Frente Ampla

A falência do liberalismo

‘Lamentavelmente, não se vislumbram indícios de mudanças de rumo do atual governo negacionista do Brasil’, escreve Randolfe Rodrigues

O senador Randolfe Rodrigues. Foto: Pedro França/Agência Senado
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O ingresso na segunda década do século XXI será lembrado pelas gerações futuras como os anos da pandemia do coronavírus, mas também deverá ser marcado pela falência ideológica do pensamento até então dominante na política econômica: o liberalismo (ou neoliberalismo).

Tal doutrina que surge com a Revolução Industrial, enfrentou maus bocados durante a grande depressão dos anos 1930, mas ressuscitou batizada como “neoliberalismo”, no fim do século passado, embalado pelas medidas e bravatas de Reagan nos EUA e pelas reformas no Reino Unido de Margareth Thatcher. Tinha até um manual de instruções, “o consenso de Washington”, com dez recomendações práticas de privatizações, desregulamentações, liberalização comercial e austeridade fiscal, consolidado pelo economista John Williamson, falecido há poucas semanas.

A bem da verdade, o liberalismo nunca foi adotado nos países centrais, cujos Estados sempre foram fortemente indutores de suas atividades econômicas.  A economista Monica De Bolle tem nos lembrado disso ao citar a importância da força estatal na industrialização dos EUA, assim como seu colega coreano, Ha-Joon Chang em sua obra “Chutando a Escada”, alusão bem-humorada à prática de países ricos que se serviram do protecionismo e da intervenção para se industrializar e, ao chegarem no topo, recomendam aos demais que façam justamente o contrário.

 

Mas nos países periféricos o liberalismo tem feito um enorme estrago, particularmente no Brasil, aqui desembarcando em 1990 e culminando com ultraliberalismo atual de Bolsonaro-Guedes. Em espacial nos últimos anos tem sido brutal a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, o desmonte da capacidade de investimento público, a redução do orçamento social e a política comercial submissa, tudo somado com o desprezo às questões ambientais e destruição do aparato estatal. Essa crença cega, até então quase unânime na intelectualidade econômica do país, tem gerado sucessivas décadas perdidas e pauperizado a população.

Apesar de ser doença crônica no Brasil, a doutrina neoliberal já vinda capengando em escala global desde grande crise de 2008, quando os EUA, a União Europeia e o Japão abriram seus cofres para injetar alguns trilhões de dólares destinados a salvar o sistema financeiro, sem nenhum pudor em ampliar a emissão monetária por meio de mecanismos sofisticados (denominados quantitative easing).

Agora, com as ações de combate à pandemia e com o lançamento dos planos de Joe Biden nos EUA, que destina mais de 4 trilhões de dólares para apoio às famílias, às pequenas empresas e para obras de infraestrutura, tal doutrina desmoraliza-se completamente. Desconcertados, áulicos tupiniquins que se agarram à velha teoria agonizante repetem apenas um pobre argumento: “lá pode, aqui não…”.

Lamentavelmente, não se vislumbram indícios de mudanças de rumo do atual governo negacionista do Brasil. Mas a boa notícia é que a cada dia surgem novas e promissoras ideias dentre aqueles que não abdicaram do atributo de pensar fora da caixa liberal. Propostas interessantes de mudança da política monetária no sentido de expansão da oferta e estímulo à atividade econômica; adoção de metas de investimento público em relação ao PIB; ampliação/implantação de programas de renda mínima; política comercial ativa e coerente; além de aproveitar os novos ventos da economia verde para os quais o Brasil apresenta condições excepcionais.

Nossa batalha de hoje é vencer a pandemia do coronavírus. Garantir vacina no braço e comida no prato dos brasileiros! Vencida essa etapa, teremos que reconstruir o Brasil, com um projeto de país que seja justamente o oposto do liberalismo tacanho dos últimos tempos, um programa desenvolvimentista e inclusivo!

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