Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Check-up

Levei um tombaço quando tentava, do alto dos meus 72 anos, pegar o livro ‘Crônicas Caribenhas’, lá em cima na última prateleira

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O meu pai costumava dizer que o corpo humano era como um automóvel. Brincava que se comprasse um carro zerinho, atravessasse a rua e entrasse numa oficina mecânica, iam encontrar um monte de coisas pra fazer nele.

Com o passar do tempo, o carro começava a dar defeito, a bater pino, e com o corpo humano era a mesma coisa.

Era assim que justificava sua diabetes, sua hérnia umbilical. Comparando com a sua Rural, que ia apresentando problemas com o passar dos anos.

O meu pai foi dono de uma Rural durante mais de vinte anos. Raramente entrava numa oficina mecânica, tempo em que oficina mecânica era sinônimo de imundice, muita graxa, muito óleo no chão e uma sueca nua na folhinha dependurada na parede.

Não gostava de ir ao médico, só ia quando a coisa ficava feia. Só ia ao mecânico quando a Rural simplesmente não pegava mais.

Tem uma semana que eu me lembro dele todos os dias. Isso porque resolvi fazer um check-up completo, revisão dos 72 mil quilômetros rodados.

Como se tivesse batido com a Rural, levei um tombaço de um banco, quando tentava, de meias, do alto dos meus 72 anos, pegar o livro Crônicas Caribenhas, do Gabriel Garcia Márquez, lá em cima na última prateleira, rente ao teto do meu escritório.

A dor no ombro me levou a uma especialista em ombros, e depois de um exame minucioso, veio o diagnóstico: alteração degenerativa acromioclavicular, com esboços osteofitários marginais e discretos cistos subcondrais, além de expessamento cápsulo-ligamentar.

Ainda bem que oacrômio se apresentou sem inclinações anômalas.

Resultado: vou ter de operar.

Como vinha sentindo dores nas pernas ao caminhar, e gostei do hospital em que fui ver o ombro, resolvi fazer uma ultrassonografia com doppler. Não me lembro mais se colorido ou não.

Muito cuidadoso, o médico ia me explicando, me mostrando na tela, o movimento do meu sangue nas veias. Fiquei impressionado. Ele me acalmou e deu o veredito: sua veia aorta está com refluxo! E aí, perguntei. Sugiro cirurgia, disse ele. Não é grave, não é urgente, mas um procedimento vai acabar com essa sua dor.

No terceiro dia fui ao oftalmologista, passando por toda aquela via crucis. Pinga colírio, coloca o queixo no aparelho e começa a recitar letras.

Melhorou? E agora? Melhorou ou piorou? Assim está melhor?

Bem, depois dessa maratona, ele veio com uma sugestão: você tem um principio de catarata e eu sugiro cirurgia.

Resumo da ópera: em três dias, fiquei sabendo que preciso operar do ombro, da perna e do olho. É como se a Rural estivesse com a marcha quebrada, os pneus murchos e a bateria arriada.

Ainda falta ver como estão os pulmões, os rins, o pâncreas, a pele, os ossos… o coração. Bem, o coração eu tenho certeza que continua apaixonado pela vida!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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