Justiça
O beco sem saída da esquerda institucional
O ano é 2022 e a esquerda institucional está perdida e incapaz de apresentar um concorrente à altura
O ano é 2022.
Jair Bolsonaro está na chefia do Executivo Federal e vai disputar a reeleição.
Nas principais capitais do país não houve qualquer tipo de frente ampla progressista nas eleições de 2020, impedindo que fossem criados espaços de oposição mais sólidos contra o bolsonarismo, apesar da gravidade da situação econômica, social e política.
No Rio, a direita venceu novamente a disputa da capital após o campo progressista ter rachado. Marcelo Crivella (Republicanos) e seu obscurantismo religioso continuam no poder e Wilson Witzel (PSC) é o favorito para reeleição, após fazer as pazes com a família Bolsonaro. Em Salvador, Vilma Reis (PT), com forte apoio popular, foi limada da disputa a portas fechadas, possibilitando que ACM Neto (DEM) continuasse por mais quatro anos. Em São Paulo, Jilmar Tatto (PT) foi indicado como candidato do petismo ainda que não tivesse nem 1% das intenções de voto. Sem acordo de união entre nomes progressistas da capital paulista, Celso Russomano (Republicanos) assumiu a cadeira. Em Porto Alegre, outro racha impediu a formação da frente ampla, e Osmar Terra (MDB) triunfou assustadoramente.
O Brasil ainda não se recuperou da maior recessão da História e o desemprego que já era altíssimo explode de vez. Em troca da privatização do Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobrás – para “salvar” o país da recessão – todos os processos envolvendo a família Bolsonaro foram arquivados ou dormiram nas gavetas dos agentes da lei. A rede de proteção social existente é enterrada de vez. Apesar do heroico papel desempenhado durante a pandemia, o SUS continua sucateado e maltratado. Augusto Aras e Jorge Oliveira estão no Supremo Tribunal Federal, nas vagas dos aposentados Celso de Mello e Marco Aurélio. Ricardo Salles conseguiu seu objetivo: a Amazônia entra em ritmo de savanização, irreversível.
Lula e Ciro. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
No início do ano é, então, finalmente instalada reunião dos partidos políticos de várias correntes, do centro à esquerda, para a definição da frente ampla progressista contra o bolsonarismo para a disputa da Presidência da república. Os partidos dizem ter apreendido com os erros nas disputas de 2018 e 2020 onde não houve a formação das frentes amplas. Além disso, a democracia está em jogo, afirmam, e há de haver grandeza e espírito republicano das nossas lideranças em prol do Estado Democrático de Direito. É a luta da civilização contra a barbárie.
A pauta do dia é a definição da chapa que concorrerá à Presidência da República pela frente ampla:
Vamos de Ciro e Haddad?
– Não dá, o PT não vai abrir mão de ser cabeça de chapa!
Lula e Ciro?
– Lula foi preso babaca!
Lula e alguém?
– Esquece o Lula, ele polariza!
Então Haddad e Ciro?
– O Ciro não aceitaria!
Ciro e Dino?
– Os dois são do Nordeste, tem que diversificar perfis!
Governador do Maranhão, Flávio Dino. Foto: Gilson Teixeira/GMA
Ciro e Maia?
– Maia é de direita!
Huck e Dino?
– Huck é da Globo!
Dino e Huck?
– Dino é comunista!
Marina e Huck?
– Marina é contra o agro. Agro é POP. Huck é POP. Marina é contra o Huck!
Dória e Maia?
– Não era frente progressista?
Ciro e Dória?
– Um mata o outro antes da posse…
Haddad e Dória?
– Petistas e tucanos se odeiam!
Boulos e Dória?
Gargalhadas.
Sem acordo, é marcada nova reunião da frente ampla progressista, para Agosto de 2022, data limite para definição das candidaturas, de acordo com a legislação eleitoral. Inspirados – dizem eles – nos movimentos suprapartidários pela redemocratização nos anos 1980 e a favor das Diretas Já, todos os partidos políticos do centro à esquerda se reúnem para finalmente definirem a chapa da frente ampla progressista contra o bolsonarismo, que disputa a reeleição:
Pessoal, de acordo com a lei eleitoral, o prazo para a inscrição das candidaturas é amanhã. E ainda não chegamos aos nomes da nossa frente ampla! O que fazemos?
– Olha, ficou claro que temos diferenças incontornáveis entre nós. Como não houve acordo, cada partido se inscreve como quiser.
Mas e o fascismo?! A democracia está em perigo!!
– Qualquer coisa a gente conversa no 2ª turno.
Mas e o desemprego? A pandemia? A violência? A Amazônia destruída?
– Calma, cada turno é uma eleição. A gente se une no 2º turno. Desta vez não tem como dar errado.
E se der?
– Será a luta da civilização contra a barbárie! A democracia estará em jogo! Faremos uma frente ampla progressista em 2026! Não passarão!
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.