

Opinião
Mesmo derrotado, Guilherme Boulos venceu
Péssimas para Bolsonaro e ruins para o campo progressista, as eleições tiveram saldo positivo para o candidato do PSOL


Guilherme Boulos não será prefeito. Os paulistanos deram uma vitória folgada ao tucano Bruno Covas, reeleito com 59% dos votos. Mesmo derrotado, o candidato do PSOL ainda sai ganhando dessa disputa.
Esta é a segunda vez que o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) concorre a um cargo público. Antes, em 2018, foi candidato à Presidência. Teve ao todo 617 mil votos, 0,58% do total de válidos.
Agora, Boulos fez 2,1 milhões no maior colégio eleitoral do país– quase o mesmo que todos os candidatos a prefeito do PSOL no primeiro turno.
Ao longo da campanha, Boulos conseguiu explorar as contradições socioeconômicas da cidade mais rica do País. Também trouxe para o debate o passado e as controvérsias do vice de Covas, Ricardo Nunes, e o embaraço do rival em relação a Doria, seu padrinho e antecessor.
Um candidato de esquerda neófito, de um partido jovem e pequeno, conquistou 40% dos votos nas eleições da maior cidade da América Latina. Um feito.
Boulos atraiu o apoio orgânico de intelectuais, personalidades e uma militância jovem e aguerrida. Seu carisma e boa oratória superaram os boatos e estereótipos associados à atuação no movimento de moradia.
Apesar de disputar os meses votos e, posteriormente, desbancar o candidato do PT, Boulos ganhou quase que automaticamente o apoio do partido e de outras siglas de esquerda.
É por tudo que isso que as eleições municipais – péssimas para Bolsonaro e ruins para o campo progressista –, terminam bem para Boulos. A chegada, e principalmente, o caminho até o segundo turno consolidam seu potencial eleitoral.
A disputa não lhe deu a cadeira do Edifício Matarazzo com vista para o Vale do Anhangabaú. Deve haver, porém, lugar na mesa dos líderes da esquerda.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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