Frente Ampla

Precisamos virar a chave de vez

Que a alegria prevaleça não apenas nas ruas no período de carnaval

É preciso virar a chave de vez e que a alegria prevaleça, não apenas nas ruas no período de carnaval. Foto: CARL DE SOUZA / AFP
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Por dentro do carnaval, nos blocos de rua, na Sapucaí pude ver e sentir a alegria do retorno, dos abraços, sorrisos e as diversas expressões que deram significado à festa. No território carioca, além da diversão em si eu ouvi que “este é o carnaval da vitória, da democracia, da leveza, da beleza, da virada”. E de fato é. Vitória da democracia, da ciência, da superação de um governo obscurantista, da existência da vacina, que permitiu uma festa sem máscaras porque a maioria acreditou nela. É preciso que todos, no entanto, acreditem e completem seu esquema vacinal.

O carnaval atrai muita gente, é sedutor para turistas, arrecada bilhões para as cidades, mas não é só entretenimento. É cultura, é cadeia de produção para muita gente que trabalha nele e por ele, é gente em todos os bairros e cidades do estado, não só na capital, e por isso precisa ser melhor compreendido e tratado pelos gestores locais. A desinformação sobre suas raízes e importância precisam ser superadas. Eu estava com Elisa Lucinda no mesmo espaço na Sapucaí e um jornalista a entrevistou. Ela veio chocada me contar que ele a questionou “se a favela tinha relação com o que víamos desfilar na avenida”…

Mas o sentimento de mudança não foi percebido só por quem estava curtindo o carnaval. Também foi visto nesses dias na política brasileira. A tragédia desviou nosso olhar. O presidente Lula protagonizou a atitude justa e correta de um governante sério e comprometido com o país e sua gente. Diante do ocorrido pelas chuvas no litoral de São Paulo, em 24h interrompeu seu descanso e foi para lá. Na cooperação suprapartidária, como deve ser, juntou-se ao governador do Estado e Prefeito de São Sebastião e determinou medidas aos Ministros que o acompanhavam para apoio às vítimas, seus familiares e reconstrução da cidade. Mas deu um recado importante ao prefeito: estabeleça um local seguro para a construção das habitações.

Destaco esta frase para afirmar porque não é novidade a devastação que chuvas fortes causam. Enchentes, deslizamentos que levam casas em áreas de risco, pessoas desabrigadas, destruição, desespero das famílias que demoram a localizar desaparecidos, mortes. Perdas irreversíveis de vidas, muita dor e prejuízos imensos em termos materiais. Um drama que é conhecido por quem mora no Rio de Janeiro, especialmente os petropolitanos que, em 2022, foram atingidos por uma chuva de 530 milímetros em apenas 24 horas.

Apesar de cada vez mais recorrentes, por inúmeros fatores que alteram o clima, há um denominador comum em todos os casos. Em São Sebastião, no litoral paulista, o volume das chuvas ultrapassou o do ano passado de Petrópolis, chegando a quase 700 milímetros, o maior já registrado em nossa história. Quem passou por Petrópolis, como eu, no dia seguinte às chuvas consegue ter uma ideia do desastre que agora vive o litoral paulista.

Na teoria, está claro que prevenção, um sistema de alarme eficiente, capacitação de profissionais para agir antes, durante e depois das chuvas fortes são essenciais para reduzir os efeitos danosos das chuvas torrenciais. Na prática, falta de investimentos em equipamentos e para informar a população sobre como agir em situações de emergência. Contudo, a surpresa não pode mais ser argumento para nenhum gestor municipal. Todos sabem das alterações climáticas. Legislações existem. Há análises feitas de terrenos, cidades, áreas de risco em todo o país. É preciso garantir ações reais e concretas para evitar tragédias antes que elas aconteçam e a hora é agora.

Estimativas dão conta de 40 mil áreas de risco no Brasil. Estamos falando de cerca de 70 milhões de pessoas que tem suas rotinas alteradas todos os anos por enchentes e deslizamentos de terra. Quase sempre na mesma época e, mesmo assim, a tragédia anunciada prossegue.

Não à toa, vemos que a questão ambiental e climática volta com força sob um governo eleito por uma maioria que entendeu, após 4 anos da boiada passando, que é preciso um esforço coletivo para impedir que novos desastres impactem de forma tão devastadora os brasileiros e brasileiras. O desmatamento e o garimpo ilegais voltam a ser combatidos e a mensagem de Lula foi clara ao se deslocar para a área atingida.

Estou certa que a parceria irá além. Caberá ao governo federal retomar o caminho do desenvolvimento sustentável, de voltar a investir em programas de moradia como o “Minha casa, Minha Vida”, de combater os efeitos das mudanças climáticas, preservando nossa floresta e punindo as infrações ambientais. É um compromisso que já vemos sair do discurso para a prática. Mas, 4 anos de destruição de políticas públicas em todas as áreas não se resolverão com um estalar de dedos e nada poderá substituir a competência dos Estados e Munícipios para impedir novas tragédias. É preciso atuação conjunta, principalmente a aplicação de uma correta legislação urbana, consideradas as áreas de risco.

De tragédia em tragédia, não mais teremos um governante omisso e insensível, mas aprenderemos e avançaremos para não mais aconteçam e, as que ainda ocorrerem, tenham a pronta resposta das três esferas de governo em defesa da população atingida.

É preciso virar a chave de vez e que a alegria prevaleça não apenas nas ruas no período de carnaval!!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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