Frente Ampla

Como desenvolver o Brasil III

Se as referências progressistas fecham os olhos para os seus corruptos de predileção, a virtude não existe

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Há tempos apresento um conjunto de providências práticas para tirar o Brasil da mais grave estagnação econômica de nossa história, advertindo a todos sobre o início de mais um voo de galinha neste ano. O que estamos experimentando em 2021 nada mais é do que isto, um ajuste estatístico puxado pela valoração de produtos tradicionais no estrangeiro, ajuste de taxa de câmbio e base de comparação extremamente deprimida.

Não podemos esquecer: entre 2010 e 2020 tivemos a pior década em matéria de crescimento econômico dos últimos 120 anos. Foram seis anos de lulopetismo, dois anos de Michel Temer – levado ao poder pelo lulopetismo – e dois anos de Jair Bolsonaro, que é o resultado da frustração enorme do povo brasileiro pela mistura trágica de desmantelo socioeconômico com a percepção de que a corrupção tem sido um elemento central do modelo de poder vigente no Brasil ao longo dos últimos governos. Todos eles!

Vou seguir nesta linha, mas, em consideração aos leitores de CartaCapital, farei um breve comentário sobre a corrupção desnudada no governo Bolsonaro. Aparentemente, o personagem central deste escândalo envolvendo a compra de vacinas chama-se Ricardo Barros, membro ilustre do colégio de líderes dos governos Lula e Dilma Rousseff, ministro da Saúde de Temer e líder do governo Bolsonaro. Não é só o modelo econômico que se conserva o mesmo neste sofrido Brasil, é o modelo político podre também.

Estou cansado de saber e de denunciar isto. O que me choca, entretanto, é a relativização disto por uma fração absolutamente importante de nossa chamada sociedade civil. Como podem tantos artistas, intelectuais, cientistas, lideranças estudantis, sindicalistas, acadêmicos, jornalistas, editores, enfim, ­parte tão ­expressiva de nossa elite, na melhor acepção do termo, ser tão conivente e permissiva com esta praga? Parece, para muitos do nosso povo, que a única corrupção que importa e nos revolta é a dos nossos adversários. Se for daqueles que são ­objeto de nossos afetos, haverá sempre um argumento­ ­pragmático e permissivo.

Nunca fui moralista e nunca deixei de condenar o moralismo de goela, que caracteriza boa parte do discurso “ético” típico de um udenismo podre em nossas tradições políticas. Vi muito sepulcro caiado nesta vida de lutador. O último foi o execrável Sergio Moro. Não é disto que estou falando. Refiro-me à desmoralização generalizada da política por este comportamento cúmplice dos que fazem de conta que seu político predileto é imune à denúncia de ser corrupto ou corruptor.

Aqui embaixo, onde o povo vive uma duríssima realidade, este câncer é visto como uma das causas centrais de seu viver humilhante. Entre os jovens, a minha mais grave e urgente preocupação, prevalece a percepção de que a política é um pardieiro de pilantras e privilegiados, e, portanto, um ambiente de onde eles e elas devem se manter o mais distante possível.

É assim que se mata uma democracia, é assim que matam a democracia brasileira! Se as referências progressistas fecham os olhos, relativizam ou “passam pano” para seus corruptos e corruptores de predileção, a virtude não existe. De nada vale o exemplo excepcional. É a selva. Daí a pergunta constrangedora que esta parte cúmplice do pensamento progressista não tem como responder: Por que o jovem deve ser honesto? Por que o trabalho honrado deve ser o caminho de uma vida confortável?

Uma boa condição de compliance e de segurança jurídica também é essencial à retomada do desenvolvimento. Desta forma, não me afastei tanto de meu esforço de propor saídas para nós. Apoiar a desconcentração bancária em nosso País é uma tarefa à qual temos de nos dedicar com coragem. Afirmei antes e repito, enquanto a retórica fraudulenta de uma esquerda autorreferida entupia nossos ­ouvidos, concentraram-se mais de 80% das transações financeiras do Brasil nas mãos de cinco bancos, e ainda impediram os esforços de franquear o nosso mercado às transações digitais e às ­fintechs. É o Banco Central de Ilan Goldfajn e de Roberto Campos que descomprime este absurdo protecionismo ao cartel de bancos. Que vexame! Não duvidem que o assunto ­tratado ali atrás também explica esta aberração.

[ERRAMOS: Um erro de edição alterou o sentido de uma frase escrita por Ciro Gomes: “É o Banco Central de Ilan Goldfajn e de Roberto Campos que descomprime este absurdo protecionismo ao cartel de bancos”. O texto já foi corrigido na versão online. Pedimos desculpas ao colunista e nossos leitores.]

Desonerar toda a compra de bens de capital por dez anos fará o Brasil dar um salto de produtividade imenso, pela razão óbvia de que a nossa decadente produtividade não é apenas causada pela precariedade criminosa de nossa estrutura pública de educação, mas também, e isto pode ser corrigido em um relativamente curto prazo, pela paralisia em modernizar máquinas e equipamentos pela indústria asfixiada. Continua…

Publicado na edição nº 1164 de CartaCapital, em 1º de julho de 2021.

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