

Opinião
Copa 22, COP-27
O Mundial de futebol movimenta o planeta, a conferência do clima trata de temas cruciais do futuro


Sensação no mínimo diferente com tantos interesses distintos a se digladiarem ao mesmo tempo, enquanto se deteriora a tentativa de terror que resta de mais um pesadelo irresponsável a que foi submetida a sociedade brasileira.
O ano desportivo interno, todas as séries de todos os esportes, termina a uma semana apenas do início da Copa do Mundo, ao mesmo tempo que acontece a COP-27, frequentada pelas lideranças mais representativas da política em toda a Terra. Evidente o momento de tratar da questão da sobrevivência no auge da guerra entre Rússia e Ucrânia e da desgraça humana do maldito neoliberalismo.
A convocação imediata de Lula logo após o resultado das eleições brasileiras mostra a importância, juntamente com o Congo e a Indonésia, das nossas florestas e por isso mesmo a oportunidade de negociações que valorizem o nosso país como fulcro do equilíbrio geopolítico. A preservação do meio ambiente diante das crises climáticas é a questão primordial dos dias de hoje e pode impulsionar o Brasil rumo à independência de fato e fator de harmonia do mundo em pleno século XXI. Não há mais espaço nem tempo para vacilos, enquanto a humanidade anuncia a chegada da população mundial aos 8 bilhões de cidadãos.
Talvez pela importância exagerada que a Copa 22 signifique para boa parte dos indivíduos mundo afora, vivemos com a impressão de que tudo se precipita em cascata, decisões de toda espécie de campeonato, de favelas à Copa, campeões de todo tipo, acessos, rebaixamentos. Tem de tudo, até a vitória inédita no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, mas, não adianta, chegou a Copa do Mundo do Catar 22. O hexa, será?
No encerramento do Campeonato Brasileiro, vivi uma sensação muito estranha na vitória do Botafogo contra o Santos. Ao mesmo tempo que parecia que o clube carioca jogava muito bem, sobressaía um sentimento depressivo em relação ao clube santista. A grandeza da história santista é incomensurável, daí o incômodo causado pelo fim desta temporada, ao mesmo tempo que surgem as notícias das revelações no extraordinário trabalho de base do “Peixe”, que acaba de ganhar o Paulista sub-20, vencendo o Corinthians. Contradições.
Hoje temos uma medida de como estão as coisas nos times analisando seus uniformes. A poluição incrível de marcas comprova a penúria dos clubes. Quase sempre o roteiro é o mesmo, a marca de uma empresa de saúde, outra de alimentação, outra de escola, de acordo com as necessidades de sobrevivência de cada um, agora acrescidas de um site de apostas, até virar uma SAF.
Na Copa do Brasil sub-20, o Palmeiras conquistou mais um título, ainda dentro deste ano irregular de transição que não se sabe aonde vai dar. O jogo decisivo foi uma amostra do mau encaminhamento da formação das novas gerações dos clubes brasileiros. O desencontro dos garotos atormentando os árbitros é desanimador e a brigalhada e o vandalismo na torcida durante a carreata dos festejos do ano foram assustadores. Até o coordenador técnico do Atlético Mineiro sofre dura punição pelas declarações públicas contundentes contra as arbitragens. Tempos de temperatura elevada.
A dança dos técnicos destaca a saída de Victor Pereira depois de excelente trabalho no Corinthians e de Vojvoda com extraordinária campanha no Fortaleza, saindo da rabeira para a Libertadores pela segunda vez. Expectativa sobre o clube a vencer a concorrência por sua contratação.
No futebol internacional, a paralisação para o Mundial pega o premiadíssimo Cristiano Ronaldo embaralhado em seu fim de carreira, punido severamente pelo Manchester United por suas declarações inconformadas com a reserva. Vai refrescar a cabeça ou esquentar ainda mais na seleção portuguesa?
Agora estamos perto do início da Copa 22, “ outro valor mais alto se alevanta”, será?
Diferente
Em meio a tantas transações comerciais cada vez mais complexas do esporte-negócio atual, a proposta do Aston United, da sétima divisão do futebol inglês, para o norueguês Erling Haaland, a revelação cada vez mais valorizada do mais destacado futebol no mundo, produz uma sensação de leveza, conforto e bem-estar inimaginável nos dias de hoje. Trata-se de um contrato para o atacante do Manchester City jogar no Aston enquanto dura a Copa do Mundo. Seu país, a Noruega, está fora do Mundial, vem com uma justificativa no mesmo tom: “É melhor do que ele ficar jogando golfe por mais de um mês”. Valeu. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1235 DE CARTACAPITAL, EM 23 DE NOVEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Copa 22, COP-27”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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