Opinião

Bolsonarismo: origem e final

Torço para que, no Brasil, não haja mais oportunidade ou necessidade de personificar o dono do poder incumbente como um insano

O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Douglas Magno/AFP
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O Museu do Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo, antes Museu Paulista, foi construído entre 1885 e 1890, em comemoração à Proclamação da Independência (1822). Em 1894, foi integrado à USP.

Daí em diante, apesar das várias mudanças de governos estaduais, servido e organizado pelo Departamento de História, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tornou-se passeio obrigatório, sobretudo, para famílias paulistanas e paulistas, que levavam os filhos para conhecer o Parque, o Monumento, o Palácio, seus interiores e obras históricas.

Tenho fotos (circa 1950, qualquer provável domingo). Eu bonitinho, mãos dadas a meu pai (terno e gravata sempre, nariz do árabe que era) e minha mãe (vestido de tecido fino, pequeno casquete cobrindo os cabelos claros, olhos verdes da gaúcha de Pelotas que era). Nas fotos tudo parecia paz e orgulho.

Vivos estivessem, não sei o que achariam do filho único, ogro esquerdista, pior, pois afável, simpático, bonzinho, equilibrado, aceito ao escrever em CartaCapital, de Mino e Manuela Carta, e no GGN, de Luís e Lourdes Nassif, sendo eles, na época eleitores de Adhemar de Barros (1901/1969) – mito do Partido Social Progressista (PSP) – renhidos adversários de Jânio Quadros (1917/1992) – mito de vários partidos ou coligações de direita.

Mitos populistas, que viriam a suceder governos militares – nos primeiros anos da República – e civis oligarcas, geralmente sem partidos políticos, nos anos seguintes, invariavelmente incumbentes instalados no Poder para impedir o desenvolvimento do País através de formas oportunas e modernas do capitalismo.

Nas poucas ocasiões em que a política tentou fazer valer um modelo econômico que abrangesse espectros mais amplos e igualitários das camadas sociais (Getúlio Vargas, João Goulart, o Partido dos Trabalhadores e Lula – este, ainda como mito), foram defenestrados por forças bélicas, midiáticas, judiciárias e empresariais, representantes da elite oligárquica pós-República, a se contentar por termos eleições livres e majoritárias a aceitarmos ter um regime que respeita e Estado Democrático e de Direito.

É neste momento que o filho ogro, dócil do Museu do Ipiranga, relembra máxima antiga, principalmente no respeitado interior paulista, e avança com a sua ira: “no cu, Jacu”!

Tontos, apoiadores do novo mito habilitado do mais fétido esgoto, ele se foi como tantos outros. Talvez com menos classe, tal sua estupenda ignorância e paixão por joalheria.

Pois bem, é lá que está exposta a pintura (1888) Independência ou Morte, do paraibano Pedro Américo (1843-1905). Pasmem, pois, sacripantas que propõem separar o Brasil do Nordeste. Até mesmo apresentada em museus de Paris ela foi.

Por isso, a qualquer região ou cidade que visito, por menor que ela possa ser, pergunto, sob olhares surpresos, onde fica o museu com a história local. Daí venho para o teclado e trago meus rumos agropecuários com maior propriedade. Não deixo de incluir conversas de boteco com idosos, caboclos, caipiras, campesinos, sertanejos ou tabaréus. Também autoridades políticas e eclesiásticas para entender por que, ali, escolheram produzir banana, laranja ou vaca de leite. Como tudo começou?

Isso, nesta coluna, justifica título e momento especial que vive a Federação de Corporações Brasil, um país que “de 15 em 15 anos esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos” (Ivan Lessa – 1935/2012), e que me faz voltar para séculos e afirmar que Jair Messias Bolsonaro acabou, mas o bolsonarismo poderá ser eterno nesta não Nação.

Não recomendo a todos, muito menos aos quase octogenários como eu (embora pouco acredite longevidade maior), mas sim aos jovens de pelo menos duas gerações atrás.

Em 1982, a editora Difel – SP publicou em 3ª edição História Geral da Civilização Brasileira, sob coordenação do professor e historiador Sérgio Buarque de Holanda e participação dos mais importantes pesquisadores do País. São dez volumes, em tomos, que vão da “Época Colonial” ao “Brasil Republicano”, encerrando o estudo com “Sociedade e Política” (1930-1964).

Daí em diante, penso capazes as gerações mais recentes de entenderem título da coluna e suas intersecções com a atualidade dos agronegócios e dos alicerces do bolsonarismo, de agora à frente, para mim, ultradireita, como em todo o planeta.

Torço para que, no Brasil, não haja mais oportunidade ou necessidade de personificar o dono do poder incumbente como um insano tal qual foram Stálin, Mussolini, Hitler, Idi Amim Dada, Franco, Salazar, Enver Hoxha, Sukarno, tantos outros golpistas como o brasileiro Jair Messias Bolsonaro.

Peço pouco. Vocês da ultradireita, rural ou não, antidemocráticos por certo, em transe desinteligente histórica, política e perversão social, lembrem-se, nós vencemos e de tudo faremos para reconstruir a verdade de uma Nação Cidadã que une o forró de Lucy Alves com o “Manifesto” de Lenine e Emicida.

Inté!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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