Esporte
A era pós-Ana Moser
A demissão da ministra do Esporte deveria servir para, de uma vez por todas, a classe esportiva se organizar politicamente

A saída de Ana Moser do Ministério do Esporte continua repercutindo e gerando discussões acaloradas. A medalhista olímpica foi demitida do cargo na semana passada para que o espaço possa ser ocupado por um nome do “Centrão”.
Agora que se passaram alguns dias da notícia, é necessário tentarmos dar sentido ao ocorrido, com as justificadas reações – muitas vezes desencontradas. Perdemos, é certo – e muito –, com a saída da ministra, que havia sido uma escolha acertada do governo, que agora nos impinge esta derrota dolorosa.
É comum que, nas primeiras horas de uma crise, surjam diferentes análises da situação, de acordo com a qualidade das informações que se tenha e até mesmo conforme o perfil emocional de cada interessado.
É, porém, necessário que tentemos nos aprofundar no ocorrido para, a partir da crise instalada, agir com coerência. O melhor de tudo até aqui foi a manifestação de quem foi, no primeiro momento, a mais diretamente prejudicada: a própria ministra. Ana Moser acabou por demonstrar, definitivamente, o merecimento de sua escolha para a pasta do Esporte.
Embora tenha comparado sua demissão à aposentadoria do vôlei, Ana colocou as coisas nos devidos lugares – ponderando tratar-se de “jogo político – e disse que continuará trabalhando pelo esporte em todas as frentes possíveis. Esta recente manobra política na área do esporte deve servir para orientar os nossos passos a serem seguidos na política nacional como um todo.
Há menos de um mês, neste mesmo espaço, sem maior conhecimento, procurei esclarecer a importância do esporte na sociedade moderna – importância que foi amplificada com o avanço das comunicações e das transmissões, e com o aumento dos valores envolvidos em várias modalidades.
Poucos dias depois da demissão da ministra, voltei a pensar no assunto enquanto participava de um encontro em comemoração aos 35 anos do Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro da Mangueira – o Camp Mangueira –, exitoso projeto de responsabilidade social da famosa escola de samba.
Entre os amigos que lá estavam, a maioria deles de vascaínos que discutiam intensamente a política do clube, conversei com um que já atuou muito em Brasília, sobre a situação da ministra.
Embora soubesse da ganância e da “goela grande” do “Centrão” pelos cargos mais rendosos, eu não sabia da fragilidade do cargo, muito bem exposta por esse amigo. A pasta era, no fim, umas das menos sensíveis entre as que podiam ser mexidas.
E é nesse ponto que reside o tema que quero trazer: a carência de representatividade política coletiva dos esportistas, algo que sempre se mostrou difícil e tem, ao longo dos anos, servido de desculpa para a utilização da pasta com fins políticos.
Mas, como se diz, a necessidade cria a ocasião. A primeira providência, a meu ver, seria juntar um Conselho de representantes da sociedade civil comprometidos com o esporte. Esse grupo poderia, de cara, ser encabeçado pela própria Ana. O esporte é, afinal de contas, um componente central da nossa sociedade.
Embora não haja essa atuação coletiva bem estruturada, sempre tivemos companheiros destacados e com atuação política, desde os tempos da sindicalização, como o ex-goleiro palmeirense Oberdan Cattani e outros de grande influência, como Zico, Pelé e Sócrates, só para falar do futebol. Não podemos, obviamente, esquecer as combativas meninas do vôlei – apenas para citar alguns outros.
O primeiro passo, agora, é fiscalizar intensamente a atuação dos novos ocupantes do Ministério do Esporte. •
Publicado na edição n° 1277 de CartaCapital, em 20 de setembro de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A era pós-Ana Moser’
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