Opinião

A resposta a Bolsonaro, no dia 2 de outubro, está cada dia mais próxima

A reação pacífica nas urnas é o que os agentes do mal temem. Por isso, atacam as urnas e buscam desacreditá-las

Foto: EVARISTO SA / AFP
Apoie Siga-nos no

“Se falta o intelecto a uma pessoa, ela não sabe distinguir o mal do bem, de modo que não pode verdadeiramente buscar e nem possuir a bondade real.”
Leon Tolstoi.

Lula continua liderando o Partido dos Trabalhadores (PT), no sentido mais gramsciano: hegemoniza culturalmente o partido e toda a esquerda, como vanguarda que catalisa anseios e elabora táticas para a vitória.

Um líder que sabe escolher e priorizar a cultura, centro da política, como Antonio Gramsci bem identificara, em complemento da economia, por Marx priorizada.

Ao lado disso e de forma coerente privilegia a participação, sem a qual a democracia é letra morta, envólucro vazio, engodo político.

Ao absurdo do orçamento secreto de Bozo e Lyra, mero esgoto de compra de votos, contrapôs o orçamento participativo, fonte de democracia real, efetiva, participativa; já dissera o Cristo, “onde estiver teu tesouro, aí estará teu coração”.

No submundo, porém, os ratos e Ratinhos (inclusive o Júnior) chafurdam: a PolíSSia SSivil do PR (sigla a ser lida em ambas as acepções) conclui que não houve móvel político no assassinato de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, ainda que vídeos e testemunhas provem o contrário, de firma irrefutável.

Fica a pergunta: para que pagamos essa gente? Qual a serventia? A quem prestam favores?

Também poderíamos nos perguntar: o que é pior no Paraná? Um Rato em Palácio? A Câmara Municipal que tenta cassar um vereador por ser negro (o pretexto foi outro, evidentemente) ou a PolíSSia SSivil que investiga já tendo as conclusões prontas no bolso (no caso, na bolsa)?

Não fica o pujante Estado na Região Sul Maravilha?

Até quando iremos nos enganar em não entender que crimes são federais? Que o miliciano mor está em Brasília, por se multiplicando a criminalidade? Que seus sequazes estão espalhados por todo o país?

Ah, mas no Rio de Janeiro é pior! Lá as milícias, base de sustentação do monstro, dominam territórios.

Não o fazem em Porto Alegre, a maior capital do Sul Maravilha? Experimente entrar na Vila Fátima ou outras tão bem descritas por José Falero, em seus dois excelentes livros “Os supridores” (o que faz Tarantino que ainda não o transformou em filme que ganhará Oscar, Cannes, Leão e Urso de Ouro?) e “Mas em que mundo tu vive”?

Quando entenderemos que o problema do Rio é federal?

Não era a capital federal? Não foi interrompida a transição pelo golpe de 1964? Em política, existe vácuo político?

De fato, a cidade fora imensamente prejudicada pela mudança da capital federal para Brasília, sem que houvesse uma transição que a mantivesse socioeconomicamente sadia. Após o golpe de 1o de abril de 1964, a cidade foi literalmente abandonada à própria sorte, pior, sendo ainda governada pelo “Corvo”, Carlos Lacerda, algoz de Getúlio Vargas e conspirado dos golpes de estado de 1954 e 64.

A própria beleza da cidade rejeitava a feiura da ditadura militar, afeita ao isolamento, aos conchavos em latifúndios, às vastas casernas e aos vastos privilégios que as acompanham.

À retirada da máquina federal, o que se seguiu? Sem um projeto estratégico de geração de emprego e renda, como a Alemanha, sabiamente, faria posteriormente na transferência da capital federal de Bonn para Berlim, como poderia o Rio não ser assaltado pela criminalidade?

Como não se tornar refém de falsos defensores de pequenas vantagens corporativas que encobririam alianças criminosas, frutos podres da promiscuidade entre o privado e a pilhagem do público?

Não são isso as milícias? Não estão compostas pelas bandas podres das polícias que passam a cobrar por serviços que o estado não consegue prover, muitas vezes impedido pela própria ideologia do estado mínimo propalada por esses mesmos interesses criminosos? Não é esse o caldo de cultura em que vicejou o genocida e a família, por ele levada ao crime?

O assassinato de Marielle não resulta da metástase desse câncer criminoso, reagindo à possibilidade de cura, que terminaria um dia por expeli-lo?

O assassino não é vizinho do capetão no condomínio Vivendas da Barra? Não esteve em sua casa no dia do crime?

Igualmente, não está nesse contexto o ataque fascista ao deputado Marcelo Freixo, ocorrido no último sábado em uma feira pública no Rio de Janeiro?

Não era Freixo o mentor político de Marielle? Não foi o relator da CPI das milícias e por elas ameaçado de morte?

Não resta dúvida: todos os crimes acima extrapolam as dimensões municipais ou estaduais. São federais e só superaremos juntos, em conjunto, ou não o faremos e seremos, então, definitivamente derrotados.

Vale notar que o matar duas vezes – uma física, outra simbolicamente – como vemos fazerem as polícias do PR (sigla que se presta aos dois sentidos, no caso) e do RJ (que jamais chegou aos mandantes do crime, como a Polícia Federal no Amazonas, no caso das mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira), seguem à risca a cartilha da máfia italiana, que tanto assassina física quanto simbolicamente as vítimas, buscando destruir-lhes a reputação posteriormente à morte, para, assim, reduzir e, de certa forma, justificar os crimes cometidos.

Sobre essa gênese comum entre a criminalidade no Brasil e na Itália e as relações promíscuas que ensejaram entre público e privado, vale a leitura de “Don Vito” (editora Feltrinelli), de Massimo Ciancimino e Francesco La Licata.

A propósito da recente privatização da água no Rio de Janeiro, do aumento das favelas e da situação de penúria que enseja a expansão de máfias e milícias, os autores recordam a capital da Região da Sicília, Palermo, nos anos 50: “Até a água para beber e lavar-se chegava duas vezes por semana.”

Triste e similarmente com o que ocorre aqui, complementam: “Mas ninguém, exceto os estraga-prazeres de sempre (prefeitos e comunistas), protestava tanto assim. Tudo ia bem e, até quando as estradas se tingiam do vermelho sangue das guerras de máfia, ninguém se alarmava, de fato. Os ricos viviam suas vidas, como se vivessem em outro planeta, por nada atingidos pelo fedor dos cadáveres e da corrupção.”

A reação pacífica nas urnas é o que os agentes do mal temem. Por isso, atacam as urnas e buscam desacreditá-las. A resposta, no dia 2 de outubro, está cada dia mais próxima.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo