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Xenófobo e sexista, “Trump colombiano” é fruto de “cultura retrógrada”, diz especialista sobre candidato à presidência

“Algo que deve nos surpreender é como essas candidaturas captam uma população à qual eles são abertamente ofensivos, como as classes trabalhadoras ou as mulheres”, questiona o especialista

Rodolfo Hernandez: o concorrente de Petro, até então pouco conhecido, conta com uma série de escândalos em sua vida política. Foto: Schneyder MENDOZA / AFP
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Para especialista colombiano, o candidato à presidência da Colômbia, Rodolfo Hernández, que chegou em segundo lugar no primeiro turno e concorre com o esquerdista Gustavo Petro, representa o patriarcado e “uma maneira atrasada de administrar o país”. Mas, ao mesmo tempo, ele acredita não ser surpreendente que candidatos assim façam sucesso na Colômbia, ou nos Estados Unidos.

Independente dos resultados da eleição presidencial na Colômbia, Gustavo Petro, do partido Pacto Histórico, já entrou para a história do país: foi o primeiro candidato de esquerda a conseguir a maior quantidade de votos no primeiro turno, em 29 de maio. Apesar disso, quem causou surpresa na última semana não foi o senador e ex-guerrilheiro, mas o segundo colocado, o “outsider” Rodolfo Hernández, ex-prefeito de Bucaramanga, cidade de pouco mais de meio milhão de habitantes, no oeste da Colômbia.

O concorrente de Petro, até então pouco conhecido, conta com uma série de escândalos em sua vida política. Figura controvertida, além de ser abertamente xenófobo e sexista, conta vantagem por ter se transformado em um dos homens mais ricos da região cobrando de pessoas e torturando seus opositores. O “Trump colombiano”, como é chamado, também é investigado pela Justiça colombiana por corrupção.

Apesar do perfil nada lisonjeiro, ele conseguiu uma quantidade importante de votos no primeiro turno das eleições e pode até vencer seu rival no segundo turno. De acordo com Camilo Umaña, advogado especialista em direitos humanos da Universidade Externado da Colômbia, entrevistado pela RFI, Hernández encarna, na verdade, um sistema cultural e não político.

Ele encarna o patriarcado, as formas de visão da exploração, o êxito rápido, uma cultura muito machista, e um pouco atrasada, de administrar o país, como se fosse um tipo de empreendimento ou de empresa. Então, não é estranho que em um país como a Colômbia estas candidaturas tenham sucesso, como não é estranho que nos Estados Unidos, uma candidatura parecida com esta (a de Donald Trump) tenha sucesso”, analisa o advogado.

“Algo que deve nos surpreender mais é como essas candidaturas captam uma população à qual eles são abertamente ofensivos, como as classes trabalhadoras ou as mulheres”, questiona Umaña.

Alianças

Hernández também encarna o “antissitema”, simplesmente porque não usa os códigos da política tradicional ou ainda não se comprometeu com grupos políticos. “Mas seu exercício de governo implicará em alianças, implícitas ou explícitas, com este tipo de organizações e movimentos”, afirma o especialista.

“Aliás, ele nem lançou candidaturas para o Congresso, ou seja, teoricamente governaria sem o Parlamento. Mas, na verdade, vai governar com um Congresso que está disposto a governar com quem seja, menos com Petro”, afirma.

Umaña diz que é necessário considerar que Petro ganhou o primeiro turno com uma boa votação, mas Hernández vai continuar ganhando eleitores. “As eleições não estão decididas e Gustavo Petro ganhou por uma margem muito ampla, é o candidato preferido dos cidadãos, com 40% dos votos. Mas, ao ritmo das alianças, ele não vai poder fazer boas uniões para capitalizar uma quantidade de votos que o permita crescer muito mais”, analisa.

“Tudo dependerá, então, se haverá uma soma aritmética dos votos da direita com os votos de Hernández. E esta soma nem sempre acontece de forma exatamente aritmética”, diz.

“Também dependerá da capacidade de Petro de aumentar seus votos, com, por exemplo, eleitores do Partido Verde e, sobretudo, a abstenção. Seria pouco, mas possível”, analisa. “Isso poderia fazer com que a briga no segundo turno seja muito mais apertada”, diz.

Fraude

A campanha eleitoral foi marcada por denúncias de fraude de ambos os lados. Além disso, muitas irregularidades foram observadas, como empresários que ameaçaram trabalhadores de serem despedidos se votassem no candidato de esquerda.

Mas, para o analista, o pior cenário seria que que um dos candidatos alegasse que houve fraude. “Acredito que aí podemos ficar em um processo social muito complexo, com instituições ainda mais debilitadas e o mundo da política absolutamente parado em torno desta retórica”, diz.

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