Opinião

No Brasil das trevas de Bolsonaro, as águas chegam como sutil alento

Há 44 anos na atividade agrícola, como produtor de café que fui por 20 anos, setembro me reserva expectativas

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O que começou a dar o ar de suas graças, tímidas ainda na semana passada, foram as chuvas primaveris. Mansas e criadeiras, como as que esperamos nos campos de plantios e pastagens.

Há 44 anos na atividade agrícola, como produtor de café, que fui por 20 anos, e mascate de insumos agrícolas até hoje, o mês de setembro me reserva essa expectativa.

Elas vêm ou não? A semeadura irá atrasar? A produtividade será afetada? Se vierem muito fortes, as plantadeiras poderão entrar nos campos preparados ao plantio direto? A aplicação de tecnologias de base será efetiva? Vou atrás de financiamento para custeio?

As respostas estão sempre condicionadas por águas e meteorologistas. Hoje em dia, com tecnologias muito mais próximas da precisão do que antigamente, quando caboclos, campesinos e sertanejos tinham pouco mais do que suas intuições.

Neste momento de Brasil em trevas, embrionário refém de um governo discricionário e propenso a tirar direitos fundamentais de povo e nação, as primeiras águas chegam como um sutil alento.

Nós, dos insumos, a cadeia produtiva formada antes das porteiras das fazendas, turbinamos as redes de vendas, agrônomos, técnicos agrícolas, representantes comerciais, publicidade (para quem pode), e esperamos que os resultados acolham nosso modo de contribuir para a riqueza nacional.

A esperança nossa, pequenos e médios batalhadores da produção e do comércio, é de produtividade, boa demanda e preços compensadores. Aos gigantes, sempre sobrarão, diante de qualquer desastre, as possibilidades do câmbio e das mesas de operações financeiras. Um pé na lavoura, outro na tesouraria.

Escrevo da cidade de São Paulo, na noite do domingo que precede a entrada da primavera, sob uma chuvinha rala, mas persistente. Água para valer, prometem os profissionais do clima, apenas a partir de meados de outubro. A ver.

Já no início da semana, estarei em andanças para sentir alguma animação maior do que aquela que nos dá o Regente Insano Primeiro, em suas idas e vindas econômicas, sociais e ambientais, e que fazem do Brasil a atual vergonha do planeta.

Mas, de forma inconsequente, passemos ao que possa vir a acontecer. Simples anotações de um cronista.

Andei recentemente por lá.

Apesar da safra de café já colhida ter sido 20% menor do que a anterior (49 contra 62 milhões de sacas), característica de bienalidade negativa, para os cafeicultores a situação é de tempestade perfeita: baixos preços e menor produção.

Isso posto, já é perceptível a história de sempre. Período importante para estimular a vegetação e segurar a floração, os produtores reduzem as aplicações de tecnologia nutricional, o que certamente prejudicará a safra futura. Aí, os preços melhoram e…

Lideranças do setor no Congresso clamam por um prêmio, subsídio mesmo, na Garantia de Preços Mínimos. Um nível entre 440 reais a 480 reais, por saca de 60 kg, conforme a condição do programa. Hoje, o preço mínimo de garantia está em 360 reais e o mercado corre a 380 reais.

Governo pobrinho, focado apenas em políticas fiscais, nega a ajuda.

Opa! E como anda o Valor Bruto da Produção do ‘Celeiro Mundial’?

Dos principais produtos agropecuários, praticamente, estagnado desde 2013. Surpresos? Ano emblemático aquele, não?

Entre 2010 e 2013, o VBP cresceu 29%, ou quase 9% ao ano. Logo depois da pior crise econômica mundial (2007/8), desde 1929.

No entanto, de 2014 até o previsto pelos órgãos públicos de estatísticas agropecuárias para 2019, o crescimento foi de 2%, insignificantes 0,4% ao ano.

Vinte e um produtos são pesquisados. O VBP é calculado em base à produção física, levantada pelas estatísticas do IBGE, multiplicada pelos preços levantados no mercado para cada cultura.

Por quanto tempo?

Multiplicaremos Marielle Franco, a socióloga e vereadora pelo PSOL-RJ, e Anderson Pedro Gomes, seu motorista, assassinados em março de 2018, por milícias cariocas?

Agora, a política genocida de Wilson Witzel, governador eleito pelos cariocas e fluminenses, matou Ágatha Félix, criança de apenas 8 anos, dentro de uma kombi, baleada nas costas, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Witzel e comparsas alegam legítima defesa. O avô de Ágatha: “A arma que ela gostava de usar era lápis, caderno, redação, e nota dez”.

Inté.

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