Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

O assunto

É manjado esse papo de que, um dia, o cronista se vê diante de uma folha em branco e não consegue avançar. Pois bem, resolvi pegar um livro, abrir numa página qualquer e escrever sobre a primeira frase que encontrar

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É furado, muito manjado esse papo de que, um dia, o cronista se vê diante de uma folha em branco e não conseguir avançar no teclado, crise de criação.

Hoje não é mais folha de papel, mas uma tela de computador, que também é totalmente branca, antes dele escrever a primeira palavra.

Um dia, cinco garotos de Liverpool – Holly Johnson, Paul Rutherford, Peter Gill, Mark O’Toole e Brian Nash, criaram, numa garagem, uma banda de rock and roll, na verdade, synth-pop.

Depois dos primeiros ensaios, eles sacaram que a banda não tinha nome e precisava de um. Pensaram, pensaram, soltaram umas ideias malucas, até que um deles – não sei qual – sugeriu dar o nome da banda à primeira manchete de um jornal que vissem pela frente.

Foi quando o exemplar de um tabloide popular caiu nas mãos deles e a manchete era Frankie goes to Hollywood. O Frankie aí, era ninguém mais, ninguém menos que Frank Sinatra. E assim nasceu a banda Frankie Goes to Hollywood.

Gosto também da história de John Lydon, o Johnny Rotten dos Sex Pistols. Quando criança ainda, na sala de aula, a professora pediu a cada um que escrevesse uma composição – era assim que chamávamos texto – cujo tema era O Albatroz.

O pequeno Johnny não tinha a menor ideia do que era um albatroz,

Se era um país ou um tanque de guerra, nunca tinha ouvido falar este nome antes. Mas não pensou duas vezes. Passou a mão no lápis e escreveu um texto brilhante, sem deixar rastro de que não sabia o que era um albatroz.  A professora, que não entendeu nada, lascou um zero.

Alguns anos depois, os Sex Pistols estouraram nas paradas punks da vida com Never Mind The Bollocks e John Lydon era a estrela, ao lado de Sid Vicious.

Até aí tudo bem. Mas aquela história do albatroz não saiu da cabeça dele. Se você encontrar o disco Second Edition, que veio logo depois do Never Mind, em algum canto do mundo, vai logo ver que a primeira música do lado A, chama-se Albatross. Se a professora ouviu, não faço a menor ideia.

Esta semana, pensei em escrever a crônica a minha amiga Helena de Grammont que nos deixou depois de conviver com um Alzheimer durante mais de uma década. Achei triste falar sobre a doença, a tela continuou em branco.

Aí veio a mesma ideia dos garotos da banda Frankie Goes to Hollywood. Vou pegar o primeiro livro que estiver na pilha, em cima da minha escrivaninha, abrir em uma página qualquer e escrever sobre a primeira frase que encontrar.

E assim foi.

Passei a mão no Salvar o Fogo, do Itamar Vieira Junior, e abri na página 213: embora o tempo tivesse atravessado seus corpos de maneira implacável, eles permaneciam os mesmos.

Então resolvi escrever sobre Dona Dora Haddad, a minha primeira sogra que, mês que vem, faz 104 anos.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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