Opinião

Não vai longe o dia em que nos livraremos de Bolsonaro e suas milícias

‘É um capitão expulso do exército por ser terrorista, que a oligarquia nacional resolveu tornar presidente’, escreve Milton Rondó

Foto: EVARISTO SA / AFP
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“O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de generosidade, é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta qualidade.”
Che Guevara.

A Campanha da Fraternidade 2021, que se iniciará na próxima quarta-feira 17 será ecumênica, dialogando com todas as igrejas cristãs e não apenas com a igreja católica.

Um belo sinal de união, de amor, de comunhão, “para que todos sejam um”, como queria o Cristo.

No entanto, setores ultra (melhor seria chamá-los “ulstra”) conservadores estão atacando a iniciativa liderada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC.

Não entenderam aqueles segmentos a parábola do assassinato de Abel, por Caim. Grave erro de interpretação do livro que dizem seguir, a Bíblia.

Por outro lado, o maior diplomata da atualidade, o Papa Francisco, irá visitar o Iraque, no próximo mês de março. Em país de maioria muçulmana, xiita, Francisco, como o predecessor de Assis de quem tomou o nome, irá encontrar as principais lideranças religiosas do país, como o Pobrezinho fizera há oitocentos anos atrás, ao visitar o Sultão do Egito.

Convenhamos, o atraso na compreensão da importância do diálogo ecumênico e inter-religioso – de 800 anos – não é pequeno, até mesmo para a oligarquia nacional e seus capelães obesos.

De fato, o programa da viagem de Francisco ao Iraque prevê a visita dele ao Grão-Imã Xiita, devendo, para isso, voar especialmente à cidade onde reside aquela autoridade religiosa. Quanta generosidade desse argentino que, dessa forma, honra seu conterrâneo, o Che Guevara.

Com efeito, inspirado pela santidade, Francisco alarga os horizontes não apenas do diálogo ecumênico, mas também do inter-religioso, fazendo da diplomacia um ato de amor.

Inspirado pela cruz, com seus eixos horizontal e vertical, Francisco se move de forma horizontal, espacial, universal – defendendo os direitos humanos na Mianmar recentemente golpeada pelos militares, por exemplo; mas também de forma vertical, no tempo, reparando as cicatrizes do passado, inclusive, restabelecendo os jesuítas nas Missões, onde houvera a “terra sem males”; a república perfeita, para Voltaire e Montesquieu; a maior experiência de comunismo primitivo, segundo Rosa Luxemburgo.

Convém recordar que Sepe Tiaraju, o líder indígena que defendeu as Missões do aniquilamento por parte dos exércitos das potências coloniais de Portugal e Espanha, foi o primeiro lutador anticolonial das Américas, na metade do século XVIII, precedendo, assim, Bolívar, San Martin e Tiradentes.

Na luta, foi sacrificado, mas seu grito de guerra “esta terra tem dono” não pereceu e hoje Sepe é reconhecido como Servo de Deus pela igreja católica, sendo devida e justamente venerado.

Não é à toa que tremem as vastas sotanas dos capelães militares nacionais, bastante engordadas pelas guloseimas adquiridas com preços superfaturados e pelas vastas quantidades de uísques, conhaques e cervejas importadas, com que digerem toneladas de picanha e bacalhau, todos, como os próprios capelães, superfaturados.

A invejável facilidade intercultural dos nossos vizinhos parece ser, de fato, profundamente cultural.

Nesse sentido, vale citar mais uma vez o comandante Che Guevara: “Nasci na Argentina, não é segredo pra ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofenderem os ilustríssimos senhores latino-americanos, me sinto tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, como qualquer outro e, no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar minha vida pela libertação de qualquer um dos países latino-americanos, sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada e sem explorar ninguém.”

Paradoxalmente, na Terra de Santa Cruz, recorda-nos Donaldo Schuler, em seu livro “Império Caboclo“, editado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (aquela cujo Reitor Luiz Carlos Cancelier foi induzido ao suicídio pela Lava Jato, a extinta operação que também suicidou o Brasil), a propósito da luta contra da república contra os sem-terra, na “guerra do contestado”: “Está certo convocar o exército, arrasar vilarejos a tiro de canhão? Repete-se a tática da conquista. Em quatrocentos anos de agressão ainda não aprendemos outra. O outro tem de ser destruído. Considera-se perigosa a outra cultura. Do outro não aceitamos nada. É a luta de um sistema decrépito, a república dos coronéis, contra um novo sistema. Coronéis são todos os que estão em posição de mando, desde o Presidente da República; o sistema é coronelicio…Presidente que manda atirar em cidadãos brasileiros é coronel”.

Cabe a pergunta: aquele que atualmente permite que suas milícias se armem ainda mais o que é? É um capitão expulso do exército por ser terrorista, que a oligarquia nacional resolveu tornar presidente…Mas não vai longe o dia em que nos livraremos dele, de suas milícias e de seus coronéis, pois não há noite sem dia.

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