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Bolsodória: um Desprojeto de Nação

BolsoDória é mais eficiente do que a versão clássica do bolsonarismo em promover barbáries e retrocessos

Foto: Reprodução/Redes Sociais João Doria e Bolsonaro em tempos de paz. Foto: Redes Sociais
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Engana-se quem acha que a eleição de Bolsonaro era o fim de uma estratégia. É uma das etapas, uma batalha da guerra que pautará, não apenas a política brasileira, mas o mundo nas próximas décadas.

Paul Krugman, economista liberal e ganhador do prêmio Nobel de 2008 e a revista-bíblia dos liberais respeitáveis, a “The Economist, concordam em uma coisa: A próxima grande recessão econômica global está próxima. De outro lado, o capital na sua expressão financeira e de seus governos não recuam das políticas de austeridade que destroem economias nacionais ao redor do planeta, a crise ambiental atinge um novo e mais profundo patamar de gravidade e os direitos sociais dos países de capitalismo central tornaram-se nostálgicos diante das ofensivas sobre o trabalho e os serviços públicos. Para a maioria dos países periféricos as pretensões desses direitos contrastou com expressões da barbárie.

Diante da eminência de uma próxima grande recessão econômica, há brigas entre o 1% dominante. Vimos como “BolsoDória” apunhalou seu padrinho político, Alckmin, pelas costas para tentar a vaga à presidência pelo PSDB. Há, por exemplo, divergências sobre qual a melhor proposta de reforma da previdência. Alckmin criticou a proposta do governo, enquanto Dória sugere que Bolsonaro aproveite a popularidade para descer goela abaixo uma proposta Draconiana de retirada de direitos e com incentivo aos setores financeiros com o regime previdenciário de capitalização.

A direita paulista sempre buscou protagonismo na condução do país desde a instituição da Republica e, atualmente, Alckmin versus Dória mostra a disputa nessa projeção de protagonismo. Dória expressa a essência da ofensiva neoliberal que vivemos, qual seja: o corte de intermediários e o fim de qualquer concessão, inclusive, à direita “tradicional” velha representante das oligarquias locais e nacionais. O estilo “BolsoDória” combina esses elementos e a demagogia cínica que muda de posição entre o centro e a extrema-direita conforme pesquisas de opinião nos temas não diretamente pautados pelo capital; nesses, ele é coerente.

Nesse sentido, o capital expresso no mercado financeiro globalmente organizado está elegendo representantes fiéis ao redor do mundo e inserindo nas estruturas dos estados nacionais lacaios de confiança para aprovarem políticas que ampliem a margem de lucro das grandes corporações.

Não é à toa que Dória passou a maioria de seus dias como prefeito fora do país.

A verdade é que ele sequer é representante da elite nacional, mas representa a agenda política das maiores corporações mundiais e segue sendo uma das principais apostas dessa “nova” direita para disputar a presidência em 2022.

No Fórum Econômico Mundial em Davos composto por empresas e executivos de peso, Paulo Guedes e Bolsonaro mencionaram Dória 4 vezes como um dos futuros possíveis presidentes do país e os três, Guedes, Bolsonaro e Dória, discursaram sobre a imprescindibilidade da reforma da previdência para atrair investidores para o país. Dória se elegeu colando sua campanha na de Bolsonaro e estampando camisetas de “Bolsodória”. Bolsonaro se elegeu com uma base sólida e agora é o pivô desse caos político que, generosamente, pode-se chamar de governo.

Agora, meses depois, o governo tutelado pelos militares enfrenta suas primeiras crises políticas: as relações da família de Bolsonaro com as milícias e, possivelmente, com o assassinato da vereadora Marielle Franco; os esquemas de lavagem de dinheiro e seu personagem principal, o motorista Queiroz; as candidaturas femininas laranjas. Soma-se a isso a dificuldade significativa do governo em aprovar a reforma da previdência.

Leia também: Para o cemitério e em silêncio

Em São Paulo, Dória tem amplo apoio do agronegócio, promete mandar cidadãos para o cemitério e seu secretariado é composto por 8 dos 11 ministros que assumiram após o impeachment no governo de Michel Temer.

Enquanto Bolsonaro é tutelado pelos militares e enfrenta graves crises econômicas, Dória critica a ineficiência do governo em aprovar a reforma da previdência e traz o “dreamteam” do neoliberalismo para chefiar o Estado de São Paulo.

Não é improvável que Bolsodória tente se afirmar como uma versão alinhada ao “Bolso” original na política e na economia, mas mais eficiente. Tendendo lentamente a se deslocar da base de aliados do governo, visando a disputa presidencial em 2022, nossa tarefa é não deixa-lo esquecer: Uma vez Bolsodória, sempre Bolsodória!

Nesse sentido, opor-se ao governo João Doria não é apenas fazer frente aos retrocessos do governador, e sim resistir a um projeto de país desumano e financista que está cravando seus alicerces em solo paulista. Impedir tal projeto presume nacionalizar a atenção ao risco.

É importante que o Brasil todo conheça a trajetória de traições políticas de Doria e seus resultados. O conjunto do campo progressista brasileiro sabe, ou deveria saber, que antes que Doria construa seu projeto rumo à cadeira de presidente da nação, precisamos agir.

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