Economia

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A arrancada da economia

O momento é propício para Lula recuperar pontos perdidos nas pesquisas de avaliação do governo, mas também é preciso melhorar o desempenho político

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Uma combinação de fatores indica que a economia brasileira está no início de um processo de crescimento. Com isso, surgem sinais de melhora das expectativas nas diversas camadas sociais. As mais afetadas, aquelas que sofrem os impactos do desemprego e da baixa renda, poderão ter uma significativa melhora das condições de vida. O consumo das famílias, hoje bastante deprimido, tende a melhorar ainda no segundo semestre. Os setores econômicos, por sua vez, começam a perceber que este é um momento para a retomada dos investimentos.

O momento é propício também para que o governo melhore o seu desempenho e recupere os quatro pontos perdidos na última rodada de sondagens do Ipec. Com efeito, a terceira pesquisa do instituto sobre a avaliação do governo mostra que, de março a junho, a avaliação positiva caiu de 41% a 37%, ao passo que a percepção negativa subiu de 24% para 28%. Parte dessas perdas pode ser debitada a erros evitáveis cometidos pelo governo e pelo presidente Lula.

Se a retomada da economia oferece uma oportunidade para Lula melhorar seu desempenho, é preciso ponderar que isso não ocorre de forma automática. O governo precisa melhorar seu desempenho político-administrativo, a sua comunicação com a sociedade e as suas iniciativas com políticas públicas inovadoras na economia, nas áreas sociais como educação e saúde, além de promover mudanças do paradigma energético e produtivo, orientadas pelos princípios da sustentabilidade.

O cenário econômico mostra uma viragem de chave, começando pelo surpreendente crescimento do PIB acima do esperado, puxado pelo agronegócio. Se é verdade que esse desempenho não se deve ao consumo das famílias, o fato é que ele ajuda a melhorar as contas externas, tanto a conta corrente quanto a balança comercial. A percepção internacional do crescimento da economia brasileira deverá proporcionar também uma retomada mais forte do Investimento Estrangeiro Direto.

Um segundo fator que favorece a virada de chave rumo à retomada do crescimento se relaciona ao binômio taxa de juros e inflação. A inflação está com tendência de baixa. Deverá continuar com essa tendência também em 2024, para quando se projeta uma inflação de 4%. Com isso, o Banco Central, que adotou uma dura política de juros altos, sinaliza que a partir do segundo semestre haverá o início de um afrouxamento da política monetária. A queda da taxa de juros produzirá uma inequívoca melhora nos investimentos e no consumo.

O terceiro fator que favorece a melhora do cenário econômico diz respeito à aprovação da nova política fiscal. O marco aprovado pode ter algumas insuficiências, mas o fato é que ele afastou o horizonte de imprevisibilidade e os temores de que o governo viesse a promover um descontrole fiscal, com o aumento da dívida pública. As travas que ele estabeleceu permitem um equilíbrio fiscal sem que os gastos com os programas sociais fiquem deprimidos ou inviabilizados. Ao criar esta previsibilidade com as contas públicas, governo e Congresso proporcionaram maior segurança para investir nas atividades produtivas.

Por fim, a série de programas sociais restabelecidos pelo governo também contribuirá para o avanço da economia. Destaque-se o Bolsa Família, a Farmácia Popular, o Minha Casa Minha Vida, a fórmula de reajuste do Salário Mínimo, e o Desenrola, que está para ser anunciado. Além de proporcionarem um mínimo de bem-estar aos setores mais aflitos e necessitados, esses programas têm o mérito de estimular a economia.

O bônus para a compra de carros novos, embora também possa incentivar a produção no setor automobilístico, é duvidoso no aspecto ambiental e social, por estimular uma matriz de carbono e por ser regressivo do ponto de vista socioeconômico.

O governo vem falando da ­necessidade de reindustrialização do País, o que é correto. Mas falta especificar o programa e a natureza dessa reindustrialização. Se o governo optar pelos incentivos a setores específicos e poluentes, como já se fez no passado, optará por um caminho errado. Esse processo deve conectar-se com a inovação tecnológica e com o paradigma da mudança energética. Precisa estar conjugado com o conhecimento e com as novas fases da revolução tecnológica, imbricadas com a era digital, com a robótica e com a inteligência artificial. Há espaços e estratégias para que essas inovações, irreversíveis, se combinem com a proteção de empregos e com o estímulo de novas atividades ocupacionais.

Não podemos depender apenas de ­commodities e do agronegócio. Se estes setores salvaram a economia do País muitas vezes, é preciso reconhecer que eles são insuficientes para tornar o Brasil um país moderno, desenvolvido, socialmente justo e ambientalmente sustentável. •

Publicado na edição n° 1264 de CartaCapital, em 21 de junho de 2023.

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