Marcos Coimbra
[email protected]Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.
O fato é que a vasta maioria dos eleitores do País prefere Lula às dezenas de nomes que o sistema político ofereceu. O establishment, por sua vez, compactua com Bolsonaro
O tempo passa e o favoritismo de Lula aumenta. O motivo é simples: os adversários ficam, a cada dia, com menos tempo para reverter sua vantagem. É bom lembrar que Lula não é o favorito porque lidera as pesquisas. Os números não são, em si mesmos, o motivo de ele ser o mais provável vencedor, pois apenas refletem a vantagem real que tem na preferência dos eleitores, na vida concreta da sociedade. O fato é que a vasta maioria do País prefere Lula às dezenas de nomes que o sistema político ofereceu.
Na verdade, brincou de oferecer. Só os muito singelos acreditaram na possibilidade de que a direita inventasse uma “terceira via”, pois não seria do sentimento progressista e de esquerda, bem representado por Lula, que surgiria. A “terceira via” não veio porque a direita não quis.
A elite brasileira escolheu o capitão quando se recusou a removê-lo. Não foi por respeito às instituições que o deixaram fazer o que queria da Presidência da República, pois, ao derrubar Dilma Rousseff, haviam mostrado que as ignoravam. Jair Bolsonaro vai enfrentar Lula porque conta com a tolerância de nosso establishment político e social, que aceita suas ilegalidades, imoralidades e cafajestadas por considerá-lo útil. Dizer que são Lula e o PT que querem Bolsonaro como adversário é uma piada de mau gosto.
Há um ano, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, o que é inédito em nossa história eleitoral moderna. Desde maio de 2021, quando voltou ao jogo e retomamos a tradição de fazer pesquisas por meio de entrevistas presenciais, sua vantagem em relação ao capitão nunca foi menor do que 15 pontos porcentuais, tendendo a 20 pontos. Como a soma dos demais nomes sempre permaneceu próxima desses números, há um ano as pesquisas indicam que Lula tem boas chances de vencer a eleição no primeiro turno.
Em uma mistura de desinformação e torcida, é comum ouvir quem diga que a eleição está longe e muita coisa pode acontecer, com isso sugerindo que o capitão “pode surpreender” no fim do páreo, como acontece com algumas montarias. Por imperativo lógico, a hipótese tem de ser admitida, mas não há, no Brasil, sequer um caso, em eleições presidenciais, que justifique o raciocínio.
Desde 1989, venceu o candidato que estava na frente das pesquisas a seis meses do pleito. Começou com Collor, que, em maio daquele ano, estava no primeiro lugar, conforme pesquisa do Ibope (fazia 38%). Seguiu com Fernando Henrique Cardoso nas duas eleições que disputou, ainda que, em 1994, a vantagem só fosse percebida nos bastidores, por quem acompanhava a ligação siamesa entre sua campanha e o lançamento do Plano Real. Em maio de 1998, na reeleição, FHC liderava com 34%, segundo o Datafolha. Na mesma altura de 2002 e 2006, Lula ponteava com 31% e 40%, respectivamente, de acordo com o Datafolha. Quando se informava aos entrevistados que Dilma Rousseff era a candidata de Lula, ela alcançava 42% em abril de 2010, em pesquisa do Vox Populi, e assumia o primeiro lugar. No mesmo mês de 2014, o primeiro lugar voltava a ser seu, com 38% das preferências, no Datafolha.
Dessa lista, ficou de fora apenas a última eleição. Nessa, o candidato que liderava as pesquisas a seis meses do pleito não venceu. Os militares e outros golpistas viraram a mesa, Lula foi preso e o favorito da população não pôde disputar. Puseram no lugar a coisa que temos hoje.
Se olharmos os números relativos às eleições anteriores em mais detalhes, vamos perceber que a liderança atual de Lula é maior do que qualquer outra, incluídas as suas próprias em 2002 e 2006. Hoje, ele não é apenas favorito, é o maior favorito que já tivemos.
Para o bolsonarismo e seus adeptos, resta a esperança de conseguir reverter o cenário, apesar de tão adverso. Se estão dispostos a tudo, sempre imaginam que podem atacar mais, mentir mais, acobertar mais, comprar mais, torrar mais dinheiro. Só que o tempo passa e nenhuma bandalheira, até agora, se mostrou eficaz. Têm ainda alguma no coldre?
Outubro está a menos de cinco meses e a cada dia fica mais claro que, preservada a normalidade do processo eleitoral e sem aventura golpista, o capitão vai embora. Fora dessa normalidade, até o cavalo de Calígula foi senador. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1207 DE CARTACAPITAL, EM 11 DE MAIO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Falta pouco para a eleição”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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