Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Nomes próprios

Será que ainda nasce uma Maria das Dores ou um Geraldo? Acho que não.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Eu me amarro em nomes. Adoro saber como as pessoas se chamam. Na salinha de espera da fisioterapia, fico olhando cada rosto e imaginando como as pessoas se chamam. Imagino e nunca acerto. Quando eu penso em Julia, chamam a Thaís, quando eu penso em Verônica, chamam a Carolina.

Outro dia, eu estava pensando se a mocinha chegasse na porta e chamasse:

Francisco Buarque de Holanda!

Silvio Santos!

Carolina Dieckmann!

Regina Casé!

Qual seria a reação das pessoas?

Nome também é moda. Quando meus filhos mais velhos eram alunos da Escola Carlitos, foi o a febre dos nomes bíblicos. O que tinha de Lucas, Matheus, Daniel, Thiago… não estava no gibi.

Os filhos dos hippies dos anos 1970 tinham nomes bem ripongas: Orvalho, Manhã, Sol, Natureza, por aí vai.

Hoje, é comum, na periferia, você encontrar a Kelly, o Wellington, o Washington, a Daiane, a Ezly Mary.

Já na Faria Lima, estão os pais do Pedro, do João, do Antônio, do José e da Maria.

Tem nomes que eram de tias. Joana, por exemplo. Só existia a Tia Joana, apelidada de tia Joaninha. Hoje não é mais assim, desde que Joana entrou na moda.

A última vez que publicaram no jornal a lista dos aprovados na Fuvest, duas páginas inteiras eram de Miguel e duas de Sofia.

Uma coisa é certa. Ninguém coloca mais o nome de Conceição na filha, nem Djalma no filho. Será que ainda nasce uma Maria das Dores ou um Geraldo? Acho que não.

Estou aqui escrevendo sobre isso porque eu sou Junior e os Juniors estão desaparecendo. Não conheço mais pai nenhum que põe o nome dele no filho. Saiu de moda o que era muito comum. Toda família tinha um Junior, em Manaus, conhecidos por Junho.

Os Netos, então, nem se fala. Eu sempre achei curioso o nome de um dos meus melhores amigos, o Geneton, que hoje não está mais aqui. Era Geneton Moraes Neto. Isso quer dizer que o avô dele chamava-se Geneton e o pai também.

É porque não existe, porque se existisse, tenho certeza de que o Geneton iria colocar o nome do filho dele de Geneton Moraes Bisneto.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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