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Opinião

Desempenho da Petrobras assegura lucratividade, maiores investimentos e pagamento de dividendos no 3° trimestre de 2023

O resultado refletiu impactos de fatores conjunturais e reforçou elementos da nova estratégia comercial e operacional da atual gestão

Foto: Flávio Emanuel / Agência Petrobras
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Por Mahatma Ramos dos Santos[1]

Em meio ao debate sobre o seu futuro Plano Estratégico, a Petrobras divulgou na última quinta-feira 9 os resultados operacionais e financeiros do terceiro trimestre de 2023 (3T23). O lucro líquido da companhia foi de R$ 26,6 bilhões e o pagamento de dividendos alcançou R$ 17,5 bilhões neste trimestre. Alinhada à nova estratégia comercial e à nova Política de Remuneração dos Acionistas, implementadas no trimestre anterior, a empresa ampliou seus indicadores operacionais e comerciais, o que proporcionou uma recuperação de suas receitas com vendas e, por seguinte, maiores investimentos, pagamentos de robustos dividendos e manutenção da lucratividade.

O principal vetor do resultado apurado pela Petrobras no 3T23 foi, mais uma vez, sua capacidade de geração de caixa. Em um trimestre marcado pela recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional, mesmo que ainda 14% inferiores aos patamares observados no 3T22, o incremento de 8,8% na produção de óleo e gás e de 4,5% na produção de derivados no presente trimestre, quando comparados ao 3T22, permitiram melhora dos indicadores comerciais e recuperação da receita de vendas no 3T23. A alta de 1,3% nas vendas de derivados no mercado interno, o aumento de 65% na exportação de petróleo e a queda de 29,7% nos custos dos produtos vendidos foram elementos decisivos para o resultado.

No terceiro trimestre de 2023, o lucro líquido da companhia foi de R$ 26,6 bilhões, valor 42,2% inferior ao do mesmo trimestre do ano anterior (R$ 46 bilhões). Essa queda reflete, por um lado, o desmonte estrutural da capacidade produtiva da companhia nos últimos anos, resultante da venda de ativos estratégicos em gestões passadas e, por outro lado, resulta da queda de 14% na cotação do petróleo (brent) no mercado internacional e de 33% no preço dos derivados no mercado interno, na comparação entre 3T23 e o 3T22. A apreciação de 10,7% nos preços do brent no último trimestre mitigou parcialmente esses efeitos.

A receita total de vendas da Petrobras acompanhou a queda nos preços e registrou baixa de 33,4% na comparação anual, caindo de R$ 170 bilhões no 3T22 para R$ 124,8 bilhões no 3T23. A redução só não foi maior em virtude da recuperação operacional da companhia (aumento nas produções de óleo, gás e derivados), para a qual também contribuiu o aumento de 8 pontos percentuais (p.p.) do fator de utilização (FUT) do atual parque de refino da estatal, que alcançou maior nível desde o 3T15, com 96% de taxa de utilização. Esse desempenho reforça a estratégia da empresa de recuperar sua capacidade produtiva e market share.

Já a receita total no mercado interno caiu 32,3%, de R$ 135,4 bilhões no 3T22 para R$ 91,7 bilhões no 3T23. As quedas de 36,2% nos preços do diesel, derivado mais comercializado pela estatal, de 24,8% no preço da gasolina, de 21% no óleo combustível e outros 41,4% no GLP (gás de botijão) no mercado interno explicam a perda de receitas, nessa comparação anual. O mercado nacional continua como principal fonte de receitas da Petrobras e, no 3T23, representou 73,5% da receita total da companhia.

No mercado externo, a redução de 33% do volume de produtos importados, associada à alta de 55,9% das exportações totais da companhia e de 60,5% das exportações de petróleo cru, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior, resultaram em um boom de 508% no saldo líquido do volume de exportações/importações. Com isso, a Petrobras fechou o 3T23 com receitas líquidas no mercado externo de R$ 33,1 bilhões, apenas 4,3% inferiores aos R$ 34,5 bilhões registrados no 3T22, quando os preços do petróleo estavam próximos de US$ 100 por barril, superior em 14,0% aos US$ 86,76 registrados no presente trimestre. Os principais destinos das exportações de petróleo da estatal foram os mercados chinês (40%) e europeu (32%). Já as exportações de derivados se concentraram, assim como nos últimos 12 meses, nos mercados de Cingapura (38%) e EUA (44%).

No período em análise, a Petrobras ampliou o seu nível de endividamento. A dívida bruta subiu 12,4% em comparação ao 3T22, saindo de US$ 54,2 bilhões para US$ 60,9 bilhões, em virtude, sobretudo, do aumento de arrendamentos de FPSOs (navio-plataforma) no período. Com isso, a companhia alcançou uma relação dívida líquida/EBITDA de 0,83 no presente trimestre.

Os investimentos da companhia totalizaram US$ 3,4 bilhões no 3T23, superior em 59,2% ao valor investido no 3T22, de R$ 2,1 bilhões. Esse é o maior montante trimestral investido pela estatal, ao menos, desde o 1T18. Na comparação entre os nove primeiros meses de 2023 e o mesmo período do ano anterior, os investimentos registaram salto significativo de 47,6%.

Em comunicado ao mercado na quinta-feira 9, a Petrobras anunciou, em alinhamento a sua nova política de remuneração aos acionistas, a distribuição de R$ 17,5 bilhões na forma de dividendos (R$ 0,672183 por ação ordinária e preferencial), valor 17% superior ao pago no 2T23 (R$ 14,9 bilhões) e inferior em 59,9% ao pago no 3T22 (R$ 43,6 bilhões). O valor distribuído reproduz lógica usada no último trimestre e indica uma mudança no perfil da gestão da companhia, que passa a ampliar o volume de investimentos operacionais estratégicos e reverter a desastrosa política de pagamento de megadividendos observada em anos anteriores.

O resultado operacional e financeiro da Petrobras no terceiro trimestre de 2023, em síntese, refletiu os impactos de fatores conjunturais, como a menor cotação do petróleo no mercado internacional, assim como reforçou elementos da nova estratégia comercial e operacional da atual gestão da estatal, agora com menor ênfase na distribuição de dividendos no curto prazo e voltada à manutenção da lucratividade da estatal, à recuperação de sua capacidade operacional, em especial de seu atual parque de refino, e ao significativo aumento dos investimentos produtivos.

Por fim, às vésperas do anúncio do novo Plano Estratégico 2024-28 da companhia, vale ressaltar que a retomada de investimentos exploratórios e na ampliação do parque de refino nacional, assim como a inserção definitiva da companhia na agenda da transição energética e justa, são fatores decisivos para superação de entraves ao abastecimento e segurança energética nacionais, bem como elementos centrais para o realinhamento da Petrobras ao interesse público, à redução das desigualdades, ao desenvolvimento industrial e à busca por autonomia tecnológica nacional.

[1] Diretor Técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), doutorando em Sociologia na UFRJ.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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