Carlos Henrique da Costa Mariz

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Vice-Presidente da ABEN (Associação Brasileira de Energia Nuclear) e conselheiro da ABDAN (Associação Brasileira de Atividades Nucleares)

Opinião

O Brasil precisa de energia elétrica estável e limpa

Itacuruba, em Pernambuco, vai garantir segurança energética, sustentabilidade e desenvolvimento, escreve Carlos Henrique da Costa Mariz

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O plano estratégico do setor energético brasileiro, PNE2050, publicado em dezembro de 2020, acaba de estabelecer a construção de mais 10.000 MW de energia nuclear. É a definição do novo programa nuclear brasileiro, justamente no momento da retomada de construção da Usina Nuclear Angra 3.

A Eletronuclear realizará, em 13 de abril próximo, a sessão pública para a abertura das propostas, no âmbito da licitação para a contratação dos serviços de obras civis e parte da montagem eletromecânica de Angra 3. A expectativa é que o contrato seja assinado em maio, que a obra seja retomada em outubro e a Usina entre em operação em 2026.

As usinas nucleares exercem um papel fundamental na construção de uma matriz equilibrada de energia elétrica. Angra 1; Angra 2 e Angra 3 fornecerão a necessária estabilidade à expansão do Sistema Interligado Nacional (SIN), com energia de baixo carbono.

Um exemplo disso é a performance da Usina Angra 2 registrada no Relatório Anual-2020 do Ministério de Minas e Energia. Ela funcionou durante 13 meses consecutivos com um fator de capacidade (percentual do tempo corrido em que esteve operando) de 99,43%, estabelecendo uma nova marca mundial em termos de tempo de operação contínua, antes da parada programada para troca de combustível. Trabalhou durante todo este tempo, praticamente na potência máxima, 24h/ dia. Forneceu energia elétrica suficiente para abastecer uma cidade de 2 milhões de habitantes, como Belo Horizonte, durante o mesmo período (mais de um ano).

Os estudos de caracterização de local para a instalação das novas usinas  devem iniciar este ano. Itacuruba, em Pernambuco, é um importante sítio projetado não só pelo fornecimento de segurança energética para o Nordeste, como também, fator de sustentabilidade ambiental e provocador de grande impacto no desenvolvimento regional. Serão seis unidades e investimento privado de cerca de 30 bilhões de dólares. Itacuruba deverá produzir energia elétrica superior a toda produção da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF).

O sistema elétrico do Nordeste tem tido apagões e sub apagões devido à alta instabilidade e volatilidade do Sistema. Um percentual elevado de usinas eólicas  operam com grande intermitência e, por esse motivo, não fazem parte da chamada energia de base, na matriz energética brasileira. Como outras fontes, com esta característica são chamadas de fontes de energia complementares. Urge, portanto, a complementação com energia de base estável e limpa, razão pela qual, a necessidade de se instalar e construir blocos de energia nuclear.

No mundo, a energia nuclear continua em expansão. Atualmente, 442 usinas nucleares estão em operação, 53 em construção, 98 para iniciar a construção e mais 326 em planejamento, segundo a World Nuclear Association. Hoje 10% da eletricidade mundial é de origem nuclear e a tendência é esse percentual aumentar rapidamente, em consonância com o combate às mudanças climáticas e com a necessidade de melhoria da eficiência e da confiabilidade dos sistemas elétricos.

A segurança das usinas nucleares é extremamente elevada pelo seu baixíssimo risco de acidentes e é comprovadamente mais segura que todas as outras fontes geradoras de energia elétrica. A revista Forbes publicou estudos, mostrando que o número de mortes por terawatt-hora produzido por usina nuclear é a menor entre todas as fontes de produção. Além disso, a nuclear é uma das fontes que menos emite CO2 ao lado de eólica, hidro e solar. Senão vejamos: em toneladas de dióxido de carbono/ gigawatt-hora a nuclear emite 17, a eólica 18,a hidro 15, a solar 14, gás natural  622 e carvão 1041, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC).

As usinas nucleares utilizam elementos combustíveis, de urânio, para a geração de energia. Quando exauridos, esses elementos combustíveis (que não são considerados rejeitos) ficam armazenados e poderão, como em alguns países, ser reprocessados, utilizando técnicas conhecidas e disponíveis.

“Quando energia nuclear é usada ao invés de energia fóssil vidas são salvas”, afirmou o climatologista James Hansen quando fez o cálculo de que 1,8 milhões de vidas foram salvas até hoje pela substituição de energia fóssil pela nuclear. Combater e manter uma atitude negacionista frente à energia nuclear é, em ultima análise, combater a vida!

A construção de Angra 3 e o início da retomada do programa nuclear brasileiro com 10 GW, são marcos significativos do Ministério de Minas e Energia, que sinaliza na direção da alavancagem da indústria nuclear brasileira, através da transferência de tecnologia, da capacitação da indústria nacional direta e indireta, bem como no  fortalecimento da soberania nacional.

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