Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Anestesia geral

Depois de receber qualquer picada, basta eu dar uns dois passos, que já me sinto meio febril. Isso já virou chacota aqui em casa

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Hoje cedo, assim que levantei a manga da camisa do lado esquerdo para tomar mais uma dose de vacina no postinho do SUS, na Lapa, já fui logo fazendo careta.

– O que é isso, senhor? Está com medo? caçoou a enfermeira, bem novinha, da idade da minha neta.

Fui logo dizendo: eu não tenho medo, eu tenho um verdadeiro pavor de injeção, qualquer tipo de injeção, seja no braço, na bunda ou na barriga.

Ela colocou a vacina na seringa, me mostrou que a dose estava certa, mas eu nem quis ver. E disse:

– Relaxa, senhor!

E eu nada de relaxar, meu braço parecia um tronco de eucalipto. Mas acabei relaxando e tomando a vacina.

É tiro e queda. Depois de receber qualquer picada, basta eu dar uns dois passos, que já me sinto meio febril. Isso já virou chacota aqui em casa.

Eu abro a porta depois de retirar sangue, minha mulher vai logo perguntando:

– Tá febril?

E eu juro que estou.

Não sei por que tomava tanta injeção quando criança. Mas era tanta, que até hoje sinto o cheiro de éter lá naquele cômodo apertadinho no fundo da Farmácia Nossa Senhora do Carmo. Enxergo aqueles estojinhos de alumínio fervendo juntamente com as seringas, que não eram descartáveis, até arrepio.

Acho que pra minha mãe, qualquer problema que qualquer um dos cinco filhos tinha, bastava uma boa dose de Benzetacil na bunda. E Hormínio, o farmacêutico, sabia disso. E caprichava na dose.

E não é que a gente melhorava?

Naquele tempo, pais sem psicologia nenhuma costumavam dizer a seus filhos que se eles não se comportassem, não parassem de fazer bagunça, eles iam na farmácia pra tomar uma injeção.

No meu tempo era assim.

Quem tinha coragem de continuar a briga de travesseiro, com paina voando pra todo lado, sabendo que o castigo seria uma injeção?

Pensando com os meus botões, fico imaginando uma mãe chegar com o filho na farmácia hoje e pedir pro farmacêutico da uma injeção no menino porque ele está fazendo muita bagunça.

Resumindo: estou aliviado, vacinado contra a Covid, são e salvo. Só estou me sentindo um pouco febril…

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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