União Europeia e AstraZeneca travam queda de braço pelas vacinas contra a Covid-19

A comissária de Saúde do bloco afirma que Reino Unido está sendo beneficiado com doses que deveriam estar sendo entregues à UE

O laboratório AstraZeneca. Foto: Paul ELLIS/AFP

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Enquanto o mundo supera os 100 milhões de casos da Covid-19, a União Europeia e o laboratório farmacêutico AstraZeneca intensificam a disputa pelo fornecimento do imunizante desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford. A comissária de Saúde do bloco afirma que Reino Unido está sendo beneficiado com doses da vacina contra o novo coronavírus que deveriam estar sendo entregues à UE. Com isso, o calendário de imunização do bloco deve sofrer atraso.

A última queda de braço entre a comissária de Saúde da UE, Stella Kyriakides, e o CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, terminou em clima tenso e sem resultados positivos. “Nós lamentamos que a contínua falta de clareza sobre o cronograma de entrega e pedimos um plano claro da AstraZeneca para uma entrega rápida das doses de vacinas que reservamos para o primeiro trimestre deste ano”, declarou a comissária na noite de quarta-feira 27, após uma reunião com a inesperada presença de Soriot.

O encontro aconteceu um dia após Bruxelas ameaçar mover uma ação judicial contra a empresa farmacêutica. Kyriakides pediu para que a AstraZeneca cumpra suas obrigações contratuais, sociais e morais. “Estamos em uma pandemia. Perdemos pessoas todos os dias. Não são números. Não são estatísticas. São pessoas com famílias, amigos e colegas que também são afetados”, ressaltou.

UE x AstraZeneca

Apesar da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 aguardar a autorização da Agência Europeia de Medicamentos na próxima sexta-feira 29, o imunizante já havia sido comprado antecipadamente pela Comissão Europeia. No total, são 400 milhões de doses, no valor de € 336 milhões.


A expectativa era que 80 milhões dessas doses fossem entregues até o final de março. Porém, a empresa anglo-sueca informou que só poderá fornecer 31 milhões de doses neste período e antecipou um corte de 50% no segundo trimestre.

Bruxelas não aceita os argumentos da AstraZeneca e cogita restringir a exportação das vacinas contra a Covid-19 produzidas pelas empresas baseadas na União Europeia. Esta questão deve ser decidida até o final desta semana. Das quatro unidades do laboratório que figuram no contrato como locais de produção da vacina para o bloco europeu, uma está na cidade de Puurs, na Bélgica, outra na Alemanha e as demais no Reino Unido.

Calendário de vacinação comprometido

Com o atraso da AstraZeneca, a verdade é que a União Europeia não terá a quantidade de doses suficientes para cumprir seu calendário de imunização no ritmo que havia previsto. Segundo o plano da Comissão Europeia, 70% da população do bloco deveria estar vacinada contra o novo coronavírus até o final do verão, no próximo mês de agosto.

O CEO da AstraZeneca rejeita a acusação de que sua empresa está desviando as doses da vacina e priorizando o Reino Unido. Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, Soriot explicou que os prazos de entrega das vacinas ao Reino Unido estão sendo cumpridos porque o contrato com os britânicos foi assinado três meses antes do documento com a UE. Ele atribuiu o atraso a um problema de produção na unidade da Bélgica. A Comissão Europeia criticou a farmacêutica pelos seus argumentos “insatisfatórios”.

Atraso na entrega da vacina provoca frustração na UE

Os problemas de fornecimento das doses das vacinas têm provocado muita frustração e atrasos na imunização de vários países do bloco.

Há duas semanas, a Pfizer-BioNTech afirmou que teria que reduzir temporariamente sua capacidade de produção. Com isso, admitiu que atrasaria um mês na distribuição de sua vacina.

A UE, que fechou contrato com oito laboratórios farmacêuticos, injetou € 2,7 bilhões no desenvolvimento e na produção de vacinas contra o novo coronavírus. O imunizante da AstraZeneca é o mais barato, o mais fácil de transportar e se conserva em temperaturas de um refrigerador tradicional, entre 2ºC e 8ºC, o que levou vários governos europeus a preferir esta vacina ao invés dos produtos da Pfizer-BioNTech e da Moderna. Os dois primeiros imunizantes a chegarem ao mercado europeu, que utilizam a nova tecnologia do RNA mensageiro, requerem armazenamento em temperaturas polares, a -70°C e -20°C, respectivamente.

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