Josué Medeiros

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Cientista político e professor da UFRJ e do PPGCS da UFRRJ. Coordena o Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e o Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (NUDEB)

Opinião

Mulheres se opõem à barbárie de Cláudio Castro — e o balanço da operação segue em aberto

Eleitoras constituem um segmento majoritariamente refratário à violência e mais aberto a uma política de segurança pública baseada na inteligência

Mulheres se opõem à barbárie de Cláudio Castro — e o balanço da operação segue em aberto
Mulheres se opõem à barbárie de Cláudio Castro — e o balanço da operação segue em aberto
Operação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho em 28 de outubro de 2025. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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Eleições 2026

Passada uma semana da barbárie perpetrada pelo governo de Cláudio Castro no Rio de Janeiro, além da dor e do medo, há que se enfrentar o desafio de analisar os efeitos políticos do ocorrido. De lá para cá, a extrema-direita usou o evento para se reunificar e sair da defensiva. A mídia empresarial, por sua vez, vem reverberando essa visão, apresentando números de diversas pesquisas que comprovam o apoio popular à ação da PM, o fortalecimento da popularidade do governador fluminense e um governo Lula na defensiva.

De fato, a fotografia do momento é de apoio popular à “megaoperação” no Rio de Janeiro. Mas, mesmo com esse apoio, há muita água passando debaixo da ponte, indicando que as disputas políticas em torno desse tema estão mais em aberto do que supõe o debate na mídia e do que gostariam os governadores da extrema-direita, especialmente quando analisamos o recorte de gênero. Observar a diferença de posição entre mulheres e homens evidencia ainda mais as disputas simbólicas e de visão de mundo em curso no Brasil — tanto na política em geral quanto no tema da segurança em particular.

O instituto Atlas foi o único que divulgou uma pesquisa com alcance nacional. Seu campo foi realizado em 29 e 30 de outubro, imediatamente após os eventos do dia 28. Em sua amostra, as mulheres somam 48,5% e os homens, 51,5%, embora elas representem 53,6% do eleitorado e eles, 46,4%.

A Atlas mostra que 55,2% das pessoas aprovam a ação e 42,3% desaprovam. Esses números, por si, já revelam que o apoio a esse tipo de ação violenta não é tão avassalador quanto parece em um primeiro momento, indicando que há espaço para disputar uma visão alternativa de segurança pública.

Quando se observa o recorte de gênero, essa hipótese se fortalece: a maioria das mulheres desaprova a operação, com 50,2% manifestando essa posição contra 48,1% que aprovam; já entre os homens, o apoio foi de 61,9%, contra 34,3% de rejeição.

O mesmo padrão se repete em outras perguntas da Atlas:

  • Nível de violência: excessivo para 49,4% das mulheres e 42,3% dos homens; adequado para 48,6% das mulheres e 56,4% dos homens;
  • Impacto na segurança: para 45,4% das mulheres, foi negativo (27,5% de muito negativo + 17,9% de negativo), enquanto entre os homens o índice é de 23,4% (11,6% de muito negativo + 11,8% de negativo);
  • Motivações: para 49,2% das mulheres, o principal objetivo do governo estadual foi obter ganho político, ante 34,4% dos homens que manifestaram essa opinião.

O recorte de gênero também mostra as possibilidades de disputa quando o segmento pesquisado é apenas a população do Rio de Janeiro. A pesquisa Quaest, que foi a campo em 30 e 31 de outubro apenas no território fluminense e segmentou sua amostra com 53% de mulheres e 47% de homens — mais fiel ao perfil do eleitorado —, reforça esse padrão.

Segundo esse instituto, a operação teve 64% de aprovação, 27% de desaprovação e 6% de pessoas que não aprovam nem desaprovam. A aprovação cai para 51% entre as mulheres e sobe para 79% entre os homens. A desaprovação é de 36% entre as mulheres e DE apenas 17% entre os homens, com 8% delas e 4% deles que nem aprovam nem desaprovam.

Outros registros do levantamento da Quaest vão na mesma direção:

  • Balanço: 43% das mulheres consideram a operação um sucesso, ante 73% de homens que definem a ação dessa forma;
  • Sensação de segurança: a percepção de insegurança sobe para 60% entre as mulheres e cai para 44% entre os homens. A visão de maior segurança recua para 26% entre as mulheres e cresce para 45% entre os homens;
  • Motivações: 47% das mulheres percebem uma operação voltada a ganhar popularidade, contra 33% dos homens que expressam essa avaliação.

Enfim, os sentidos de uma operação com esse nível de violência e de exposição midiática e nas redes sociais continuam em aberto. Se a fotografia do momento mostra que a firmeza do governo estadual foi bem recebida, a abjeta comemoração de mortes por parte da extrema-direita tende a ser rejeitada, especialmente pelas mulheres.

Elas constituem um segmento majoritariamente refratário à violência e mais aberto a uma política de segurança pública baseada na inteligência, com foco em atingir as operações financeiras e os criminosos ricos que mais lucram com toda essa situação.

Se o governo Lula for capaz de desencadear uma operação contra as facções do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, como fez com o principal grupo criminoso de São Paulo, poderá aprofundar essa disputa política não apenas visando as eleições de 2026, mas principalmente a construção de um Brasil mais justo, solidário e seguro.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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