Alberto Villas

[email protected]

Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Como não organizar uma biblioteca

Entrou pandemia, saiu pandemia, e eu continuei aqui, convivendo com os meus livros totalmente fora de ordem

Apoie Siga-nos no

Desde o início da pandemia, prometi a mim mesmo organizar a minha biblioteca. O caos se instalou nela não é de hoje. Não que os livros estejam jogados, empilhados ou estropiados. Estão impecavelmente nas estantes, só que completamente fora de ordem.

As obras completas de Pedro Nava, por exemplo, estão ao lado dos poemas de Paulo Leminski. Os cinco volumes sobre a Ditadura, de Elio Gaspari, estão coladinhos ao Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco. Já A Dança dos Homens, de Autran Dourado, está ali perto da Fogueira das Vaidades, de Tom Wolf. Enfim, uma zona.

A única organização que tem na minha biblioteca são os escritores latino-americanos americanos, todos reunidos em duas prateleiras bem compridas: Julio Cortázar, Manuel Puig, Juan Rulfo, Ernesto Sabato, Gabriel García Márquez, Jorge Luiz Borges, Carlos Fuentes, Augusto Roa Bastos, estão todos arrumadinhos, porque isto foi feito antes da pandemia, quando eu resolvi organizar minha biblioteca, e parei por aí.

Meu sonho era ter uma espécie de galpão, onde pudesse, em quatro paredes, construir estantes para abrigar todos os livros. Mas não. Eles estão aqui espalhados por esse apartamento, em dois escritórios, uma sala, um corredor, um antigo quarto de empregada e um pequeno cômodo que outrora abrigava um lavabo.

O primeiro volume da biografia de Getúlio Vargas, do Lira Neto, pode estar aqui no meu escritório, o segundo na sala e o terceiro no home office da minha mulher.

Um inferno. Tem uma semana que eu estou procurando o Grapefruit, um livrinho de poemas da Yoko Ono, dos anos 1960, e não acho, não tem jeito. Já comecei a procurar um por um, inúmeras vezes, mas desisti poucos minutos depois.

A ideia seria colocar por ordem alfabética, pelo nome do autor. Ia ficar engraçado ver os livros de Mia Couto ao lado dos livros de Millôr Fernandes, mas teria certeza de que o Irmão Alemão, de Chico Buarque, estaria mais ou menos perto de Caio Fernando Abreu, de Cecilia Meireles, de Carla Madeira ou de Castro Alves.

Todo fim de ano, eu me prometo colocar ordem nessa biblioteca, descartar uns livros, deixar apenas os essenciais. Isso nunca aconteceu. Aliás, a única vez que aconteceu foi quando dei para um amigo O Jogo da Amarelinha, de Cortázar, isso porque tinha dois exemplares absolutamente iguais, não me pergunte o porquê.

Entrou pandemia, saiu pandemia, e eu continuei aqui, convivendo com os meus livros totalmente fora de ordem.

Tem anos e anos que eu procuro um livro sobre a comunidade de Cristiania, livro que comprei em Copenhague quando visitei os hippies de lá. Tenho certeza que tenho, mas ele nunca foi encontrado. De tempos em tempos me vem na cabeça que eu emprestei para alguém e esse alguém nunca me devolveu.

O livro Fazenda Modelo, do Chico, também anda sumido não é de hoje. Um dia acho, quem sabe.

Resolvi contar essa história porque estou lendo o livro Como Organizar uma Biblioteca, de Roberto Calasso. Sabia que não era um guia, um passo a passo de como colocar ordem nos livros, tipo Marie Kondo. Estou na metade e absolutamente encantado. Trata-se de um ensaio sobre o mundo dos livros, dos autores, das bibliotecas.

Assim que acabar, vou guardá-lo para sempre. Ele será encaixado entre a biografia do Carlos Marighella, do Mário Magalhães, e a vida e obra de Maria Callas. Isso porque, entre os dois, há uma fresta em que cabe direitinho o Como Organizar uma Biblioteca.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo