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A agenda ambiental está acima de qualquer questão partidária ou ideológica

Espero verdadeiramente que 2022 se consolide num ano de consciência e de esperança para começarmos a reverter esse grave quadro

A agenda ambiental está acima de qualquer questão partidária ou ideológica
A agenda ambiental está acima de qualquer questão partidária ou ideológica
Presente de grego. Ao oferecer 47 milhões de reais para Zema amparar as vítimas, Bolsonaro liberou mina com barragens até 90 vezes maiores que a de Brumadinho
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Os episódios que chocaram o Brasil no fim do ano passado e no início deste até parecem cenas de filmes de ficção. Infelizmente, é a realidade que bate à nossa porta, com eventos climáticos cada vez mais imprevisíveis e destruidores. As recentes chuvas na Bahia e em Minas Gerais e a seca no Pantanal nos alertam para o que é fato consumado: a crise climática tem desequilibrado bruscamente o planeta, com consequências cada vez mais severas.

O resultado triste de tantos maus-tratos são desabamentos, inundações, estradas destruídas, produzindo um cenário com mortes, perdas materiais e milhares de famílias desabrigadas. Números divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia apontam que passamos de 850 mil habitantes atingidos nas regiões mais castigadas pelos temporais.

Ficamos também consternados com episódios recentes, como o desabamento de uma rocha de grandes dimensões na cidade mineira de Capitólio, que atingiu lanchas e deixou dez mortos. Além disso, a atenção com a possibilidade de rompimento de barragens traz de volta um clima de medo e tensão, resgatando as tragédias de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019. Crimes que produziram consequências ambientais irreversíveis e que até hoje deixam um enorme rastro de dor em centenas de famílias. Não é de hoje que a natureza emite alertas e tristes consequências sobre os excessos cometidos pelo ser humano contra a natureza.

Precisamos sempre aproveitar a oportunidade de mostrar as razões pelas quais desastres climáticos estão se repetindo e acontecendo com cada vez mais frequência. Hoje vemos desertos aumentando de um lado e dilúvios crescendo do outro. Há frio exagerado em alguns lugares e aquecimento dos oceanos em outros. Essa equação que produz realidades tão extremas nunca será uma boa saí­da. Por isso, a importância de reafirmar que tudo isso é o resultado dos maus-tratos a nossa casa maior, o planeta Terra.

Como presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, tenho insistido sempre que não há sustentabilidade possível para a vida humana sem tratar como prioridade a questão ambiental. Somos parte do meio ambiente. Vivemos e dependemos dele para sobreviver. Infelizmente, somos o animal predador e devastador que vem destruindo as florestas, contaminando rios e lençóis freáticos, enchendo de plástico os oceanos, entre outros crimes ambientais.

E o mais impressionante é ver o quanto o ser humano ainda é capaz de produzir todo esse mal ao planeta, mesmo plenamente ciente de que o aquecimento global é uma realidade extremamente preocupante, desencadeando uma série de consequências, como o aumento na temperatura do planeta, o degelo dos polos e o aumento no nível dos oceanos. Especialmente no Brasil, onde os desmatamentos respondem por 46% das emissões de gases poluentes na atmosfera. Diante desse rumo desastroso na agenda ambiental em nosso país, é preciso reforçar que o Estado é peça-chave nesse processo. É urgente que os governos discutam uma política mais rigorosa de infraestrutura. No Congresso, temos feito todos os esforços possíveis para que a pauta ambiental seja uma prioridade urgente. E para que o diá­logo com todos os atores da sociedade e a superação de falsas dicotomias deem o tom das reflexões e do trabalho que precisa ser feito para reverter os retrocessos ambientais impostos pelas políticas criminosas de destruição e de desmonte ambiental. Precisamos discutir uma política de infraestrutura em que os governos federal, estaduais e municipais atuem de forma articulada para a prevenção de ­desastres ambientais.

Infelizmente, o que vemos é uma total perda de credibilidade do atual governo federal, com a imagem do Brasil completamente destruída diante da comunidade global. Isso ficou evidente durante a COP26, no ano passado, em Glasgow, mas também se reafirma em todos os contatos que fazemos com as embaixadas, empresários e entidades e nos encontros internacionais dos quais participo como representante do Congresso. É uma tristeza constatar isso em relação a um país que liderou os debates e foi protagonista nos encontros de Paris, de Copenhague e da Rio-92.

Se todo esse sofrimento puder nos ensinar algo, ele chega como um grito para mostrar que a agenda ambiental é prioritária e está acima de qualquer questão partidária ou ideológica. O cuidado individual e coletivo com a nossa casa maior é uma tarefa do presente que precisa ser urgentemente abraçada por todos nós.

Espero verdadeiramente que 2022 se consolide num ano de consciência e de esperança para começarmos a reverter esse grave quadro de devastação ambiental, pela sobrevivência não apenas do Brasil, mas de todo o planeta, das atuais e das futuras gerações.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1191 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JANEIRO DE 2022.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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