Frente Ampla

Hora de agir pelo clima

Temos que romper o falso argumento de que há muitas áreas protegidas ou destinadas aos indígenas e, por isso, o desenvolvimento não chega

A deputada Jandira Feghali (Foto: Agência Câmara)
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Chegamos à 26ª edição da Conferência das Partes, encontro que reúne 196 nações para discutir as mudanças climáticas, conhecida como COP26. Até o dia 12 de novembro, líderes mundiais analisarão os resultados do Acordo de Paris e debaterão medidas para conter o atual cenário que, se mantido, aponta para um futuro catastrófico.

A temperatura global já subiu 1,2ºC e os esforços são para que não ultrapasse 1,5ºC. Os estudos para cada aumento são desoladores. Para um aumento de 1,5ºC, 4% dos mamíferos perderiam seu habitat natural, as secas teriam duração ampliada em 2 meses e veríamos um aumento de 41% em áreas atingidas por incêndios. Apenas 0,5º a mais, se chegarmos a 2ºC de aumento da temperatura, faria dobrar esses números. Os dados divulgados pela ONU ainda apontam que se atingirmos 4ºC a mais os números passarão para 41% dos mamíferos sem seu habitat natural, 10 meses de seca e 97% de aumento na incidência de incêndios.

Um verdadeiro filme de terror onde, junto com os desastres naturais, teríamos que conviver com a disseminação de doenças e condições incompatíveis com nossa própria sobrevivência.

Como vemos, o debate é de extrema relevância e deve ter prioridade. Lá se vão 6 anos do Acordo de Paris e pouco se avançou para evitar o pior. Em 2015, firmou-se o compromisso para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa, para ampliar a produção de energia renovável e, ainda, para ajudar os países pobres a lidar com os impactos da mudança climática, uma vez que são os maiores prejudicados por ela.

Na contramão de todas as principais recomendações, jovens ativistas pelo clima tiveram que recorrer à justiça para impedir uma manobra conhecida como “pedalada de Salles”. O governo dando um “jeitinho” para chegar ao ano de 2.030 emitindo entre 200 milhões e 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono a mais que o proposto em 2015. De acordo com estudo da UFMG, na pedalada climática apresentada no final do ano passado, o Brasil indicou uma nova meta ao Acordo de Paris que permitiria um desmatamento 78% maior em 2025 em comparação ao período anterior ao governo Bolsonaro. Um retrocesso ambiental sem precedentes.

Concretamente, precisamos ser sérios e verdadeiros. O Brasil não tem sido exemplo nem de seriedade tão pouco de eficiência na área ambiental. Um desastre em todos os sentidos. O que fala não cumpre e o que vemos é a falta de uma fiscalização efetiva para coibir o desmatamento e a mineração ilegais, uma verdadeira cumplicidade com o crime. Um governo indiciado pela CPI da Covid por crimes contra a vida, aí incluídas as dos povos indígenas que tem sido vítimas da violência e da omissão, outra forma de violência.

A região amazônica, além dos povos da floresta que a preservam, abriga as famílias urbanas que se beneficiariam do desenvolvimento sustentável da região. Parte do dano ambiental que se comete com a conivência do atual governo, além de criminoso, é irrecuperável. E não serão palavras bonitas e falsas promessas que reverterão o quadro atual. O governo brasileiro não tem credibilidade sequer para ser ouvido. Isolou-se e isolou o país neste e em outros eventos e debates fundamentais. Por onde passa é ignorado pelos líderes mundiais e alvo de protestos. Colocou o país de costas para o mundo, numa postura negacionista pautada pela visão medíocre de quem não tem o estofo para exercer a função de um chefe de Estado.

O caminho está dado. Medidas imediatas precisam ser tomadas. O Brasil já é signatário do protocolo da Rio+20 onde assumiu o compromisso de investir em energia limpa e renovável. Ao contrário, está buscando financiamento para a indústria de carvão. Isso é uma decisão que poderia ser revertida já, com a adoção de uma política agressiva para geração de energia eólica e solar para a qual temos enorme potencial.

Também poderíamos investir em tecnologias para a agricultura familiar na região amazônica para otimizar a produção. Hoje, sem a tecnologia necessária, áreas são degradadas e apenas 40% a 50% delas são efetivamente cultiváveis. Com tecnologia, a produção e o desenvolvimento seriam beneficiados sem termos que derrubar uma árvore a mais.

Temos que romper o falso argumento de que há muitas áreas protegidas ou destinadas aos povos indígenas e, por isso, o desenvolvimento não chega. Apenas 1% da área já devastada seria capaz de alimentar toda a população da região. A floresta pode se manter em pé e ainda assim prover desenvolvimento. Para tanto é preciso superar a visão predatória do produtivismo e caminhar para o desenvolvimento, um desenvolvimento sustentável que é absolutamente factível e de acordo com compromissos já assumidos pelo país em acordos anteriores.

A hora é agora. Não podemos esperar até 2030 e permanecer acreditando em discursos que visam somente postergar o que é urgente a ser feito. É tarefa da nossa geração garantir que as gerações futuras tenham um planeta em que possam viver.

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