Opinião

Confuso e amedrontado, Bolsonaro apresenta o novo ministro da Saúde e espalha mais mentiras

Olhos vidrados, quase catatônico, o ex-capitão mostrou mais uma vez não estar à altura do cargo

Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos / PR)
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Jair Bolsonaro estava protegido dos panelaços no interior do Palácio do Planalto, mas foi como se os gritos e sons que explodiram nas janelas das grandes cidades ecoassem bem ao lado de seus ouvidos. Assustado, quase catatônico, mais confuso do que costume, claudicante, o ex-capitão anunciou a demissão de Luiz Henrique Mandetta e apresentou o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, mais empresário do que oncologista.

A rápida cerimônia na tarde desta quinta-feira 16 trouxe à tona os mais profundos sentimentos de Bolsonaro, como ocorreu em certos e esclarecedores momentos de sua ascensão ao mais alto cargo do Brasil: nos poucos debates dos quais participou durante a campanha eleitoral, logo após o resultado das urnas que confirmaram a sua vitória em 2018 e nas horas difíceis do primeiro ano de governo. No fundo, bem no fundo da alma – e situações como as desta quinta a iluminam -, o presidente sabe que não está nem nunca esteve à altura do cargo. Os homens se medem nas circunstâncias, diz o famoso provérbio. Bolsonaro é a prova.

A tortura das palavras e da lógica chega a confundir a plateia. É difícil entender o que Bolsonaro pretende dizer, onde quer chegar. Neste ponto, o novo ministro Teich não destoa do chefe. Seu discurso de posse escorou-se em platitudes e no vazio de ideias. Negou a dicotomia entre economia e saúde. Falou em testes em massa em um país que primeiro ignorou a necessidade dos exames e depois passou a enfrentar dificuldades para adquiri-los no mercado internacional, dada a alta concorrência. Acenou com uma futura flexibilização do isolamento social, mas não teve a coragem de ir além de uma afirmação genérica. Não defendeu a cloroquina, nem criticou o uso do medicamento. O conselheiro Acácio até hoje faz escola.

Bem, de volta ao discurso tatibitate de Bolsonaro. No que foi possível entender, o ex-capitão:

1) Mentiu descaradamente sobre os recursos disponíveis para o combate à Covid-19 e o apoio emergencial para quem perdeu renda. Nem de longe o Brasil gastou 600 bilhões de reais nas medidas e muito menos alcançará a marca de 1 trilhão (delírio marqueteiro). Somos uma das nações que menos reservou dinheiro para proteger os cidadãos e as empresas (2,9% do PIB, contra mais de 5% em média entre os integrantes das 20 maiores economias). Não bastasse, o governo tem dificultado o acesso aos recursos ou não atua para que os montantes represados nos bancos privados, primeiros beneficiados pelo socorro, chegue a quem precisa.

2) Afirmou que os demais poderes – Congresso e Judiciário -, governadores e prefeitos precisam assumir as responsabilidades por seus atos, mas foi o primeiro a tentar se livrar. Bolsonaro insiste em empurrar a conta da futura recessão para os demais, principalmente os adversários, mas será ele o maior culpado, justamente por se recusar a criar um plano sanitário decente e um pacote econômico que de fato dê tranquilidade às empresas e aos cidadãos para atravessar os piores momentos. Não é verdade que o ex-capitão prefere a economia à vida. Ele despreza os dois, trata-os com a mesma displicência e incompetência.

3) Insistiu na tese fantasiosa de que a economia brasileira estava “voando” antes da pandemia do coronavírus. Outro delírio da propaganda oficial. Nos dois primeiros meses do ano, a indústria, o comércio e os serviços mal conseguiram se recuperar das perdas de novembro e dezembro. Em fevereiro, segundo as prévias, o PIB girava a 0,66% ao ano. Isso tudo (ou nada) depois de um medíocre crescimento de 1,1% em 2019.

Quem batia panelas não percebeu. Ou talvez tenha percebido há tempos. Mais do que mentiroso e despreparado, o homem escolhido para governar o País é medroso.

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