Opinião

A busca pelo apoio dos EUA, a exemplo de Israel, é uma constante por parte do fascismo nacional

A admiração nativa pelo sistema de controle socioeconômico criado por Israel passa também pela escuta e pela espionagem engendradas por aquela nação

Visão aérea da cidade de Al-Zahra, no sul da Faixa de Gaza, em 20 de outubro de 2023. Foto: Belal Alsabbagh/AFP
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“Não existe nada que você saiba hoje que não tenha aprendido antes, sendo aprendiz ou aluno/a. É preciso compreender que, na vida, para se converter em um mestre, antes terá de ser um humilde aprendiz” – Marco Aurélio

Cada vez fica mais claro ser o racismo o elo entre a extrema-direita brasileira e a israelense.

Em Israel, a segregação dos estrangeiros é onipresente, não apenas na prática, mas também na legislação, que ampara legal (embora ilegitimamente) aquelas práticas segregacionistas.

Com efeito, a moldura política do Estado sionista é a mais ambicionada pela direita brasileira: uma falsa democracia, encobrindo um sistema racista que relegue os afrodescendentes às posições subalternas, sendo social e economicamente explorados pelas classes mais altas, notoriamente brancas (ou que assim se creem).

A admiração nativa pelo sistema de controle socioeconômico criado por Israel passa também pela escuta e pela espionagem engendradas por aquela nação, haja vista as compras efetuadas pela ditadura local, durante o governo genocida.

A busca pelo apoio externo dos Estados Unidos da América, a exemplo de Israel, também é uma constante por parte do fascismo nacional.

Provavelmente, se trata de mais um desejo de onipotência, parte daquela ideologia extremista, que faz com que as pessoas adoentadas pelo nazi-fascismo desejem o suicídio, sendo elas, então, as que decidem sobre a própria morte, no caso, aliando-se a uma potência nuclear em franca decadência.

De fato, Israel só conseguiu perpetuar o longo genocídio contra os palestinos graças ao apoio irrestrito dos EUA.
Mesmo em meio ao conflito que pode levar a uma guerra mundial, Israel se permitiu bombardear os aeroportos de um de seus principais vizinhos, a Síria, danificando seriamente os aeroportos de Damasco e Aleppo.

Contemporaneamente, o secretário de Defesa dos EUA permitiu-se advertir o Irã para que não escalasse a guerra.

Quem está escalando o conflito, cara pálida?

Sobre essa agressão totalmente ilegal do ponto de vista do direito internacional, silêncio cúmplice, criminoso, por parte da mídia ocidental – nem vale a pena mencionar a local, mero apêndice defasado das antigas metrópoles.

E como vão mal os órgãos de imprensa do Norte!

Desde a guerra na Ucrânia, vêm-se tornando meros instrumentos de propaganda.

Ainda não chegaram a ser máquinas de produção de fake news, como Israel, mas tampouco estão distantes daquilo.

O caso das eleições na Argentina é emblemático.

Ambas as cadeias de televisão, estatais, da Inglaterra e da França, BBC e France 24 Heures, davam o candidato da extrema-direita, Milei, como franco favorito, mesmo quando as pesquisas de opinião já indicavam o contrário.

Na rede inglesa, o constrangimento da parcialidade ocorreu ao vivo: enquanto o locutor de Londres repetia aquele falso favoritismo, a correspondente local, assustada, dizia “não, não, não”, provavelmente sem saber que já estava no ar e com o microfone aberto.

Segundo relatos da imprensa, a parcialidade na cobertura da guerra no Oriente Médio foi tal por parte da BBC que toda a equipe na Jordânia teria cogitado demissão.

Essa lacuna manipulatória será difícil de ser colmada, após o final das guerras em curso.

A parcialidade atingiu níveis inimagináveis, tendo a única virtude de escancarar a opção das elites internacionais pelo fascismo – e seus instrumentos de criação de hegemonia – como historicamente fizeram, haja vista o apoio irrestrito que, a seu tempo, deram a Hitler e Mussolini.

“O lobo perde o pelo, mas não a pele”, diriam minhas avós.

Já vai longe quando a abertura de espírito fazia aparições – mesmo que fugazes – no hemisfério setentrional, inclusive entre os judeus cultos.

Em Oppenheimer – o triunfo e a tragédia do Prometeu americano (editora Intrínseca), Kai Bird e Martin Sherwin relatam que o criador da bomba atômica “adorava discutir…sobre os méritos…de Dostoiévski e Tolstói”. Segundo eles, o físico teria dito: “Dostoiévski é superior. Ele alcança a alma atormentada do homem.”

Em retrospectiva, os autores recordam: “Em 1921, ano em que Robert [Oppenheimer] se graduou no ensino médio pela Escola de Cultura Ética, Adler exortava seus alunos a desenvolverem a ‘imaginação ética’, para ver ‘as coisas não como elas são, mas como poderiam ser.”

Antecipando-se à sequência quase secular de conflitos que surgiriam na Terra Santa e o apoio criminoso de seu país, os EUA, a Israel, Oppenheimer refletiu: “Nós parecemos saber, e voltar repetidamente a esse conhecimento, que os propósitos de nosso país no campo da política externa não podem, de modo real ou duradouro, ser alcançados por meio da coerção.”

Os autores complementam: “…ele advogava uma ‘mente aberta’ como componente essencial para uma sociedade aberta.”

Quão distante estamos desse ideal!

Fala-se tanto em liberdade, mas de qual liberdade estamos falando?

Vivemos em sociedades intoxicadas pela repressão, tão perfeita que já introjetada, na forma de alter-egos hipertrofiados.

A censura deixou de ser necessária, pois substituída pela autocensura, forma mais eficaz – porém terrível – de repressão, pois destrói o próprio cerne, a criatividade e a alma humanas, em última instância.

O dilúvio das drogas não é consequência dessa necessidade de apagamento, ao menos temporário, desse horrível cativeiro interno?

Daí a instrumentalizar as religiões foi um passo, como ocorreu no Brasil, principalmente com relação aos cristãos conservadores, inclusive neopentecostais, e a Israel mítica.

Hora de liberdade e claridade, verdadeiras.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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