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Às portas da Copa do Mundo, a convocação para os dois últimos amistosos provoca especulações e Tite, em entrevistas à mídia, demonstra segurança na condução dos trabalhos

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O técnico Tite. Foto: Rodrigo Buendia/AFP
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O noticiário sobre a morte da rainha da Inglaterra dominou a mídia nos últimos dias, fazendo esfumaçar a guerra da Ucrânia e até mesmo a reta final destas eleições de tamanha importância.

No campo esportivo, parece que o protocolo vai sendo seguido à moda antiga: primeiro as damas.

O campeonato brasileiro feminino chega ao término com a final entre o ­Corinthians e Internacional, do Rio Grande do Sul, que venceu o São Paulo, no Morumbi, em num jogo disputadíssimo.

Na partida destacaram-se, entre outras, a goleira Mayara, do time gaúcho, e Micaelly, do tricolor paulista.

Pois não é que, depois da partida irrepreensível, Micaelly acabou vítima da injustiça clássica do futebol? Incumbida de cobrar o pênalti decisivo foi vencida pela bela defesa da adversária.

O aperfeiçoamento do futebol feminino tem sido grande. É admirável a evolução da parte técnica das jogadoras da nossa Seleção neste curto período sob nova orientação, com foco na preparação para o Mundial e para as Olimpíadas.

Diante deste cenário, fico cada vez mais entusiasmado com a formação de times mistos – e ainda especialmente agora, que acabo de saber que, na gloriosa várzea de São Paulo, ocorrem campeonatos com esse formato. Auguri.

De modo geral, o fato mais marcante destes dias, no futebol, foi a decisão do extraordinário Willian, que o ­Corinthians havia repatriado, mas que preferiu dar meia-volta e retornar à Inglaterra.

Em princípio, ele deixou todo mundo sem entender nada. Mas, aos poucos, vai-se sabendo das razões desse fato tão intrigante. Trata-se de mais um jogador atingido pela situação absurda de indivíduos tresloucados de nossa sociedade.

Willian teve sua família ameaçada por celerados que não encontram limites no momento de desacerto que enfrentamos.

A repetição cada vez mais ­frequente de casos semelhantes foi motivo de ­comentário do excelente colunista ­José Carlos Mansur.

Ele observou, em seu blog, que se trata de um “quadro patológico de difícil reversão”. Difícil é, mas não impossível.

Dentro do campo, ocorrem manifestações desse mesmo estado emocional gerado por estes dias conturbados. Vemos nas partidas choques violentos, com consequências cada vez mais graves.

O Botafogo teve dois episódios de traumatismo craniano, com ­necessidade de cirurgia em curto espaço de tempo. Isso sem falar em outros tipos de lesões graves. É espantoso o número de jogadores mandados, ao mesmo tempo, para os departamentos médicos.

Fora do campo, vemos confrontos até mesmo de torcedores de um mesmo clube. Outro dia, manifestei meu inconformismo pedindo um basta a esse estado de coisas. Temos, neste momento, um vácuo de liderança entre os jogadores e todos os setores envolvidos no esporte.

É muito comum que os jornalistas me perguntem sobre o vazio de liderança entre os desportistas e sempre me lembro da trajetória histórica dessa situação.

Dou alguns exemplos: a sindicalização, nos tempos do memorável goleiro ­Oberdan Cattani, do Palmeiras, a Democracia Corinthiana, do saudoso Sócrates e seus companheiros, o Bom Senso do Alex e seus companheiros, e minha própria contribuição na questão do Passe Livre.

Pode ser natural um período de passagem sem um rumo definido. Mas, sem dúvida, chega um momento em que alguém se destaca, inconformado com a desorganização geral. É fundamental, em um momento como este, a responsabilidade dos dirigentes de clubes e entidades do esporte e políticas como um todo.

Mas, a despeito dessas dificuldades todas, o esporte também nos traz boas notícias – inclusive, ressaltando o seu papel social. Temos como exemplos os resultados no surfe, da Bia Souza no judô, do Alison dos Santos nos 400 metros com barreiras e o bronze promissor do vôlei masculino.

No plano internacional o mundo espanta-se com a vitória do tenista espanhol Carlos Alcaraz, que aos 19 anos torna-se o número 1 entre os melhores (ler texto de Mino Carta).

E, às portas da Copa do Mundo, a convocação para os dois últimos amistosos provoca especulações e muitas entrevistas do Tite, dando demonstração de segurança na condução dos trabalhos da comissão técnica.

Tite ressalta a relação de confiança estabelecida no transcorrer do longo tempo de preparação e dos jogos classificatórios. Em minha opinião, o fator mais determinante para a consolidação deste trabalho coletivo foi a manutenção do treinador por dois ciclos seguidos. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1226 DE CARTACAPITAL, EM 21 DE SETEMBRO DE 2022.

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