aguarda com ansiedade a volta do País ao concerto das Nações. A contribuição brasileira à cena internacional foi de fundamental importância para a evolução da humanidade, no período democrático. Do combate à fome ao enfrentamento do colonialismo, fomos verdadeiros campeões dos direitos humanos e sociais, em âmbito internacional.

Até mesmo em casos em que enviamos os agentes errados para operações de paz – como no Haiti, para onde mandamos o general/marechal Heleno Chilique Lexotan – o País, com sua carga de humanismo, conseguiu ser agente de desenvolvimento e pacificação.

Aliás, do Haiti vem uma das notícias mais tristes da semana: mais de 60 pessoas faleceram ao tentarem recuperar o combustível derramado por caminhão que tombara. Entre as vítimas, mulheres e crianças.

Com efeito, o país caribenho está literalmente parando, por falta de combustível que sequer consegue ser distribuído, pela ação criminosa das milícias, que dele se apropriam. É o estado mínimo em toda a sua plenitude. Quantos jornalistas brasileiros – ou parlamentares – foram até lá, para conhecerem in loco a tenebrosa experiência da ausência de estado?

Do representante do Menino Deus na Terra, o Papa, veio, na semana, a solidariedade com o Haiti e, ao lado disso, a forte condenação ao armamentismo, que ele qualificou de “escândalo”, quando quase um bilhão de pessoas vivem na miséria absoluta, como os irmãos e irmãs haitianos, tão provados pela geopolítica.

De fato, as despesas governamentais militares aumentaram no mundo, inclusive em países em que não fazem qualquer sentido (não que o façam em outros) como na terra de meus avós paternos, a Itália.

Nos Estados Unidos da América, campeão disparado em gastos militares, o ano de 2021 registrou recorde de armas apreendidas em aeroportos, dado simbólico do aumento de compras de armas por civis, a exemplo do que ocorre no Brasil, e da, inversamente proporcional, insegurança gerada à sociedade, pela insanidade do porte de armas.

Entretanto, se o mal se expande, o bem não deixa de lançar luzes e esperanças sobre as trevas, que, perante ele, recuam.

O caso do Chile é simbólico: o candidato progressista, Gabriel (o nome já combina com Natal e anúncio divino) Boric, recebeu apoios amplíssimos e diversos, como o de Lula e dos premiados economistas Thomas Pikety e Joseph Stiglitz.

Se os maus sempre se juntaram, inclusive em operações tão macabras quanto a Condor, os bons têm aprendido que as fronteiras mais dividem do que somam e que a política ou é internacional ou perece, como os golpes de estado na América Latina e Caribe tão bem demonstram.

Ao recordar tristemente a Operação Condor, que agrupou – na repressão e assassinato de políticos – as ditaduras militares do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, recomendo o excelente documentário “Levaram o Reitor”, produzido por Luís Nassif e GGN.

Trata-se de perceber como a monstruosidade dos militares das ditaduras dos anos 60, 70 e 80 se transmutou – como o fazem os vírus – em lawfare, a utilização do Judiciário com fins políticos, neste início de século. Como a repressão dos militares, a prática da perseguição judiciária está sempre a serviço dos interesses imperialistas e das oligarquias locais, com o objetivo de assassinar, prender e banir quem se interponha no caminho da dominação política e econômica das minorias, inclusive internacionais, sobre as imensas maiorias do Sul.

O filme registra, com maestria, os depoimentos do irmão, dos amigos e de colaboradores do Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, induzido ao suicídio pela Operação Lava Jato, após ser injustamente acusado de corrupção, ser preso e humilhado, sendo até mesmo impedido de reingressar na própria universidade.

Sem entendermos como o mal se transmuta para dificultar o reconhecimento de suas velhas práticas, teremos muita dificuldade em interpretarmos a atualidade, principalmente nos países periféricos aos centros do poder do Norte.

A propósito, recomendo a leitura de “O imperialismo sedutor – a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra”, de Antonio Pedro Tota (Companhia das Letras).

Sobre o serviço de “informação” (propaganda, na verdade), criado por Nelson Rockfeller, para a América Latina, Tota afirma: “Nelson acreditava que o futuro desses empreendimentos na América Latina dependia da venda não só de produtos americanos, mas também do modo de vida americano. Tinha, portanto, consciência de que o sucesso no campo econômico tornava necessária uma base sólida no campo ideológico. E, para ele, a comunicação incluía o serviço de inteligência. Em outras palavras, significava também espionagem. Não era gratuita a amizade de Nelson Rockfeller com J. Edgar Hoover, o temido chefe do FBI.”

Tota acrescenta: “Cultura e propaganda passaram a ser consideradas materiais tão estratégicos como qualquer outro produto.”

Quanto à criação do citado Escritório, explica: “No dia 16 de agosto de 1940, foi criado o Office for Coordination of Commercial and Cultural Relations between the Americas, cuja direção foi entregue ao jovem milionário…a agência mudaria o nome para The Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA), o que dá bem uma ideia do aumento da autoridade de Nelson: de escritório de coordenação passou a escritório do coordenador….composto de três divisões: Divisão Comercial e Financeira, Divisão de Comunicações e Divisão de Relações Culturais. Objetivos político-econômicos estavam na base do projeto da agência, que falava numa “hemisphere economic policy”.

Conhecer nossa produção cultural, nossa história e nossa inserção geopolítica é fazer o bem; reconhecer nossos heróis (e isso nada tem de antiquado ou piegas); preparando um novo tempo, um Natal, para o Brasil e o Mundo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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