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Vítimas de ‘esterilizações forçadas’ no Peru denunciam novos atrasos em julgamento

Justiça analisa caso de milhares de mulheres que foram submetidas a cirurgias de ligadura de trompas durante o governo de Alberto Fujimori

Vítimas de ‘esterilizações forçadas’ no Peru denunciam novos atrasos em julgamento
Vítimas de ‘esterilizações forçadas’ no Peru denunciam novos atrasos em julgamento
Mulheres peruanas se mobilizam por punição a responsáveis pela política de violações de gênero no governo de Alberto Fujimori. Foto: Somos 2074
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Mulheres vítimas de “esterilizações forçadas” entre 1996 e 2000 no Peru, sob um programa do então presidente Alberto Fujimori, denunciaram nesta quarta-feira 17 novos obstáculos para o avanço deste emblemático processo, devido à alteração repentina do juiz responsável.

“Desde o começo somos maltratados”, disse Victoria Vigo, de 59 anos, esterilizada em Piura em 1996, uma das 1.317 demandantes nesta ação judicial iniciada em 2002, que já arquivada e reaberta várias vezes.

Quando as vítimas esperavam que o juiz Rafael Martínez Vargas emitisse seu veredicto preliminar sobre levar ou não os sete réus a julgamento criminal, entre eles Fujimori, o Judiciário surpreendentemente o retirou do caso e nomeou em seu lugar o juiz Littman Ramírez Delgado.

“Só queremos que esta tortura acabe”, disse a advogada María Ysabel Cedano, da ONG Demus, que deu uma entrevista coletiva para denunciar os novos atrasos junto com Victoria Vigo e a secretária executiva da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, Jennie Dador.

Estima-se que cerca de 270 mil peruanas pobres, muitas delas indígenas que não falavam espanhol, foram submetidas a cirurgias de ligadura de trompas, como parte do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planejamento Familiar, implementado por Fujimori em seus últimos quatro anos no poder.

O objetivo era reduzir a taxa de natalidade para impulsionar o desenvolvimento econômico. Nessas cirurgias, morreram 18 mulheres, segundo dados oficiais.

O promotor Pablo Espinoza havia apresentado as acusações ao tribunal em março. E desde setembro, ao longo de oito audiências, o juiz Martínez vinha traçando os fundamentos da tão esperada resolução.

Agora, demandantes, advogados e ativistas temem que a mudança de juiz represente um atraso de vários meses. “Um juiz não pode resolver algo que não conhece”, apontou Cedano.

Fujimori e seus colaboradores são denunciados como “autores indiretos de danos à vida e à saúde, lesões graves e violações graves dos direitos humanos”.

“Eles brincaram com as vidas e a saúde reprodutiva das pessoas, sem se importarem com os danos”, afirmou o promotor Espinoza em março.

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