Opinião

Desgovernadores ladeando Netanyahu oferecem uma das imagens mais abjetas que jamais vimos

Na semana em que se chega a um número absurdo de trabalhadores humanitários mortos, o Conselho de Segurança adota resolução por cessar-fogo em Gaza

Foto: Reprodução
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“Poucas coisas fazem tanto bem quanto a solidão sincera” – Vinicius de Moraes

Uma das imagens mais abjetas que jamais vimos é a dos desgovernadores de São Paulo e Goiás ladeando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, todos os três sorrindo da morte de mais de 32 mil pessoas, a maioria delas, crianças e mulheres.

Pior, o desgovernador de São Paulo integrara as Forças de Paz da ONU, no Haiti. Entretanto, nada aprendeu daquela riquíssima experiência, fazendo vista grossa ao fato de que Bibi matou mais de 160 funcionários da ONU no genocídio em Gaza, o maior número de servidores civis da Organização mortos em toda a sua história.

Pobre ONU, na mesma semana em que se chega a esse número absurdo de trabalhadores humanitários mortos, o Conselho de Segurança adota resolução pedindo o cessar-fogo imediato em Gaza. Entretanto, outras 50 resoluções da ONU foram aprovadas desde a criação do Estado de Israel, sem que tenha cumprido qualquer uma delas.

O desgovernador de Goiás, por sua vez, fundador da UDR (União Democrática Ruralista), uma espécie de Ku Kux Klan sertaneja, é médico, mas nada lhe importa que Bibi tenha destruído completamente os três principais hospitais de Gaza, deixando os feridos morrerem à margem de qualquer assistência hospitalar e crianças serem operadas sem nenhum tipo de anestesia.

O Conselho Federal de Medicina, ao qual o suposto médico (pois um, de verdade, jamais agiria assim) está afiliado, tampouco se manifestou, o que não causa nenhuma surpresa, haja vista ter sido cúmplice de genocídio, ao não condenar as práticas hediondas de Jair Bolnonaro durante a pandemia.

No entanto, a dupla de desgovernadores não está só: o do Rio Grande do Sul deixa regularmente a população de seu estado no escuro e ainda tem o cinismo de falar em “novas façanhas”, sendo mais um na lista de administradores que nada querem administrar, ficando, porém, com as benesses do cargo.

Não administra o abastecimento de água, tampouco o de luz e quer privatizar também a educação.

Os colegas de São Paulo e Minas vão pelo mesmo caminho, valendo perguntar por que ainda não se criou um “vagabundômetro” para aferir o nível de vagabundagem dos administradores que se elegem para administrar, mas depois abdicam em benefício da vagabundagem.

Vale notar que se fosse medida a de certo ex-presidente, os índices seriam estratoféricos, principalmente se agregados os da família completa, ex-mulheres incluídas.

Tucanos bem emplumados também não fariam feio naquela medida..

Por outro lado, não se veem comemorações pelo Haiti ter atingido o nível mínimo de Estado e, assim, ter colapsado, com a capital tomada pelas milícias, bem como portos e aeroportos.

Será que a Rede Globo não foi informada? O Estado de São Paulo? A Folha de S. Paulo?

Preocupa que no momento em que um país atinge aquilo para o qual eles tanto lutaram e lutam – o Estado mínimo – percam a oportunidade de viver aquele paraíso na Terra.

Os milhões de deslocados, os milhares de mortos, toda a população de um país vivendo um inferno devem ser encarados apenas como efeitos colaterais de uma grande ideologia, levada adiante por pessoas tão inteligentes e iluminadas como as oito famílias donas da grande imprensa brasileira.

Avante Marinhos, Mesquitas, Frias, Abravanéis, Civitas, Saads, Macedos etc.! “Le jour de glorie est arrivé!”

E não diminuamos a importância das correias de transmissão estaduais, locais, para o atingimento daquele objetivo.

Por exemplo, recente levantamento nacional de cidades mais atendidas pelo fornecimento de água e esgoto registra que a cidade brasileira com pior rede de abastecimento de água e tratamento de esgoto é Pelotas, cidade que fora administrada por Eduardo Leite, atual governador do RS.

Destarte, o papel da imprensa local fica evidente, ao transformar um gestor – por esse critério básico – medíocre em governador de um estado tão rico e complexo como o Rio Grande do Sul.

Quanto ao subproduto nacional desse pensamento único, golpista, genocida, das oito famílias, Jair Bolsonaro: o que parece ser o óbvio, entrou na embaixada da Hungria, pediu refúgio, o embaixador, que devia ser chapa dele, consultou Budapeste, recebeu resposta negativa (Viktor Orbán, o primeiro-ministro, é de extrema-direita mas não é burro, ao contrário do embaixador, do contrário não estaria no poder há 14 anos) e, após aguardar a resposta por dois dias, teve de tomar o caminho da roça, provavelmente caminhando de tornozeleira, esperemos.

Quanto ao fato de o New York Times ter tido acesso e divulgado imagens de dentro da embaixada húngara em Brasília, uma constatação: depois de experimentarem do próprio veneno golpista em 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio por fanáticos da extrema-direita, os Democratas (aos quais aquele jornal se alinha) resolveram refletir sobre a criação de corvos e o perigo de que venham lhes comer os olhos (depois de quase cegarem os latino-americanos, principais vítimas de suas intervenções).

Vale notar que a imprensa europeia quase nada noticiou sobre a suposta tentativa de fuga de Bolsonaro.

A TV pública francesa optou pela continuação do apoio à extrema-direita brasileira, como se viu no especial que veiculou ontem, dia 25, sobre a cracolândia, em São Paulo, no qual o único vereador entrevistado é um conhecido personagem, caricato, do União Brasil, o mesmo partido do acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Com efeito, a geopolítica mundial se move, como deixa clara a abstenção dos EUA na resolução do Conselho de Segurança sobre o cessar-fogo em Gaza e a eleição do novo presidente, de oposição, no Senegal, após a tentativa de golpe de Estado pelo atual mandatário, que tentou prorrogar as eleições e o próprio mandato.

Da África, mais uma lição para tucanos e extremistas brasileiros: o perdedor cumprimentou o ganhador antes mesmo da divulgação do resultado final das eleições.

Vale notar que o novo presidente tem apenas 44 anos (completados na data de sua eleição) e uma grande semelhança física com Patrice Lumumba, ex-primeiro-ministro do Congo, assassinado aos 36 anos de idade pelos EUA e potências europeias.

Que os novos movimentos tectônicos da geopolítica mundial tragam longa vida ao presidente Bassirou Diomaye Faye e a todo o povo do Senegal e da África!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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