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Venezuela e Guiana abrem ‘canais de comunicação’ em meio a tensões por disputa territorial

Venezuela afirma que o Essequibo faz parte de seu território, conforme eram as fronteiras em 1777

Vista aérea do rio Esequibo correndo em um trecho da floresta amazônica na região de Potaro-Siparuni, na Guiana. Foto: Patrick Fort/AFP
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Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, concordaram, nesta quarta-feira 6, em manter “canais de comunicação” em meio a uma escalada de tensões pelo Essequibo, um território rico em petróleo objeto de uma disputa centenária entre os vizinhos, anunciou o governo venezuelano em um comunicado.

“A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, destacou.

Este contato ocorre após um referendo consultivo realizado no domingo na Venezuela, no qual mais de 95% dos eleitores que participaram aprovaram a criação de uma província venezuelana no Essequibo e a concessão da cidadania aos 125.000 habitantes da região, administrada por Georgetown.

“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na terça-feira que a empresa estatal de petróleo venezuelana PDVSA concederá licenças para exploração de petróleo, gás e minerais nesta região de 160.000 km² e criou uma nova zona militar a cerca de 100 km da fronteira.

Seu homólogo da Guiana, Irfaan Ali, classificou esses anúncios como “uma ameaça direta” e advertiu que levará a situação ao Conselho de Segurança da ONU e que suas Forças Armadas estão em “alerta” e em contato com “parceiros” como os Estados Unidos.

A Venezuela afirma que o Essequibo faz parte de seu território, conforme eram as fronteiras em 1777, quando era colônia da Espanha, e recorre ao acordo de Genebra, assinado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabeleceu as bases para uma solução negociada e anulou uma decisão de 1899, que definiu os limites atuais.

A Guiana defende essa decisão e pede que seja ratificada pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição Caracas não reconhece.

Mariano de Alba, assessor do Crisis Group, considera que Maduro buscava “aumentar os custos, aumentar o risco e de alguma forma gerar uma incerteza” que pressionasse o governo da Guiana a negociar.

“Principalmente a curto prazo, a retórica do confronto vai continuar, mas ao mesmo tempo considero improvável um conflito armado”, comentou o especialista à AFP, embora tenha enfatizado que “qualquer erro” neste contexto poderia provocar uma rápida escalada.

“Luz verde” para o Comando Sul

Os contatos entre os ministros Gil e Todd, anunciados pela Venezuela, contrastam com um duro comunicado lançado cinco horas antes por Caracas, acusando Ali de dar “luz verde” para a implementação de bases militares dos Estados Unidos no Essequibo.

“De maneira irresponsável, ele deu luz verde à presença do Comando Sul dos Estados Unidos no território da Guiana Essequiba, sobre o qual a Guiana mantém uma ocupação”, indicou o texto anterior.

“A Venezuela denuncia perante a comunidade internacional, e especialmente perante a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a atitude imprudente da Guiana, que, agindo sob o comando da transnacional americana Exxon Mobil, está abrindo a possibilidade de instalação de bases militares por uma potência imperial”, acrescentou o documento.

A disputa territorial se intensificou desde a descoberta, em 2015, de ricos depósitos de petróleo nas águas do Essequibo, deixando a Guiana com as maiores reservas per capita do mundo.

Ali advertiu que levará a situação ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que “tome as medidas apropriadas” e que estabeleceu comunicação com “parceiros bilaterais” como Estados Unidos, Brasil, Reino Unido e França.

“A Força de Defesa da Guiana está em alerta máximo e entrou em contato com seus homólogos militares, incluindo o Comando Sul dos Estados Unidos”, acrescentou.

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