ESG: A diferença entre o remédio e o veneno está na dose

É preciso ir em busca do equilíbrio necessário entre os pilares Ambiental, Social e de Governança

(Foto: iStock)

Apoie Siga-nos no

As mudanças trazidas pela onda ESG – se não analisadas de forma parcimoniosa e objetiva – poderão, eventualmente, produzir efeitos indesejados. Como esperado por movimentos que alteram paradigmas empresariais, existe uma tendência natural de queremos implementar mudanças radicais de forma repentina e de, eventualmente, privilegiar determinada dimensão (no caso, a ambiental), em detrimento de outras igualmente importantes. 

Parece natural que queiramos implementar a “agenda verde” o mais rápido possível, fazendo a transição para as chamadas energias limpas. Afinal, as mudanças climáticas causadas pela emissão de CO2 podem eventualmente comprometer a vida humana em nosso planeta.  

Contudo, se não realizada de forma planejada, essa transição pode trazer efeitos indesejados, principalmente para a população mais pobre. Por exemplo, a pandemia e a guerra na Ucrânia deixaram clara a nossa dependência, pelo menos de curto e médio prazo, do petróleo. O encarecimento dessa commodity gera impactos inflacionários diretos em toda a economia, seja em transporte, alimentos etc.

Esse é apenas um pequeno exemplo de como privilegiar o pilar Ambiental de forma indiscriminada pode trazer efeitos no Social. 

Note-se ainda que, se grandes conglomerados empresariais estabelecerem práticas ambientais demasiadamente rígidas para seus fornecedores, os mais prejudicados serão os pequenos negócios. A transição é necessária, mas é preciso ter cuidado com as externalidades. 

Sem dúvida, o ESG representa uma oportunidade de aprimorar o nosso capitalismo. Precisamos ter cuidado, apenas, para não jogar o bebê fora junto com a água do banho


A mesma cautela também deve ser aplicada na implementação da dimensão Social. Um excesso artificial e forçado de pautas pode eventualmente comprometer a cultura organizacional de determinada empresa, e o próprio senso de meritocracia e pertencimento. Uma promoção gerada única e exclusivamente pelo critério da diversidade poderia, inclusive, provocar efeito contrário. 

Igualmente, a agenda da sustentabilidade não deve desconsiderar os aspectos de governança especificamente relacionados àqueles que provém capital de risco para as organizações. Precisamos ser realistas, pois se as organizações privilegiarem os aspectos sociais e ambientais de forma a prejudicar os credores e acionistas, não haverá financiamento para as atividades empresariais. E sem capital, não há investimento, novos empregos, geração de renda etc. 

Em suma: o equilíbrio entre as dimensões ambiental, social e de governança é necessário. Veja-se, essas dimensões não são excludentes; ao contrário, são complementares e até por isso precisam sempre ser analisadas em conjunto.

A sustentabilidade de uma empresa ou de um país está relacionada com sua resiliência, ao enfrentamento de crises e continuidade. O assunto deve ser encarado de forma racional e desapaixonada. 

Sem dúvida, o ESG representa uma oportunidade de aprimorar o nosso capitalismo. Precisamos ter cuidado, apenas, para não jogar o bebê fora junto com a água do banho.  

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.