Opinião

Descriminalizar a maconha permitiria o alívio das prisões, abarrotadas de pequenos contraventores

Será fundamental que a sociedade se desarme para poder investigar com isenção todos os possíveis efeitos benéficos da cannabis

Imagem: Nelson Jr./STF
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“Charcot experimentou a hipnose enquanto estado alterado de consciência em seus pacientes, para que estes tivessem a possibilidade de reviver situações traumáticas antigas e, assim, de falar sobre sua enfermidade, para além da barreira de seu eu consciente” – Frédéric Lenoir

O debate sobre a descriminalização da maconha deverá prosseguir em 2024, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, mas não apenas.

Será fundamental que a sociedade se desarme para poder investigar com isenção todos os possíveis efeitos benéficos da cannabis.

Um amigo meu (…) experimentou um cookie, no Uruguai, e percebeu que o efeito corresponde ao da hipnose, permitindo a visita a estados alterados da mente.

Além dos usos medicinais do canabiol, a descriminalização permitiria alívio das prisões, abarrotadas de pequenos contraventores, que ali consomem suas existências em verdadeiro inferno terreno.

Nesse sentido, olharmos para os últimos desta sociedade tão desigual deverá permitir não apenas o desenvolvimento social, mas também o econômico, do País.

Não foi essa a fórmula que fez o Brasil saltar vários degraus na escala econômica internacional, subindo de 13ª para 9ª economia em apenas um ano?

Sem dúvida, foi graças à inclusão de setores outrora excluídos de nossa sociedade que ultrapassamos o México, a Rússia e o Canadá.

Demais, vale notar que quatro países que estão à nossa frente são economias falidas, devendo mais de 100% do próprio PIB, a saber: EUA (1o), Japão (4o) Reino Unido (6o) e Itália (8o, cuja dívida ultrapassa 140%…).

Pior, todos os acima referidos aumentaram exponencialmente seus gastos militares, investimentos inúteis, uma vez que não geram riqueza em última instância, comprometendo ainda mais as próprias economias, enormemente fragilizadas.

De fato, para que servem as armas? Israel já matou mais crianças em Gaza do que as que morreram em todos os conflitos nos últimos dois anos, guerra na Ucrânia incluída.

O horror do genocídio perpetrado pela extrema-direita israelense ocasionou o deslocamento de 85% da população de Gaza.

É tal a maldade, a covardia, a crueldade do desgoverno israelense que, anteriormente, haviam dado ultimato para que a população se deslocasse para o sul da Faixa, que agora também é bombardeado diuturnamente.

Historicamente, esse tem sido o padrão de Israel, com raros períodos de exceção.

O Estado hebreu jamais cumpriu qualquer resolução da ONU, não sendo possível entender por que não foi ainda expulso de uma organização que menospreza e humilha todos os dias, com suas infrações as mais bárbaras ao direito internacional público e humanitário.

Vale notar que a extrema-direita local tampouco acredita em lágrimas: o desgoverno de São Paulo irá aumentar o valor dos pedágios e instalar ainda mais praças de cobrança.

O estado é aquele com mais pedágios: algo em torno de 176 pontos de parada.

Ainda pior, a empresa que explora a rodovia Raposo Tavares, uma certa CART, não aceita cartões para o pagamento… Em pleno século XXI…

Hipócrita, a concessionária distribui adesivos, para estimular o turismo na região – sem esclarecer que caberá ao turista levar consigo também um caminhão blindado, para o transporte dos valores…

Imaginem a impressão dos turistas estrangeiros, principalmente dos paraguaios e bolivianos, que trafegam por aquela estrada…

Entretanto, se só desmandos podem vir de um desgoverno de extrema-direita, por que a Agência Nacional de Transportes Terrestres nada faz a respeito?

Será que a agência, criação do PSDB, não pode se conformar a um governo democrático? Em caso negativo, por que continua a existir, gastando dinheiro público e dando resposta tão insuficiente?

Que o novo ano que adentra nos encontre mobilizados no entendimento, inclusive dos desentendimentos.

Em Oppenheimer (editora Intrínseca), Kai Bird e Martin Sherwin recordam a reflexão do irmão de Robert Oppenheimer, Frank: “Se desistirmos de tentar entender as coisas, acho que será o nosso fim. Ao contrário, aduz uma nova, desejável, perspectiva: “…a compreensão humana deixará de existir como instrumento de poder […] para o benefício de poucos, tornando-se uma fonte de empoderamento e prazer para todos”.

Para o ano vindouro, o pai da bomba atômica traz interessantes reflexões sobre o trabalho que podem estimular nossa reflexão e nossa ação: “Eu me senti completamente aliviado da responsabilidade de voltar a um laboratório. Não tinha sido bom naquilo, não tinha feito bem para ninguém, também não havia me divertido, e aqui estava algo que eu simplesmente me sentia impelido a tentar… Acho o trabalho duro, graças a Deus, e quase prazeroso”.

Em Clarice, uma vida que se conta (EDUSP), Nádia Gotlib faz outro contraponto: “…criar é matar-se como sujeito, ou seja, é dar voz ao outro… A vida da obra supõe a morte do seu autor… (Clarice) mata Macabéa justamente no momento em que esta se insurge como sujeito que deseja o outro, arriscando-se a construir ou inventar uma história sua, impossível num sistema fundado nos horrores da discriminação… Ou seja, o romance questiona e desmitifica o poder do intelectual que, tanto por pieguice humana quanto por ávida prepotência competente, se alimenta de seu objeto de estudo, sem conseguir que este se torne sujeito da sua história”.

Que o ano nos receba ouvidos e sensibilidade, para o novo, o outro, o mundo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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