Meu sobrinho atropelou uma vaca

As câmaras instaladas na avenida registraram, é claro. E eu, a 500 quilômetros de distância, já tinha visto a cena, minutos depois

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Apoie Siga-nos no

A notícia chegou em segundos, logo cedo: um cara atropelou uma vaca na Avenida Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte. A avenida que ainda chamo até hoje de BR-3, porque, seguindo ela toda vida – como dizem os mineiros – vai dar no Rio de Janeiro.

Quis logo saber a história, quando fiquei sabendo que o cara que estava na moto e que bateu na vaca era meu sobrinho, o Vinicius.

Poucos minutos depois já estava sabendo que ele estava bem, a vaca também.

A história é boa: ele vinha tranquilo na sua moto pela Avenida Nossa Senhora do Carmo, uma das mais movimentadas da capital mineira, quando avistou duas vacas enormes no meio do caminho. Freou e acabou dando uma encostadinha numa terceira vaca, atrasada, que vinha atrás.

As câmaras instaladas na avenida registraram, é claro. E eu, a 500 quilômetros de distância, já tinha visto a cena, minutos depois.

Não passou meia hora, a loucura começou. Vinicius resolveu postar o vídeo pra acalmar os amigos, os parentes, os vizinhos e, principalmente, a mãe, que estava passeando numa boa na 5ª Avenida, bem longe de qualquer espécie de bovino.


Pra quê?

O telefone começou a tocar sem parar, o celular dele chegou a ficar quente. Emissoras de televisão, de rádio, gente que faz podcast, blogs, sites de notícias, todo mundo queria saber da história, queria imagens, entrevista e tudo mais.

Vinicius, um talentoso tatuador, nem conseguiu tatuar nada naquela quarta-feira. Passou o dia curtindo os seus quinze minutos de fama, respondendo mensagens, atendendo celular, nem almoçou.

Já imaginou o que é receber quinhentas mil mensagens enquanto a Branca, na cozinha, refogava o arroz?

De repente, lá em Nova York, a Vera virou a mãe do Vinicius, o Toninho virou o pai do Vinicius e se eu não ficasse quietinho aqui no meu canto, viraria o famoso tio do Vinicius.

Em vinte e quatro horas, ele sentiu o gostinho da loucura que é o mundo hoje, com suas redes sociais.

Alguém lembrou no grupo da família que, em 1970, o meu irmão, hoje tio do Vinicius, atropelou um cavalo na mesma avenida, dando perda total ao fusquinha branco que ele tinha acabado de comprar.

Mas esta é outra história, porque naquele 1970 Belo Horizonte era ainda mesmo uma roça, onde cavalos e vacas pastavam na BR3, aliás, na Avenida Nossa Senhora do Carmo.

Ah, ia me esquecendo. Sobrinho e vaca passam bem.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.