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Opinião

Com quantos chocolates se destrói a educação?

Dizer que os cortes orçamentários nas universidades e institutos federais equivalem a guardar três ‘chocolatinhos’ e meio para setembro não é desconhecimento, é má fé

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Por João Batista da Silveira

Jair tem dez laranjas, dá sete maçãs para Abraão fazer uma torta americana. Com quantos chocolates se destrói a educação? Talvez seja esse o problema que passará a ser cobrado em exames de avaliação do ensino de matemática nos anos iniciais do Fundamental I, como a Prova Brasil, sob a batuta de Weintraub à frente do Ministério da Educação (MEC).

Como ficaria o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) sob essa égide é uma incógnita, mas é possível que o ministro seja qualificado demais — sobretudo em distorcer números, na medida de seu interesse — para se preocupar com isso.

Confundir 30% com 3,5% enquanto alimenta, literal e metaforicamente, o apetite voraz do presidente da República (seja com o 0,5% de Prestígio restante — substantivo cuja queda, em outra conotação, deve mesmo estar fazendo-o engasgar —, seja com total disposição de destruir a universidade pública, não é a única qualificação demonstrada por Weintraub.

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Aliás, sob seu comando, as provas de Língua Portuguesa do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) também podem sofrer mudanças. No dia 29 de abril, por volta do meio dia, o senhor ministro da Educação publicou em seu Twitter, que tem como apresentação, além da sua foto, uma pomposa “hashtag Educação”, uma postagem para justificar não ser ele uma pessoa violenta.

Como explicação, alega ter começado a trabalhar aos 17, ser casado com uma única mulher e com ela ter três filhos e pagar seus impostos. Ao reclamar de notícias falsas sobre si, lascou um “insitaria a violência” em vez de “incitaria”.

Não foi a primeira vez que uma alta autoridade deste desgoverno escorregou na gramática e chutou a “última flor do Lácio”. No dia 24 de janeiro, fora a vez do senhor Marcus Vinícius Rodrigues, então indicado para a presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Em seu discurso de posse, ao falar sobre o Enem, Rodrigues foi enfático ao dizer que a prova será eficaz na formação de “cidadões (sic) íntegros, éticos, com conhecimento e trabalhadores”. Vale lembrar que em seu discurso em Davos, o presidente Boçalna…Bolsonaro (perdoem o lapso ortográfico) afirmou que “Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados”. Dá para imaginar se os ditos laureados não fossem competentes?

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A questão, porém, não é se o titular do MEC ou outros membros do alto escalão do desgoverno tornam a flor de Olavo Bilac mais inculta do que bela, ou se Weintraub gostou tanto de “A metamorfose” e “O processo” que os devorou como se fossem um prato árabe.

Na defesa de uma educação inclusiva e não discriminatória, insere-se na nossa luta o combate a todos os tipos de preconceito, até mesmo o linguístico. Tampouco é necessário que todas as pessoas, sem exceção, tenham tido acesso a um dos maiores expoentes da literatura tcheca. Em contrapartida, dizer que os cortes orçamentários nas universidades e institutos federais equivalem a guardar três ‘chocolatinhos’ e meio para setembro não é desconhecimento, é má fé.

João Batista da Silveira é secretário de ensino, advogado, professor de História e membro das diretorias executivas da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), da Federação Sindical dos Auxiliares de Administração Escolar no Estado de Minas Gerais (Fesaaemg) e do Sindicado dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais (Saaemg)

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