

Opinião
A Universidade do Esporte
Investir na prática de diferentes modalidades é uma forma de tentarmos alcançar, como país, uma sociedade mais saudável


Uma notícia auspiciosa recente é a criação da Universidade do Esporte. A declaração foi dada pelo presidente Lula na quinta-feira 28, durante um encontro com atletas da ginástica rítmica que conquistaram medalhas no Mundial disputado no Rio de Janeiro.
Trata-se, a meu ver, de uma oportunidade de refletir sobre o papel do esporte na vida atual do País. Ao mesmo tempo, penso sobre o que isto significa de fato no nosso dia a dia.
Me lembro do ex-jornalista e técnico da Seleção João Saldanha (1917–1990), no filme Passe Livre (1974), dirigido por Oswaldo Caldeira, afirmando: “Do ponto de vista da saúde, o esporte profissional dos nossos dias é totalmente contraindicado”.
Passados todos esses anos, essa questão tornou-se ainda mais gritante, principalmente nos dias de hoje. É um problema gigantesco que uma universidade não resolveria sozinha, mas ajudaria a instigar a discussão.
Este é um problema político, econômico e até filosófico, que nos obriga a lembrar dos primórdios do desenvolvimento das atividades esportivas, desde as ginásticas dos gregos e outros povos. Houve um momento em que se reconheceu a importância da atividade física na saúde das pessoas, e a Educação Física passou a ser exercida nas escolas.
No contexto atual, a atividade desportiva profissional é estruturalmente geradora de problemas de várias origens. A duração relativamente breve desse tipo de atuação profissional é o princípio das várias repercussões desse dilema da vida atual.
Uma das questões postas neste momento é a geração de sequelas sobre os atletas submetidos a exigências sub-humanas em todos os esportes. Isto se dá tanto pelas condições a que eles são submetidos materialmente quanto pelos calendários.
Esses calendários envolvem viagens, diferentes climas e topografias e também as questões pessoais. Mas é certo que o excesso impacta os atletas nos variados esportes – do boxe ao futebol.
Neste momento, discute-se os “campos sintéticos” e mistos, que substituem os gramados naturais, incapazes de suportar a carga de disputas. Porém, nem a evolução dos materiais esportivos consegue resolver esse problema.
O lado emocional é o mais importante, gerando problemas cada vez mais frequentes. O motor de tudo é, como sempre, a questão econômica. Mas não podemos também desconsiderar a raiz dos esportes: a disputa, o vencer e o superar o oponente.
A partir daí, a história chega demonstrando a evolução dos inocentes gestos da ginástica até as academias de formação de superatletas que buscam superar os adversários – também na busca sem limites por ganhos financeiros.
O esporte é, além de tudo, uma forma de expressão. E ele deveria ter como alvo final a conquista do bem-estar e da saúde em todos os aspectos. Mas isso parece estar cada vez mais distante.
Nesse sentido, o grande ganho de uma universidade específica seria o estímulo cada vez maior à diversidade de atividades esportivas, alcançando também um contingente maior de participantes.
Estamos diante de uma quimera, mas vale a pena levar em conta todas essas implicações e procurar os caminhos da convivência justa. Seguimos sonhando com os esportes sendo praticados sem distinção – tanto no que diz respeito às mais variadas atividades quanto ao perfil de quem as pratica.
Vemos, cada vez mais, mulheres competindo em diferentes práticas esportivas, nos ensinando a ter um ambiente menos violento em comparação com o que frequentemente vemos, por exemplo, no futebol.
Mesmo sabendo que tudo isso depende de uma mudança profunda, sonho ainda com a criação dos Centros de Iniciação Olímpica (CIOs) voltados à infância e à juventude.
Esse tipo de investimento permitiria alcançar, como país, uma sociedade mais saudável em todos sentidos. •
Publicado na edição n° 1378 de CartaCapital, em 10 de setembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Universidade do Esporte’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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