Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Livres para sonhar

Ainda tomados pelo clima das eleições, nos damos conta de que estamos às portas da Copa do Mundo. Que venha ela

Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
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As eleições de 2022 promoveram, em todos os sentidos, o que poderíamos definir como um “raio X” da população brasileira. wFicamos expostos de cabo a rabo, em nossas posturas e em nossas relações. Isso pode ser bom.

Vivemos um momento no qual o mundo está em convulsão. A guerra na Ucrânia é uma erupção que evidencia a polarização Ocidente-Oriente, capitalismo-socialismo. Foi também o que fizeram as eleições deste ano entre nós.

Isso tudo significa mais uma oportunidade de o nosso País conquistar a tão sonhada independência, em sintonia com um tempo de relações multilaterais de todos os países.

Sabemos o quão difícil será manter o entendimento a que chegamos depois de reiteradas tentativas e manifestações golpistas ao longo dos últimos quatro anos.

O resultado das eleições, com o segundo turno tendo sido vencido de forma apertada, não autoriza ninguém a dizer que o Brasil tem esse número de “integralistas” – como o fez o presidente Bolsonaro em seu infeliz pronunciamento.

O que se procurou enquadrar, mais de uma vez, como a direita brasileira tem um número muito mais restrito do que aquele dos eleitores vencidos das eleições. A imensa maioria dos mais de 50 milhões de eleitores de Bolsonaro é composta de uma população ameaçada.

Parte importante dos brasileiros viu-se amedrontada diante de uma campanha – iniciada no processo eleitoral da então candidata Dilma Rousseff, diga-se – que procurou fixar a imagem de Lula e Dilma como ladrões.

Temos, além disso, a difusão da paranoia em torno do comunismo. Este é o pano de fundo de sempre, que procura instalar no povo o terror, embora, neste momento, não exista essa ameaça concreta.

Cheguei, ao longo destes anos recentes, a sofrer um sentimento de humilhação, tamanho o descalabro a que fomos submetidos com a subida à tona do subterrâneo integralista que parecia enterrado para sempre. Agora, está novamente soterrado.

Durante a apuração, comecei a experimentar um sentimento de liberdade. Após vários dias passados com a sensação de estar numa concentração às vésperas de uma decisão de campeonato, finalmente me senti livre com a vitória de Lula.

Cabe lembrar, ao longo do sofrido mês de outubro, o papel de destaque de Simone Tebet, que explodiu no cenário político nacional. Em um encontro no Teatro Casagrande, vi Lula confessar que “não sabíamos que eles poderiam dar um golpe sem tanques”. Agora sabemos. As tentativas foram inúmeras, e feitas de forma escancarada.

Nos debates e na fala de reconhecimento da derrota nas urnas, o presidente em exercício dirige-se a seus oponentes como um mau fazendeiro aos seus escravos. Coloca-se como ser superior ungido pela falsa ideia de divindade. Na despedida, ele repetiu essa ideia, ao usar a expressão assumidamente integralista marcada no símbolo de sua proposta de governo.

Temos um presidente eleito com uma história de vida pessoal e política construída passo a passo. Foi preso injustamente e carrega um cabedal digno do respeito que conquistou – como evidenciam as manifestações de apoio a ele que têm sido vistas mundo afora.

Ao mesmo tempo que segura o “rabo de foguete” largado para trás por Bolsonaro, Lula ganha novamente o reconhecimento internacional que eleva sua posição no mundo globalizado. Pode ser de novo a hora do Brasil.

A construção da campanha de 2022 iniciou-se com a comprovação do talento de Lula, a partir do momento em que ele, a despeito dos narizes torcidos dos puristas, bancou a convocação de Geraldo Alckmin. A diferença estreita no resultado das eleições selou o acerto do faro político do presidente eleito.

Mas um fator ainda mais importante do que esse para o resultado obtido no pleito pode ter sido a queda do “Trumpalhão” americano. Não por acaso, John Biden, atual presidente dos Estados Unidos, foi um dos primeiros a se manifestarem sobre a vitória de Lula.

O movimento reforça a chance iminente de o Brasil se afirmar como país independente. Isso, é claro, desde que possamos seguir demonstrando a unidade alcançada nesses dias.

Rigorosamente, todos os governantes dos grandes países que se confraternizaram com Lula citaram a premência da conservação da Amazônia. É que todos, menos Bolsonaro, sabem que, hoje, o enfrentamento da crise climática é uma questão básica de sobrevivência para a humanidade.

E é assim, ainda tomados pelo clima das eleições, que nos damos conta de que estamos às portas da Copa do Mundo. Que venha ela. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1233 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE NOVEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Livres para sonhar”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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